Paris (França) – Imagine tudo que se pode fazer em sete cidades européias e faça uma pequena lista de coisas imperdíveis. Agora tente equacioná-la em 25 dias: perceba que sua “pequena” lista começa a tomar proporções impraticáveis.
A verdade é que cada um tem na cabeça a sua Europa, os seus pontos preferidos. Em linhas gerais, podemos dizer: equilibrar cidades totalmente novas com aqueles velhos e conhecidos recantos de aventuras anteriores é sensacional. Mas tirando o planejamento mínimo, com datas, passagens e hospedagens, o resto vem com o tempo.
Fora isso, uma viagem desse naipe exige dois bons exercícios. O primeiro deles é a paciência. Não adianta correr feito um alucinado, é impossível fazer tudo que se pretende. Se não deu pra conhecer aquele lugar dos sonhos desta vez, nada de desespero: ele não vai fugir dali, e estará esperando por você na próxima vez. Ainda melhor.
É o que acontece com Paris, certamente a cidade que exerce o maior fascínio entre todos os viajantes do mundo. Quando estive aqui em 2004, ainda não conhecia Amelie Poulain. Claro que, se tivesse ouvido falar nela antes, não perderia Sacré Coeur por nada. Agora, três anos depois, certamente vou ficar longas horas registrando tudo com minha mini DV.
O segundo exercício é um pouco mais fácil: levante todas as antenas possíveis e exerça seus sentidos, aumente seu poder de percepção. Caminhe muito, perca-se, sinta o perfume de cada local, a tonalidade das cores e da luz. Quando cansar, compre uma baguete, pastéis de nata e uma garrafa de vinho, e vá fazer um piquenique na praça. Permaneça sentado e observe a integração dos nativos com o seu espaço.
E sinta a vida que existe entre as igrejas, estádios e museus, sem pressa.
Paciencia – Eu ja devia saber, mas as vantagens de comprar bugigangas em qualquer canto pode render alguns efeitos colaterais. Logo no check-in para o trajeto entre Amsterda e Copenhague, fomos surpreendidos pela loirinha do guiche: “sinto muito, mas sua passagem permite uma franquia de apenas 15kg”. Claro que imaginava esse tipo de problema diante de companhias aereas baratissimas, mas a emocao aumentou quando tive que “encolher” minha malinha ali mesmo, sob os olhares atentos dos passageiros em Schiphol. “Paciencia”, resumiu Lello Lopes.
Esse nao foi o unico tipo de “tropeco”. Perdemos alguns centavos valiosos em trocas estranhas nas casas de cambio; andamos como nunca em longos corredores em aeroportos; encontramos quartos sem banheiro – ao contrario do que indicava nossa reserva; fomos surpreendidos em lanchonetes e restaurantes lotados ou com atendimento complicado; isso quando o horario so nos permitia um lanchinho no 7-Eleven… Sem falar na sensacao de termos feito muito pouco em relacao as horas disponiveis em cada lugar. Em todos estes momentos, Lello Lopes sintetizava o episodio em uma unica palavra: “paciencia”. Nao demorou para que a palavrinha perdesse completamente sua forca dramatica e, de tao banalizada, virasse piada interna. Paciencia.
“Eu ouvi um boato ai” – Alem de “paciencia”, outra expressao inserida em nosso vocabulario diario diz respeito a algum comentario, promessa ou qualquer evento do genero que, ao contrario do que se supunha, nao aconteceu. “Eu ouvi um boato de que a ponte do Charles era pra esse lado”. “Eu ouvi um boato de que Atenas era legal”. “Eu ouvi um boato de que deviamos descer na proxima estacao”. Coisinhas simples, a maioria diante de algumas pecas pregadas pelo destino.
Pois um dos “boatos” seria o de que, em Praga, eu compraria uma camisa de Slavia ou Sparta. Nos dois casos, os precos mais altos que o costume fizeram com que eu segurasse mais essa compra perdularia. Ao mesmo tempo, a manha que reservamos para conhecer o Strahov (o maior estadio do mundo), alem da arena do Sparta, revelou-se como o pior passeio da viagem. Isso me deixou uma impressao negativa das duas equipes. “Eu ouvi um boato de que voce ia comprar a camisa de um clube de Praga”… Verdade. Fica pra proxima viagem, paciencia.
