Era uma vez…
- Oras, por que toda estória precisa começar com essas três palavras enjoativas? O Marmota não é mais criança, não precisa dessa estratagema boba.
- Mas… você não estava escrevendo uma fábula sobre o Marmota?
- Sim, uma fábula, mas nem por isso preciso tratá-lo como um torcedor do Internacional…
- Mas ele É torcedor do Inter…
- Ah, é mesmo? Não sabia. Então, como ia dizendo, não preciso tratá-lo como alguém que ganhou Lango Lango no programa do Bozo…
- Ixe, agora te peguei, porque ele ganhou sim um lango lango…
- Mas que droga! Esse Marmota é uma criançona então? Retiro tudo que disse, e vamos continuar a fábula com o "era uma vez" mesmo, porque criança gosta é disso!
- Não as crianças de hoje em dia… Mas enfim, melhor continuar mesmo. Vamos parar de confusão.
Era uma vez…
Uma marmota – aquele bichinho estranho que parece um esquilo irritado. Vivia nos Alpes suíços no inverno, com sua família. Era o terceiro filho de uma marmota pra lá de super-protetora. Nosso amigo marmota filho da mãe-marmota, chamava-se Marmota marmota marmota – "que nome mais repetitivo", reclamava, sempre acrescentando "cientistas sem criatividade…" O apelido de MMM – dado por um grupo de lobos que um dia tentavam fazê-lo de jantar – lhe era mais agradável. Enfim, MMM no verão sempre dava um jeito de escapar para a Alemanha, pois adorava o clima alegre das Hofbrauhaus e dos punks nas ruas de Berlim. Como MMM escapava? Não sei, mas fato é que ele dava sempre um jeito de chegar até a grande capital, são e salvo.
Não foi diferente em 2005. Pleno verãozão, e MMM estava lá, curtindo as maluquices da Love Parade, dançando techno atrás do DJ elétrico do Tiergarten e se enchendo de Berliner Weisse, a deliciosa cerveja de cereja. Era o que mais gostava de fazer: estar no meio daquela multidão humana, cheia de energia com seu copo cheio.
Eis que o verão acabou, e MMM durante uma passeada perto da estação do Banhof Zoo, teve uma idéia "brilhante": ficaria em Berlim até o inverno. Só voltaria para os Alpes para sua hibernação anual. E assim foi.
Era setembro. O outono chegou, as folhas amarelas caindo das árvores, Potsdamer Platz ficando cada vez mais vazia, as pessoas se escondendo em seus casacos, e MMM lá, firme (mas não tão forte) nas ruas de Berlim. Os primeiros calafrios da hibernação já eram sentidos no corpo de MMM.Foi quando ele tomou um grande susto ao virar a esquina da estação Gesundbrunnen.
Outro indivíduo de sua espécie, andando pelas ruas de Berlim, com uma jovialidade nada hibernante. Uma miragem? Não, era um Marmota. Aliás, um não, era O Marmota. O Marmota-mor, com sua indefectível camisa do Internacional. E MMM assustou-se, porque sempre acreditara que marmotas eram animais afutebolísticos por natureza. Pois eis que aquele não era.
MMM aproximou-se do Marmota. Ainda não acreditava naquela visão: a humanização de si mesmo. Como era possível? Puxou conversa imediatamente:
– E aí camarada, você também mora nos Alpes?
– Está falando comigo?
– Sim, você não é Marmota?
– Sou.
– Então, você é dos Alpes?
– Tá louco, rapá! Sou brasileiro, vivo no calor tropical. Nada de neve pra cima de muá.
– Ah, você também gosta do calor do verão. Quer dizer que vem para Berlim se aquecer todos os anos?
(MMM estava encanado por encontrar uma marmota com os mesmos hábitos que ele. Sempre se achara tão diferente…)
– Quem me dera… estou aqui a trabalho, apenas por um mês. Berlim é muito interessante, mas não sobreviveria ao inverno.
– Mas como, você não hiberna?
– Não, ué. Por que teria?
– Nossa, você é um marmota muito diferente…
– Olha, que tal se a gente entrasse nesse abrigo antiaéreo aqui. Eu quero aprender um pouco da história da cidade…
E entraram no abrigo, aquele emaranhado de túneis claustrofóbicos. Depois de 20 minutos ali, MMM começou a passar mal, não gostava de lugares que lembrassem sua toca nos Alpes. Marmota correu para ajudá-lo. Saíram do abrigo. E MMM pediu o óbvio: uma cerveja.
Marmota começou a desconfiar. Aquela marmota dos Alpes estava de caô pra cima dele. Mas preferiu acreditar em seus instintos: impossível que MMM quisesse se aproveitar de um "irmão da espécie". E Marmota entrou na primeira cervejaria que viu, em plena Hochstrasse. Pediu uma Berliner Weisse Bier para o novo amigo, e uma coca.
MMM tomou tudo numa golada só, sob o olhar atônito de Marmota. E logo pediu outra. E mais outra. E outra. E mais uma. A saideira. Duas saideiras. Ah, vamos pra cervejaria da Alexanderplatz a pé, para fazer uma boa caminhada e digerir as que já tomamos. E foram.
