Eles compõem uma das raças que mais sofrem com o preconceito nas grandes metrópoles. Especialmente em São Paulo, onde o trânsito é capaz de transformar padres em guerrilheiros. Os motociclistas paulistanos acreditam que estão com a razão ao circular entre os carros, corredor que não existe no Código de Trânsito mas é institucionalizado para o bem de quem contrata o serviço dos chamados “motoboys”. Os motoristas, como sempre, também são os donos da verdade: motos devem ocupar o mesmo lugar dos carros, tá escrito em algum lugar dessa lei.
Num mundo paralelo, onde todas as coisas funcionam e os homens são felizes e compreensivos, um simples acordo acabaria com a polêmica. Eu, motorista, me encarrego de enxergar você no retrovisor e fazer questão de abrir caminho. E você, motoqueiro, desiste da buzina, dos socos no retrovisor e dos chutes na lataria. Obviamente, isso não funciona. A guerra declarada entre os dois lados arrebenta do lado mais fraco: pelo menos um motociclista morre na capital paulista, todos os dias.
Nesse ambiente sem lei, motoboys desconsideram relações humanas e, em bando, intimidam qualquer motorista que desrespeite seu código interno. Do outro lado, sanguinolentos lambem os beiços ao avistarem um pobre coitado estendido na calçada com sua moto estraçalhada. E ofendem três ou quatro gerações dos dezenas que param em solidariedade, comparando-os com o Maníaco do Parque, uma figura única e isolada mas cuja raiva das ruas a definiu como estereótipo de motoboy: um marginal inconsequente.
Diante disso, qual a conclusão diante das ações paliativas de sempre? A primeira, há pouco mais de dois anos: espremeu as faixas da Avenida 23 de Maio e ligação leste-oeste, criando mais uma faixa para os carros e reduzindo o tal “corredor das motos” entre os veículos. No começo de 2008, criaram uma faixa exclusiva na 23 de Maio (que, diga-se, foi um fiasco), proibiu a circulação de motos nas vias expressas das marginais, ampliou as regras de segurança para os motoqueiros, sujeitos a rigorosa fiscalização caso não se adaptem – o que provocou proetstos que pararam a cidade.
Surge novamente a pergunta: quem tem razão em reclamar? Os motociclistas, muitos deles pais de família e cadastrados em empresas regulamentadas e que agora sofrem com as novas regras e faixas de trânsito? Ou os motoristas, que testemunham infrações diárias de gente sem capacete montada em equipamentos descuidados e com pneus carecas? Um pouco de respeito e educação talvez ajudassem a encontrar uma resposta.
(Publicado em 1º/12/2005, e praticamente inalterado. Feliz aniversário, São Paulo…)
Gostei muito do seu texto!
Acho que a solução pacífica seria a melhor, um simples acordo entre ambas a s partes!
Mas, como eu já disse em algum lugar, o povo brasileiro é, no geral, sem educação. De base mesmo…
Até porque nem há interesse político para tanto…
Fiquei meio que chocado com o texto…
Sei lá! Eu sou motociclista e motorista…
Mas uso o “corredor” tb.
Tenho a certeza que me tornei um melhor motorista depois de começar a andar de moto. Todos, sejam motoristas ou motoboys infringem a lei. é tão fácil e habitual que muitas vezes isso passa desapercebido pro motorista!