Sonho antigo – Quando crianca, ouvia meu pai contar um grande sonho dele: acabar com todas as picunhas de familia e criar um lugar enorme, com casas grandes e confortaveis para todos seus irmaos e cunhados… Para que todos vivessem ao lado, como era em sua infancia. Mais velho, posso entender que o sonho dele nao passa de uma utopia tao (ou mais distante) do que a paz mundial. Mas quando passei pelo Kastellet, uma das mais antigas fortificacoes militares da Dinamarca, gostaria que meu pai estivesse ali comigo.
Se ignorarmos a conotacao belica dessa ilhota encrustada nas proximidades da zona portuaria, o lugar, acessivel gracas a pontes de madeira e porticos de pedra, possui algumas casas “oficiais” e um conjunto de pequenos predios, cada qual com sua utilidade. Uma enorme area gramada, intensificando o aspecto bucolico, certamente fariam brilhar os olhos do meu pai, como aconteceu comigo: “olha aqui como seria se aquele seu antigo sonho fosse real”. Enfim, ao menos meu pai vera em video. Paciencia.
E agora Faltam apenas cinco dias antes da volta para casa… Paciencia.
Ah, vá, Maitena é legal, vá…
Ah Marmota, que coisa cumplice vc escreveu…
ficar sentado em um banco de uma praça qualquer de paris e comendo baguette e tomando um vinho…
e olhar sem pressa sacre-coeur, subir as escadas sem pensar em quantos degraus faltam para chegar lá em cima…
agora, na parte da casa dos sonhos do seu pai, eu emocionei, tá???
Bjos e aproveite seus 5 dias..rss
sem pressa.
Nao da’ para cobrir todas as melhores atracoes da Europa numa viagem soh! Tem que fazer um roteiro incluindo alguns paises, e deixar o resto para uma futura viagem. Eu fui uma vez, em 1996, e inclui parte da Italia, Alemanha, Holanda, Suica e Franca. Quando meu filho estiver mais velho, quero ir pra Europa de novo, e entao vou decidir pra onde. Portugal e Espanha? Gra-Bretanha?
Puxa, que legal a viagem!!
Com seus altos e baixos, mas paciência!
Adorei a dica sobre andar e se perder, sentir os perfumes… e fazer um piquenique na rua…
É… paciência é mesmo uma virtude valiosíssima!
Pra mim seria impossível visitar todos os pontos favoritos da Europa em 25 dias.
=D
Quando eu crescer eu quero ser igual a você, hein?!
Mas com passagem pelo museu de Van Gogh.
heheheh
Adorei esse post, adoro a Amelie, adorei o sonho antigo. Ainda quero aquela minha resposta, viu?
Essa parada de poucos dias em cidades européias é complicadaço! Em Paris, eu saberia que de meu sofrimento em querer fazer tudo em três rápidos dias. Passar por tudo aquilo sem pensar na história, e nas pessoas que por ali pasaram em séculos de centro da história ocidental. Entretanto, consegui um remédio logo logo: achar que Paris não se passava de mais uma cidade e a qualquer momento poderia voltar. Então, vivi como se morasse lá. Tomava umas cervejas com meus primos e “Paciência”. Heheheh
Interessante… meu pai tem sonho semelhante. coincidência!!!
Adorei ler isso. A paciência é, sim, uma virtude. Quem não nasce com ela pode adquiri-la com o tempo. Viagens como a que vocês estão fazendo é um exercício interessante de observação, paciência e aprimoramento do poder de decisão. Quer mais?! E ainda com baguete, pastel de nata e vinho?! uau!
Seu post me lembrou: Eu preciso ir logo ver a Torre de Piza! :S Eu ouvi um boato por aí que ela está afundando e logo não será mais possível a visitação do público. Se ela afundar de vez antes de eu conseguir ver, paciência. Mas espero conseguir logo! O.o