Mais cerveja. Já não cabia mais refrigerante no Marmota, que até então pagara todas as contas – sim, porque MMM, como todo animal que se preza, não tinha um trocado sequer no bolso. Mas já havia um sentimento de irmandade no ar, e Marmota começou a se sentir envergonhado de pedir que MMM contribuísse. E foi pagando.
A noite caiu, e Marmota, com seu coração de ouro, decidiu levar MMM para o seu quarto de hotel. No dia seguinte, estavam de novo juntos, rodando por Berlim. Marmota levou MMM para Potsdam, quando foi visitar seus amigos Natália e Danilo. Para não assustar os demais companheiros de viagem, escondia MMM dentro do bolso interno do casacão. MMM passou a fazer parte de Marmota. Foram para Amsterdam, voltaram para a Alemanha, passearem por Portugal.
Até que chegou a hora de voltar pro Brasil. Marmota docemente já se acostumara com aquele irmão de espécie ao redor. Decidiu por uma proposta indecente: levaria MMM pro Brasil.
– Mas… mas… a polícia federal vai me pegar. Você não pode entrar com animais europeus no Brasil. É crime.
MMM estava certo. E Marmota entristeceu de repente. Já considerava MMM parte de sua família. Família não se deixa pra trás.
Entrou no vôo de volta pro Brasil desolado. Boas lembranças, mas também a tristeza de ter deixado MMM naquele inverno detestável. Pior que não podia contar toda a história para nenhum de seus amigos, que não acreditariam em tal marmota. Não tinha como pedir ajuda.
Ao desembarcar em Guarulhos, a rotina: imigração, alfândega, bagagens. Começam a vir as malas na esteira. Quando Marmota pega a sua, abre um sorriso irônico, ao perceber que "algo se mexia" na parte externa do bolso. Esperou sair do aeroporto para abrir o bolso.
– Ufa! Ainda bem que chegamos! Não aguentava mais de calor enrolado nesse cachecol brega do Internacional!
– Eu não acredito que você se enfiou dentro da minha mala! Que marmota você me fez!! – dizia Marmota, irritado com MMM pelo furo da lei, mas no fundo, no fundo, feliz de rever o amigo.
– Pois vim. O que eu ia fazer na Europa agora? Estou cansado dessa vida de hibernar e fugir no verão. Agora chegou a minha vez de conquistar o Brasil! Iupiii! Mulatas da Sapucaí, aí vou eu!!
– Mas eu não moro no Rio de Janeiro! Você vai ter que se contentar com o carnaval de São Paulo, e olhe lá…
– Tudo bem, no problem. Mas puxa, que calor está aqui, não? Maravilha!
– MMM, amanhã eu preciso ir trabalhar. Aqui no Brasil, eu não fico só passeando pelas ruas, como fazia em Berlim. Aqui eu fico em frente a um computador o tempo todo, mexendo na internet, lendo blogs… trabalhando! Não fico marmoteando, não.
– Ah, então eu faço companhia para você, pode deixar!
MMM era mesmo uma companhia agradável. Aos poucos, Marmota foi acoplando MMM a sua rotina diária. Hoje, MMM não precisa mais ser carregado para cima e para baixo dentro de um casaco pesado. Marmota foi mais esperto: usou a tecnologia que aquele seu vizinho nerd tinha desenvolvido para a feira de Ciências do colégio, e virtualizou MMM.
MMM fica agora o dia inteiro ali, sentado no canto do banner vermelho do blog do Marmota, a apenas um clique de distância, sempre sorrindo ironicamente: lembrança de bons tempos na Alemanha, lembrança que nunca mais se perderá.
E viveram felizes para sempre.
- Ah, mas a estória tem que acabar com essa frase chavão? Esse final meloso? Não gostei.
- Mas você como alter-ego é um chato, hem? Pare de reclamar… Vou mudar para não ter que aturar mais irritação sua!
E viveram felizes para sempre.
E MMM, direto do banner, perguntou então aos leitores do blog:
– Vai uma cerveja aí?
Pois é, meus amigos: quem diria que a brincadeira do “brinque aqui e ganhe um post” ainda traria surpresas! A Lúcia Malla acertou a maioria dos blogueiros da Vila Madalena, conquistou o direito de postar aqui e o fez de maneira muito especial!
“Obrigada pela oportunidade de ouro de publicar no seu blog, um dos meus prediletos. Um beijão e espero que goste da brincadeira!” Lúcia, quem agradece sou eu, e espero que não se importe com alguns ajustes sutis – mas que não descaracterizam em nada a essência da historinha!
Enfim, essa idéia ficou tão bacana que, de repente, podemos retomar nossas promoções esporádicas em busca de novas participações especiais, o que acham?
Hahahaha! Muito bom!
Acho que lhe vi na Paulista esses dias…Vc frequenta o TOPCINE?
André: eu AINDA estou devendo um post! 🙂 Ainda está em tempo de te mandar?
Um abraço!
Eu li tudo!
Leitura mais que apropriada para o Dia da Marmota.
“cachecol brega do internacional” hahahaha, para um gremista, essa foi ótima. abs
marmota,
eu tenho um post de crédito aqui, lembra? só não escrevi ainda pq faz meses que tô com preguiça. mas daqui pro ano que vem(no máximo até 2008…), eu acho que crio disposição e escrevo. bom, tu não falou nada sobre expiração de prazo…