Quer um assunto mais palpitante que monetização? Diploma!

Nas últimas semanas, a turma que adora um debate infrutífero em mesas de bar, listas de discussão e ringues de combate sacaram do coldre uma polêmica infundada (como lembra o Jorge Rocha) sobre “até que ponto é certo ou errado estabelecer certas práticas para se ganhar dinheiro escrevendo um blog”. Lógico que há questões pertinentes, mas vez ou outra eu me divirto lendo aqui e acolá algumas posturas talebãs, pregando uma única forma possível de salvar a sua honra. Como se, ao invés de apagar o incêndio, quisessem mesmo é produzir mais faísca.

Esse povo não sabe o que está perdendo. É muito fácil criar uma celeuma interminável, reunindo uma porção de gente carregada de razão. É só abrir a polêmica “até que ponto é certo ou errado permitir qualquer um fazer jornalismo sem diploma”.

Pode parecer estranho, mas enquanto muitos profissionais da área dedicam um dia inteiro ao futuro da profissão no ambiente digital, ainda se faz muita espuma em função de um assunto que certamente Gutemberg deve ter ouvido num boteco alemão há alguns séculos. A verdade é que a web amplificou o debate, questionando definições mais amplas do ofício de um jornalista. Citando Gabriela Zago: o jornalismo se define por suas técnicas e seu trabalho prático (algo que só um profissional formado pode fazer) ou pelo seu produto, a informação, independente de quem escreva (ou seja, qualquer indivíduo disposto a praticar “jornalismo cidadão”)?

Uma diferenciação clara entre as duas coisas talvez ajude a resolver essa antiga questão. Para começar, dois pitacos:

– Não é preciso diploma para escrever, e a Internet ajudou muito a democratizar as ferramentas: blogs, wikis, mecanismos baseados em ajax e com o rótulo web 2.0… Agora, propagar informação é o mesmo que fazer jornalismo? Se houver o mínimo de apuração e checagem, pode ser. Obviamente, todo mundo conhece algum picareta que decidiu virar editor de qualquer coisa e, pra isso, criou um site aí para ganhar dinheiro. Seria este um jornalista, independente do canudo?

– Pessoalmente, eu valorizo demais a formação acadêmica, e quem consegue realmente estudar (aproveitando ou não o que se vê na faculdade) torna-se diferenciado sim. Por outro lado, a maioria das pessoas que defende o diploma o faz apenas por não ter capacidade para se manter no mercado de trabalho, por alguma razão. Por isso, seguram até o fim em ultrapassadas leis trabalhistas e/ou sindicais. O que também pode ser visto para o bem ou para o mal, já que as empresas de comunicação há tempos dispensam a carteira de trabalho: diante de um freela, basta um trabalho bem feito e uma nota fiscal.

Enfim, assim como no primeiro exemplo, é possível defender sua postura (como já fizeram a Patrícia, contra, e a Ana Brambilla, a favor). E você, tem alguma análise mais profunda sobre a importância das faculdades? Acredita que, sem um curso superior (mesmo sendo na Fapone), ninguém vai te contratar? Ou simplesmente decidiu parar de estudar após se encantar com as maravilhosas oportunidades envolvendo monetização? Ah sim, temos a pergunta mais difícil: mesmo sem ter razão, é possível entrar numa discussão dessas com respeito e bom senso?

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. Bem, que a internet nos deu a possibilidade de produzir nosso próprio conteúdo é inegável, mas a questão do diploma é importante. Querendo ou não a faculdade nos coloca as normas da profissão e maneiras de aplicá-las a realidade. Por isso as profissões são regulamentadas, para poder facilitar a fiscalização dos profissionais pelos órgãos gestores (claro que isso não acontece sempre). Mas, não quer dizer que o cidadão não possa promover a disseminação da informação. Conheço muito blogueiro que não tem formação em jornalismo que escreve muito bem, como conheço muito jornalista que não escreve nada que tenha utilidade. Mas, é uma discussão muito acirrada e que não vai acabar tão cedo.

