Atenção, Creuzebeque!

Foi numa tarde qualquer do segundo semestre de 1995 que, sintonizado no meu velho radinho FM, ouvi pela primeira vez uma musiquinha escrachada e bem mais ou menos. Era um português convidado para uma suruba, e roda roda vira, solta roda vem, passaram a mão na bunda e não comi ninguém. Ignorei a letrinha e nem me dei ao luxo de esperar pelo anúncio do locutor. “Devem ser os Raimundos”, pensei.

Não eram. Tratava-se de uma trupe nova, catapultada graças a um garoto chamado Rafael. Ele era baterista de uma banda chamada Baba Cósmica, mas isso não é importante. Rafael é filho do então diretor artístico da EMI-Odeon, e os dois curtiram certo dia uma fita demo dessa trupe. Adoraram e contrataram os caras em 28 de abril de 1995.

Até chegar ali, essa patota da classe média de Guarulhos precisou ralar muito. No princípio, eram quatro. O japonês Alberto Hinoto, o Bento, tocava guitarra. Julio César tocava teclado, e para improvisar um nome artístico, inverfteu seu sobrenome e virou Rasec. Quem também se baseou no sobrenome para rebatizar foram os irmãos Reis de Oliveira, o baixista Samuel e o baterista Sérgio viraram Reoli. Os quatro criaram um conjunto chamado Utopia e cantavam covers de Titãs e Legião Urbana. Durante um dos shows, os caras incorporaram o vocalista. Chamava-se Alecssander Alves, mas todos o conheciam por Dinho.

Antes de gravarem a fita demo que foi parar na EMI-Odeon, a banda Utopia chegou a gravar um CD de sucessos batidos, que sequer passou da marca de 100 cópias vendidas. Foi quando perceberam que os covers não faziam tanto sucesso quanto as brincadeiras com os amigos, as palhaçadas e as canções debochadas. Prepararam a fita nova, selando a mudança radical de estilo com um nome apropriado: Mamonas Assassinas.

O Vira Vira do português foi o primeiro sucesso a pipocar nas rádios FM do Brasil. E antes mesmo de Dinho avisar que a brasília amarela está de portas abertas pra mode a gente se amar pelados em Santos, a banda já tinha conquistado o público, especialmente crianças e adolescentes. Antes mesmo de 1995 acabar, os Mamonas Assassinas já tinham vendido 1 milhão de CDs. Impressionante.

O tempo parecia curto para o grupo de maior sucesso daquele ano. Mas os Mamonas eram incansáveis: eram capazes de fazer cinco shows por semana em todo o Brasil. Bateram ponto em todos os programas de TV. Muitos se perguntavam: como diabos uma banda com músicas do naipe de Robocop Gay era capaz de arrebatar tantos fãs? Mais: até quando duraria o gás desses rapazes esforçados?

A resposta nunca virá. Já estava no primeiro ano da faculdade e trabalhando como técnico contratado no laboratório de metrologia quando, na manhã de domingo do dia 3 de março, eu e o pais fomos surpreendidos por uma dessas informações inacreditáveis. Na noite anterior, sábado, 2 de março, os Mamonas seguiam sua exaustiva maratona de shows, numa apresentação no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Em poucas horas, todos viajariam para Portugal.

Os cinco, além do assistente de palco, o segurança, o piloto e o co-piloto, estavam num avião Lear Jet 25, prefixo PT-LSD da empresa Madri Táxi Aéreo. Próximo da aterrissagem, o piloto decidiu arremeter e tentar um segundo pouso. Não deu tempo: a aeronave se chocou em um morro, na Serra da Cantareira. A mata fechada dificultou o acesso da equipe de resgate. Quando chegaram, encontraram fuselagem, figurinos, corpos, tudo espalhado pela mata. Não houve sobreviventes.

As imagens daquele acidente tornaram-se o primeiro fenômeno de troca de arquivos da novíssima internet comercial brasileira. O velório dos músicos, no ginásio Paschoal Thomeu, em Guarulhos, reuniu 65 mil pessoas. Programas especiais, revistas, apresentações inteiras em áudio, CD com gravações inéditas… Tudo foi insistentemente reproduzido durante semanas, meses, anos.

O fim da carreira meteórica de um dos maiores fenômenos da música nacional, que completa dez anos neste final de semana, transformou a alegre febre dos Mamonas em tristeza, em uma das tragédias mais lembradas de nossa história. Tenho certeza de que, se você não chorou, ao menos fez a pergunta: será que, se estivessem vivos, o sucesso permaneceria?

Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. infelizmente, sinto que se estivessem vivos eles teriam uma vida curta no cenário musical. A primeira vez que os ví foi em uma entrevista no Jô Soares. Achei a proposta interessante. A revista Rock Brigade deu nota 8 para o CD deles. Porém, a mídia explorou ao máximo os caras e o humor e a sátira das musicas viraram palhaçada. Coisa para entreter o povão. É mais ou menos como Kurt do nirvana. Se não tivesse metido uma bala na cabeça teria naufragado musicalmente e seria lembrado por fazer apenas um bom disco.
    Gosto da musica deles, tenho o disco, mas eles também inauguraram uma era de surgimento das bandas mais idiotas do cenário musical, que não tinham o talento deles e que também foram abraçadas pela mídia, que queria tirar uma casquinha do fenomemo.

  2. Eu concordo com o Gilson, pois não são poucos os exemplos de bandas que viraram lenda por meio de tragédias, ou porque acabaram…

    Eles NÃO teriam durado muito tempo, pois TODO humor escrachado é enjoativo a médio prazo (vide o programa do pânico, a escolinha do professor raimundo, armação ilimitada, tv pirata, etc.)

    A única excessão é o Chaves. Mas ele é top top.

    Abraços!

  3. Marmota, eu tbém comprei o disco deles… Mas acho que eles , caso vivos, seriam explorados tanto, mas tanto, que no fim não iriam fazer tanto sucesso… Bem, sabe, esses dias entrei num blog e dizia lá: Esse livro é para intelectuais como eu. Sabe, esse tipo de conversa… Ai, me deu uma raiva… Que saco, né? Tipo, banalizam a coisa. Vai dizer que não são uns chatos… Pois é… Esse teu plantão Marmota ai de baixo tá hilário, hehehe

    Inté

  4. seus f… da p… os karas(dinho) eram muita escrotagem, num daw pra comparar com b… de pânico na TV não seus m…, fala sério!! Quem viveu lembra até hj das escrotagens geral, quem fala mau hj é pq num curtiu na época e se f… pq foi do c…, quem diz que eles não fariam sucesso hj na verdade é um verdadeiro tiozão ou mesmo um c…!

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