Exercício para esquecer seus problemas

Essa eu ouvi de um amigo que, tempos atrás, ouviu uma notícia desagradável do seu médico. Sem precisar discutir o já sabido diagnóstico, ouviu o seguinte:

– Vamos fazer uma experiência. Pense na pessoa que mais te decepcionou.

Em seguida, um rápido diálogo sobre o tema. O nome dessa pessoa, quem era ela, o que ela fazia, como ela pisou na bola, enfim.

– Agora pense na pessoa que você mais gosta.

Meu amigo sorriu rapidamente. Diálogo parecido: nome, idade, o que fazia da vida, o que a tornava especial, essas coisas.

– Muito bem. Agora veja isso que estou segurando. O que é?
– Isso? É um palito de fósforo.
– Perfeitamente. O que ele faz?
– Hmmm… Ele acende fogo.
– Isso mesmo. E o que o torna importante?
– Ah, ele é útil na cozinha, ou quando falta luz, sei lá.
– Parabéns. Agora me diga, que lição você tira desse nosso rápido bate-papo?
– Lição? Nenhuma.
– Pois eu vou lhe dizer. Em poucos minutos, fiz você esquecer alguém que te fez muito mal e te fazer lembrar da pessoa que te faz sorrir desse jeito. Do mesmo jeito, eu fiz você parar de pensar em alguém tão especial na sua vida para divagar a respeito desse palito de fósforos!
– Mmmhhh…
– É isso que estou dizendo a você. Sabemos que aquela pessoa desprezível existe. Também sabemos dos seus outros problemas. Eles vão continuar do seu lado, assim como as coisas que você gosta. Mas a escolha entre pensar ou não em coisas boas ou ruins é toda sua.

Na teoria, é bem simples. Mas mesmo diante daquelas aflições que não dependem de um diagnóstico clínico, não é um exercício fácil. Não custa tentar: se para quem sofre algum problema crônico o “palito de fósforo” é necessário, imagine para você, que está aí em plena forma, reclamando do gerente incompetente, ou daquela baranga que não te dá bola.

(Postado em 20/10/2006)

André Marmota é professor universitário e ouvinte frequente da pergunta “mas e além disso, você também trabalha?”. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (9)

  1. Alhear-se de pensamentos negativos é um exercício de força de vontade muito além da que tenho. Sou obsessiva, remôo todos os lados da questão que me injuria, falo pra caramba, escrevo, acordo de volta ao assunto e não esqueço. Acho que só um Maracanã de fósforos pra mudar minha idéia ou o Botafogo ser campeão. Valeu a retórica, ao menos.

  2. Muito bom! Certa epóca de minha vida, ali por volta de 2001, eu sofri muito com uma separaçao e criei um dispositivo ” palito de fosforos” pra nao pensar no meu desafeto: eu evocava a imagem do Papa!!!
    E não é que funcionou! Eu acabei esquecendo dela…mas o Papa,rs….
    Legal demais esse texto!
    abs
    Byra Dorneles

  3. Aê, André:

    Seu post caiu como uma luva porque volto aos médicos hoje por causa de tonteiras e fraqueza muscular. Não me esquento; a ciência vai descobrir o que causa isso tudo e só penso nos Mutantes 😉 Isto é bom.

  4. Caraca marmota!!!
    até parece que vc leu meu post de hoje cedo…
    quero mil caixas de fosforos.
    deve sair mais barato que meu analista, e talvez até dê resultados.
    bjos

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