Uma salva de vaias para o Pan

Os Jogos Pan-americanos acabam (finalmente) neste final de semana – ou seja, ainda dá tempo do Brasil conhecer algum outro grande nome que vá se sobressair na competição. Candidatos não faltam: Thiago Pereira, Marta, Hugo Hoyama, Janeth, Marcelinho… Independente dos destaques esportivos, eu me arrisco a dizer que o grande nome do Pan é a vaia.

Nunca se falou tanto nesse tipo de manifestação quanto nas últimas duas semanas. A começar, é bom lembrar, com a cerimônia do Maracanã – estádio onde os apupos surgem até em minuto de silêncio, como dizia Nelson Rodrigues. Logo nos primeiros instantes, vaiaram o presidente (eu também vaiaria); vaiaram os norte-americanos (talvez um ou dois tenham gritado “yankees go home”); e vaiaram as delegações da Venezuela e da Bolívia (hmmm… precisava?). Enfim, como elas se concentraram no efelenfíssimo, o assunto ganhou conotação política – especula-se até hoje se César Maia teria combinado com meia dúzia de três ou quatro, assim as dezenas de milhares de espectadores pegaram o embalo. Pode ser.

Começaram os eventos e as vaias não diminuiram. Pelo contrário, ficaram cada vez mais frequentes, em várias praças esportivas, antes, durante e depois das provas. O primeiro caso com alguma repercussão pós-Lula veio na ginástica artística: enquanto o sistema de som da arena multiuso, em Jacarepaguá, pedia aplausos dos espectadores para todos os atletas, Oscar Schmidt, ex-jogador, comentarista e torcedor de carteirinha, incentivava as vaias aos norte-americanos. Protagonizou ainda uma das frases marcantes do Pan: “Vai escorregar, chileno. Vai cair!”, dizia o Mão Santa ao ginasta Enrique Gonzalez.

Tem gente que é contra – “Adoro torcida, principalmente os brasileiros, dão muita energia. Só não gostei das vaias. Os adversários estão aqui para fazer a parte deles. Ginástica não precisa disso. Não é um jogo de futebol, vôlei ou basquete. E se você torce contra, algum dia volta para você”, alfinetou Laís Souza, após o turbilhão de manifestações anti-americanas.

Ok, em uma primeira análise, é uma questão de costume: brasileiros não estão acostumados a torcer em eventos de ginástica, então podemos deixar passar. Também é assim quando o país recebe etapas da Copa Davis de tênis: assim como na ginástica, o atleta precisa de concentração. Mas o público, muito longe de ser os comportadinhos espectadores de Wimbledon, perturbam o tempo todo, inclusive na hora do saque ou em momentos decisivos de disputa.

Mas enfim. A polêmica aumentou no domingo seguinte, graças a dois eventos considerados lamentáveis pela organização. O primeiro não teve nenhuma influência da torcida, apesar da rivalidade forte entre brasileiros e argentinos: a briga generalizada entre jogadores na final masculina no handebol, vencida pelo Brasil, aos olhos de Mário Vázquez Raña, presidente da Odepa. O segundo, no judô, começou com vaias aos juízes, copos e papéis atirados na tribuna cubana e nova confusão. Cuba, que estava ali quietinha, entrou no rol de países hostilizados pelos torcedores.

“Vamos aplaudir todos os atletas. Eles se esforçaram muito para chegar até aqui nesta disputa”, insistia ainda mais o locutor do Engenhão, durante as primeiras provas de atletismo. Não adiantou. Enquanto Fabiana Murer conquistava a medalha de ouro no salto com vara, a norte-americana April Steiner era homenageada com uma salva de vaias a cada tentativa. Havia aplausos também, é claro. Sempre que um estrangeiro falhava.

