Meu happy hour com a candidata

Agora que o processo eleitoral pesado já passou, fico à vontade para declarar, sem medo de ser acusado por algum cagueta virtual, que votei na Soninha domingo passado (apesar da vontade quase incontrolável de escolher o preparadíssimo Renato Reichmann). Não por convicção ideológica ou partidária, mas especialmente por sua postura diferenciada em relação aos seus concorrentes. Sem falar que, ao contrário de qualquer outro político dessas bandas, Soninha foi a única postulante ao cargo com coragem suficiente para convidar mantenedores de blogs para um encontro informal no boteco.

Isso foi logo no início do processo eleitoral, numa segunda-feira gelada de inverno, 14 de julho. Acompanhado da Pat e mesmo atrasado (ah, vá!), consegui chegar bem antes da abertura oficial da sessão plenária, no Astor. A mesa estava geograficamente dividida em duas (responsável pelo evento, Gravataí transitava com facilidade pelos dois mundos). De um lado, a ala “papo-cabeça”, liderada pelos balaústres da discussão política nacional Idelber Avelar e Pedro Doria. Do outro, Doni e Lucia Malla eram a minha garantia de que conseguiria participar da conversa sem escancarar minha alienação.

Eu bem que tentei me infiltrar nessa seara: “desculpas pela pergunta ingênua, mas preciso aproveitar a presença de vocês aqui. Ouço todo tipo de comentário a respeito de postura partidária, envolvendo esquerda e direita… Mas para alguém como eu, pouco ligado ao tema, está cada vez mais difícil identificar alguma filosofia que indique esses comportamentos, é tudo muito igual… Isso é grave, doutores?”. A resposta não foi exatamente “sim” ou “não”, mas algo baseado em teorias políticas que completavam o raciocínio anterior, que virou ponto de partida para novas perspectivas. Preferi voltar ao outro lado da mesa e espezinhar a Lucia Malla: “puxa, esse lugar não serve moqueca de cação…”.

Enfim, nossa convidada chegou – não me lembro se foi antes ou depois do Inagaki, até porque ele aparece quando ninguém percebe, como se já estivesse ali desde o início. Veio de moto, seu transporte habitual, o que fatalmente despertou comentários sobre caos do trânsito, pedágio urbano e bicicletas. “Ah, tá tão bonita a da Radial Leste, vai!”, retrucou, só por conta de uma piadinha que fiz: “se eu aparecer de bicicleta ali, volto pra casa com duas”. Na verdade, se um dia que eu começar a pedalar de casa para o escritório, em uma semana estarei apto a disputar a Volta da França…

Mas outras perguntas inevitáveis surgiram, espontaneamente. Uma era bem evidente, naquela altura. Sabendo que as chances da Marta, do Alckmin, do Kassab e do Maluf eram, em tese, maiores, por que não tentar um caminho mais fácil, como a reeleição na Câmara dos Vereadores?

Seria, em tese, mais fácil. Para quem não acompanha política ou está por fora. Em uma frase: “cansei de ser vereadora”, dizia. As razões são públicas: quando foi eleita, pelo partido que sempre acreditou e militou, acabou surpreendida por todo tipo de acordo, única forma possível de se trabalhar minimamente, entre outras situações: “por quê obstruir ou votar contra um bom projeto, só por que ele saiu da oposição?”. Sua indignação com tais atitudes deixaram-na desconfortável não só na casa, mas também no partido – que havia se tornado exatamente o que todos os outros são quando estão no poder.

Então veio a saída do PT (nada simples, se levarmos em conta o bafafá da imprensa) e o convite do PPS, que desejava reformular seus quadros, em busca de posições claras e decididas sobre um projeto para o município. Na época, ela mesmo admitiu que dificilmente concorreria à reeleição na Câmara. Mas que toparia uma campanha à prefeitura, já que teria condições de apresentar sua forma de pensar a política. Isso representaria uma candidatura própria de seu novo partido – coisa que não acontecia há algum tempo, por conta de uma costumeira postura governista. “E eles disseram: tudo bem…”, lembra Soninha.

A sequência da historia foi acompanhada por todos durante a campanha – que não só apresentou um discurso pautado não pelo marketing bonitinho mas por idéias realistas, como também nos trouxe uma deliciosa polarização entre Soninha e Maluf. Conseguiu 266.978 votos – não foi o suficiente para “derrotar o malufismo”, mas ao menos no meu ponto de vista, conseguiu se posicionar como uma opção qualificada. Além de arejar bastante a disputa eleitoral.

Em tempo: aquela noite acabou praticamente na manhã seguinte, bem depois da Soninha e sua filha terem deixado o Astor. Pelo pouco que lembro, talvez tenhamos retomado à teoria do Idelber de que o futebol brasileiro acabou em cinco de março de 1978 (mesma data que marca a derrota verde-amarela na Copa de 82) umas três ou nove vezes. Algumas garrafas de cerveja – tanto naquela mesa quanto na do Franz, horas depois – jogaram qualquer tentativa de politizar a conversa pra depois do segundo turno paulistano.

***

A propósito, as opções que me restam são: atirar-me da janela do décimo andar ou pedir para algum neopetista me empurrar – sem antes me perguntar se sou casado ou tenho filhos. Traduzindo: entendo que os dois lados conseguem juntar inúmeras virtudes e defeitos, simultaneamente. Podem me chamar de alienado, mas se é para escolher o menos pior, estou pensando em passar o dia 26 em Bertioga e, antes de passar uma tarde à milanesa perto do Forte de São João, dar um pulinho no colégio e desconfirmar minha presença nesse pleito.

Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Como bom militante do PPS, também votei na Soninha no primeiro turno (dã!) e, sinceramente, acho que ela qualificou o debate e se cacifou, sim, para tentar de novo em 2012. E quem sabe, em 2010, em caso de um governo Serra, ela tenha a chance também de assumir algum Ministério. Eu sugiro Cultura ou Esporte. Que tal?

    No segundo turno, também vejo coisas boas e ruins tanto na Marta quanto no Kassab. Na verdade, acho que a cidade estará bem servida: a Marta foi uma boa prefeita, e o Kassab é um bom prefeito. Ambos com suas qualidades e alguns graves problemas em cada uma das administrações, é claro.

    Por simplesmente não conseguir votar no DEM (não dá, no PFL eu não voto, não tem jeito!), confesso que estava disposto a dar um voto de confiança para a Marta. Mas já desisti, principalmente depois dos ataques homofóbicos da campanha… Que decepção!

    Resumindo: é bem provável que eu anule o voto no dia 26. Estou pensando seriamente em digitar 43 na urna eletrônica, manifestando apoio ao Gabeira na disputa do Rio – essa, sim, muito mais interessante para mim, hehehe.

    🙂

  2. Com esta quantidade de votos Soninha ainda não tem chances em um pleito pelo governo do estado, mas poderia, com certeza ser eleita deputada federal ou estadual, que com certeza seria um grande passo política em sua carreira,

  3. A “charge” espezinhatória feita pelo Gravataí e por vc a partir do cação que eu desenhei num pedaço de guardanapo ainda está guardada aqui em casa, para exposição em um futuro “museu da blogosfera offline”. Ótima! 😀 😀

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