Cristovam Buarque já usava essa obviedade como mote de sua campanha eleitoral: a vida do cidadão brasileiro só vai melhorar no dia em que a educação virar prioridade de verdade. Só que o conceito de “educação” é amplo demais. Tem mais a ver com a formação ética e moral do sujeito, em comparação com aquelas disciplinas escolares baseadas no decoreba.
O que se vê hoje são indicadores discutíveis usados como “prova de que estamos no caminho certo”. Avaliam a quantidade de livros na biblioteca ou de professores com rótulo de doutorado. Realizam exames nacionais e tascam uma nota ao aluno e à escola. E daí?
Vejamos, por exemplo, o diálogo real a seguir, testemunhado por um amigo esses dias. Começou quando um dos interlocutores soltou a palavra “pobrema” – o que, para muitos, é uma demonstração evidente de que nosso povo é inculto e despreparado.
– Deixa de ser burro, rapá! Pobrema? Pobrema não existe!
– Burro é você, pô. Claro que existe pobrema.
– Não, animal. É problema. Pro-ble-ma. Entendeu?
– Ah, vá. Problema não é a mesma coisa que pobrema.
– Cuma?
– Vai dizer que tu não sabe qual a diferença entre pobrema e problema?
– ???
– Seguinte: problema é aquela coisa que se estuda em matemática. Meu filho tem isso, tá no livro dele. É quando tem que fazer uma conta para responder um tipo de pergunta. Isso é problema, entendeu?
– Sei.
– Pobrema é outra coisa. É quando eu e você encaramos uma roubada, um negócio que faz a gente perder a cabeça, essas coisas do dia-a-dia. É pobrema, por que vem de pobre. Pobre tem pobrema, entendeu?
– Ah, tá.
Viram como é simples? Não acredito que nenhum acadêmico se deu conta disso antes… Provavelmente estavam preocupados com erros pontuais de gramática. Pra mim, esse sujeito estaria facilmente aprovado.
Atualizado: O mais impressionante é descobrir que a Carol escreveu exatamente a mesma coisa. Sinal que os brasileiros realmente adotaram esta definição. Taí um “pobrema” pros editores de dicionário resolverem.
extensas saudades do marmota…
Uau! Por essa, eu não esperava…
conheço uma variante desse diálogo.
“Poblema” é problema da cabeça, quando a pessoa é doida e tal.
“pobrema” é os pobrema da vida, dinheiro, trabalho, essas coisas.
E confirmo, isso está sendo cada vez mais difundido. Mas confesso, que não deixo de rir com a piadinha clássica do Cristovam em forma de manchete de revista: “Dez perguntas com Cristovam e só uma resposta: educação”
Ai, puxa, Marmota! Já presenciei uma explicação diferente, mas que me deixou igualmente impressionada. Na fila do banco, duas mulheres conversavam e uma disse pra outra: descobri que tem diferença entre “pobrema” e “poblema”. “Poblema” é uma coisa interna, tipo “poblema de rins”, “poblema de sistema nervoso”. Já “pobrema” é uma coisa externa, tipo “pobrema com filho”, “pobrema com vizinho”.
O que mais me encantou no post – extendo os parabéns a Carol também – é o reconhecimento dialetal do povo brasileiro. O povo vota, trabalha duro e se fala “errado” é um problema de educação. Genial. A reforma didática parece moldada nos parâmetros minimizadores da educação verdadeira impostos pelo N.C.L.B. — No Child Left Behind.
Uma resposta: educação. Gostei Cristovam, nota dez, Marmota.
Acho o Brasil cheio de poblema (rs)
A didática muda, a ignorância do povo continua.
Pensamos que o pc mudaria muita coisa, alterou pouco. O português continua sendo escrito errado
Gostei do texto
Depois dessa coincidência, acho que a gente deveria lançar a campanha (inclusive com Gifs animados) na Internet:
“Abaixo os probremas…
e os pobremas também!”
Ah, obrigado a tina oiticica pelo elogio!
Por enquanto, sem chances de “pobrema” entrar em dicionários. Já temos de cortar um monte de palavras que existem e são interessantes, porque os vocábulos são muitos e é impossível reunir todos, o dic sairia muito, muito caro, que dirá colocar um neologismo como esse, ainda que tenha bastante “propriedade”. Fora que receberíamos um monte de reclamação de professores e leitores, acusando o dicionário de ser “elitista” por ousar dizer que o “pobrema” do pobre é diferente do “problema” do rico. Faz o maior sentido essa diferença, sim, a Kandy-leitora acha. Mas é um absurdo chegarmos a esse ponto, a Kandy-editora pensa.
Sobre dicionário, “pobrema”, “poblema” e outras não entrarão, até porque existe uma palavra única para definir. Talvez em um futuro “pobrema”, dentro da história dos portmanteus da vida, como “educomunicação”.
Por ora, continuo sendo um torcedor de primeira ordem da causa de Dadá Maravilha, que quer pôr a palavra “solucionática” no pai-dos-burros. Primeiramente, pedirei que olhem os significados para a palavra “problemática” (definição do Aurélio):
problemática
[F. subst. de problemático.]
Substantivo feminino.
1.O conjunto dos problemas tocantes a um assunto.
2.Arte ou ciência de colocar os problemas.
3.O conjunto das questões que uma ciência ou um sistema filosófico pode apresentar em relação a seus meios, seus pontos de vista ou seus objetos de estudo.
Logo, a construção daquele que pára no ar (fora beija-flor e helicóptero) é simplesmente genial, pois dá para imaginar o seguinte:
solucionática
[de solucionar + ática]
Substantivo feminino.
1.O conjunto dos soluções tocantes a um assunto.
2.Arte ou ciência de colocar as soluções.
3.O conjunto das soluções que uma ciência ou um sistema filosófico pode apresentar em relação a seus meios, seus pontos de vista ou seus objetos de estudo.
Sim, isso mesmo. Dá para entender perfeitamente porque o homem que quando está em campo, não tem placar em branco, lutar para pôr essa palavra no dicionário. Aliás, se formos pensar nas múltiplas soluções que há para alguns casos, há sim a solucionática, só que os cientistas e filósofos relutam em se dobrar a um jogador de futebol e hoje comentarista. E o amor é lindo…
Olá !!!!!obrigado pela explicação, vi muitos enrolação em alguns site, vocês foram objetivos, na explicação: difrença entre a palavra poblema e problema