  2. Engraçado é que recebi um e-mail me criticando por colocar os anúncios do Google, e dizendo q n ia mais me visitar. Terminou me chamando de mercenário…

    Engraçado como as pessoas acham que, para defender seus pontos-de-vista, têm o direito de desrespeitar outros…

  3. Engraçado…
    Não acho que por ter um blog que vez ou outra informe alguma coisa útil ou não eu seja uma jornalista nessas ocasiões…
    Acho que ser jornalista é algo maior do que simplesmente escrever posts informativos…

    O diploma tem sim, todo o seu valor!

  4. Colaborando…

    Estamos caminhando na discussão: todas as manifestações (as respeitosas, claro!) sobre o tema são um exemplo disso. E todo o interesse da comunidade científica (vide estudos) também é. O envolvimento cada vez maior dos ‘webjornais de referencia’ com os conceitos da Web também ´prova isso.

    Mas essa discussão tem muitas e muitas arestas, é tudo complexo (lá pela visão do Morin). A possibilidade de publicação de conteúdo por qualquer pessoa ‘online’ é marco pro jornalismo (e é marco pra democracia, pra sociedade também). Muda muito, com certeza. Mas o jornalismo, enquanto legitimado pra falar da realidade (de uma, ao menos) também não perde nem um pouquinho seu espaço. Ao contrário, ele só ganha com tudo isso.

    O que acontece é que os antigos ‘marcos’ de fundação do jornalismo não dão conta de transformações tão grandes. E não é só de tecnologia que estamos falando, não! O ‘mercado’, esse bichinho medonho que governa muito nos nossos dias, também pressiona a discussão…

    Temos muito o que discutir!

    O perigo atual de deixar pra lá o diploma, na minha opinião, é que ainda não sabemos (nós, leitores) exatamente como o ‘mercadológico’ do mundo online funciona (sim, pq ele é o maior interessado na questão!): posts patrocinados, por exemplo, me chamam a atenção nesse sentido. Quando são manifestos, o problema é menor (saliento, ‘menor’), mas e quando não são!?

    Não tô falando contra o ‘não-jornalista’, tô falando de todos… Pode ter jornalista fazendo isso?! O jornal não faz com a propaganda!? É a mesma coisa?! E o ‘não-jornalista’, pode fazer?!

    Como eu disse, a discussão vai indo…

    🙂

  5. Tenho cá pra mim que a questão não é diploma, curso superior ou inferior, o caraiaquatro. A parada tá em torno da formação, que envolve muito mais do que aulas, provas e trabalhos três vezes no semestre (aliás metade do curso de comunicação social, p. ex., te emburrece pq tira tempo precioso só p fazer uns trabalhos nadaver, tempo que tu podia estar conhecendo e lendo coisas realmente coerentes). o grande lance aí, eu penso, é pensar no fazer jornalístico a partir do seu palco de “exposição”, digamos, do campo midiático – espaço de mediação dos campos sociais (pow!).

    cara penso que um jornalista, assim como um publicitário, um relações públicas et al deveriam ser além de técnicos cientistas sociais, tipo, no sentido de saber interpretar os fenômenos sociais sem ser superficial, parar no fato e pronto, saber realmente o que é acontecimento e tempo jornalístico, o que é produzir informação, saber gerenciá-la, conduzi-la, transmiti-la sem amarras (nem por isso sem cuidado).

    Enfim. Tenho que defender uma tal de monografia pra ser uma relações públicas, fazer uma porra de um estagio curricular sem receber grana. Isso daí num garante bom texto nao, pow. E monografia é um saco, eu quero estar por aí comentando bobagem em blog com texto de alguns jornalistas bons e muitos não-jornalistas ótimos, e o tempo? monografia? diploma? aaaaaaaaaaaah!

  6. Talvez a questão não seja tanto o diploma em si, e sim uma possível mudança no papel do jornalista. Como cada vez mais há outras pessoas produzindo textos de qualidade (embora a maioria só se preocupe com o lucro desmesurado e estratégias de SEO), talvez ao jornalista poderia caber a tarefa de selecionar, hierarquizar, organizar todo esse caos informacional – e também conferir fatos, checar informações. Claro que não vai ser um diploma que vai automaticamente coferir ao jornalista o poder e a capacidade de separar informações… mas é um diferencial importante, que vem acompanhado de toda uma ética profissional a ser seguida 🙂

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