Mesmo com a redução significativa, as manifestações ganhavam comentários pesados. Todos atrelados à imagem transmitida lá fora: a do brasileiro que não tem educação. “Essa gente que usa tênis Nike, come no McDonalds, veste uniforme da NBA e curte Black Eyed Peas, mas que na hora da confraternização dos povos, só sabe vaiar atletas que nada tem a ver com o governo Bush”, trata-se do discurso padrão cutucando a grande maioria, que no embalo das vaias, é taxado (com alguma razão) de ignorante.

Mas será que é para tanto? – Nem tanto para o lado do “povinho despreparado”, nem para o da “liberdade total de expressão”. O que deve ser levado em conta sempre é: vaiar por quê? De fato, não acho inteligente contribuir para a falta de equilíbrio psicológico de ginastas, tenistas, saltadores ou até cavaleiros – aliás, dava para ouvir claramente os inúmeros “shhh” durante a passagem de César Almeida nos obstáculos do hipismo, sinal de respeito. Mexer com o brio de atletas em disputas individuais realmente é complicado. Soa como ofensa, maldade mesmo.

Mas nas modalidades coletivas, onde as vaias se espalham pela equipe toda, elas são perfeitamente aceitáveis, e fazem parte do espetáculo. Quer dizer, na maioria dos casos. Hostilizar o Bernardinho pelo corte do melhor jogador do mundo por um motivo besta é compreensível. Mas vaiar o Bruninho Resende só por ele ser filho do treinador, respingando em uma equipe que já mostrou ao país sua capacidade vencedora, é um negócio esquisito.

Agora, normalmente, a reação típica de qualquer estádio de futebol pode ser levada a qualquer confronto. Responda francamente: imagine você no Maracanãzinho, assistindo a Brasil x Cuba, pelo vôlei feminino. As adversárias, acostumadas a lidar com pressão da torcida, provocam não só as atletas brasileiras, como também a própria arquibancada. O que fazer? Aplaudir? Respeitar o adversário? Uma banana. Elas merecem a maior quantidade de “uhhh” possível.

Você pode achar esse papo de “rivalidade” a maior bobagem, mas admita: ela faz parte do esporte. E quem busca excelência técnica, precisa ir atrás da excelência psicológica. Nas palavras da Carol: “é divertido ver jogos altamente competitivos, repletos de provocações, decisões polêmicas da arbitragem, torcida xingando e nervos à flor da pele que não raramente culiminam em briga”. Simples assim.

Ah, não poderia deixar passar o comentário do Fábio: “o episódio Lula no Maracanã só não foi perfeito porque faltaram as vaias ao César Maia e ao Carlos Arthur Nuzman. Aplaudir esses dois é piada, né?”. Realmente.

Comentários em blogs: ainda existem? (2)

  1. Oi André..
    tive semna pesada, e não deu pra passar aqui e curtir seus artigos.
    sabe, andei assistindo alguns jogos / atividades / modalidades esportivas, e achei a torcida normal. cara, só me incomodou na hora da corrida de 100 metros, achei sacabagem, os atletas estavam super tensos.
    desculpa,mas acho ridiculo dizer que somos sem educação e que não temos hábito de receber outras modalidades esportivas que não as de equipe.

    Achei que o publico compareceu bacana, apoiou, e deu ” o melhor de si”…rsss
    porra, que mania de malhar a gente que todo muundo tem….
    agora, quem deveria ser proibido de falar, aparecer ou mesmo existir, é o gavão bueno, pq ha anos não escuto tanta asneira com as frases e explicações e narrações dele nesse PAn!
    ps: assisti só o voley as corrida, imagine vc… tinha que mudar para o 39 em cinco minutos, pq tava foda aguentar o galvão…
    bjos

  2. Menção especial pras vaias nas competições de corrida, que foram tão altas que até confundiram alguns atletas, que não souberam se a largada valeu ou não, e aí acabaram perdendo a prova. Triste mesmo.

    E mais uma vez a gente fala: “Imagina a Copa”!

    Ah! E o Bruno Rezende é ruim mesmo, hehehe!

    Abraço!

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