Vou me matricular na FAPRAM

A derrota do Brasil na Copa do Mundo ou a eleição do Lula pareciam ser as suas maiores frustrações em 2006. Antes mesmo do ano acabar, cheguei a outras duas constatações que também concorrem ao título. A primeira: preciso voltar a frequentar salas de aula, seja para estudar alemão, seja para uma especialização fulminante. Sinto falta disso.

A segunda: morro de inveja dos Tribalistas, pois por mais que eu me esforce em aprender, sempre constato que não sei namorar (alguém ainda lembra desse verso?). E não tem essa de pessoa certa: foram poucas tentativas, admito, mas cada uma com um perfil diferente. Erros novos, mas desfecho semelhante. Tenho a sensação de que não vou acertar nunca.

Felizmente fiz uma descoberta espetacular, que pode fazer com que eu una o inútil ao desagradável. Recebi nos últimos dias, das mãos de uma mocinha sorridente, uma daquelas propagandas de vestibular, comuns nessa época do ano. Um folder cor-de-rosa, com detalhes em preto e vermelho, convidando para a prova de admissão da FAPRAM.

Nunca tinha ouvido falar nessa. “Deve ser uma dessas bobagens caça-níqueis, que vai virar unipram logo logo”, imaginei. Uma olhada mais atenta ao folheto fez com que meus olhos brilhassem: FAPRAM quer dizer Faculdade Preparatória do Amor.

Puxa vida, a mocinha sorridente deve ter visto a expressão “encalhado encanado” na minha testa…

De fato, o informe é totalmente direcionado a pessoas com o meu perfil: tímidos incuráveis, românticos decepcionados, entre outros frustrados. Apresenta-se ainda como um projeto inédito e revolucionário: mesmo que o candidato não comprove a conclusão do segundo grau, é possível realizar a prova (consiste em redação e entrevista), efetuar a matrícula normalmente e conquistar seu diploma de bacharelado no amor!

Fui atrás de informações mais consistentes sobre a FAPRAM. Fiquei um pouco decepcionado com o tempo de curso: quatro anos. Exigência do MEC para cursos de nível superior, mas talvez seja pouco para se aprofundar em um tema tão controverso e praticamente inesgotável. Se bem que faculdade nenhuma consegue suprir todas as qualificações exigidas em qualquer área de atuação… Enfim.

Também não há muitos detalhes sobre o corpo docente, quesito chave em qualquer instituição de ensino – e especialmente nesta, já que nunca ouvi falar em doutor ou mestre em amor. A FAPRAM esclarece que seus professores vieram dos mais diversos ramos de atividade, desde psicólogos até engenheiros químicos, promovendo extensa diversidade e interculturalidade em conjunto com suas experiências de vida. E que na verdade correspondem a meros facilitadores do processo de aprendizagem vivencial, onde os alunos acabam mergulhando profundamente no objeto de estudo e os docentes estimulam as habilidades dos indivíduos. Situações reais em todas as atividades de classe, onde os estudantes devem analisar possibilidades, tomar decisões, experimentar alternativas, planejar ações futuras…

Fiquei sem saber se o Sérgio Savian ou o Ailton Amélio da Silva estavam envolvidos na FAPRAM, mas ao menos descobri um dado extremamente relevante: a grade curricular do curso. Não encontrei as ementas das disciplinas nem a carga horária, mas muitas delas não precisam de explicações muito detalhadas.

1º ano

Primeiro semestre
paquera básica
técnicas de observação
teoria da admiração
respeito instrumental
expressão verbal e corporal I

Segundo semestre
introdução à poesia romântica
expressão verbal e corporal II
noções básicas de estilo
cultura geral contemporânea
lazer e entretenimento a dois

2º ano
Terceiro semestre
sensibilidade básica
técnicas de manutenção da paixão
prática de compra de presentes
etiqueta aplicada
relações interpessoais do parceiro

Quarto semestre
sensibilidade avançada
cumplicidade e fidelidade aplicada
semiótica da sedução
técnicas de companheirismo
patologias do ciúme

3º ano
Quinto semestre

sensibilidade sensível
metodologia das preliminares
introdução à intimidade
estudos comparados de portão e sofá
erotismo experimental

Sexto semestre
educação sexual e expressão oral I
intimidade aplicada
constituição e história do casal
procedimentos e tópicos no cinema
administração de rotina e convivência

4º ano
Sétimo semestre
projeto de conclusão de curso I
educação sexual e expressão oral II
novas tecnologias de namoro
estágio experimental e supervisionado I

Oitavo semestre
projeto de conclusão de curso II
comportamento sexual em lugares inusitados
psicologia do fetiche e fantasias
estágio experimental e supervisionado II

André Marmota dialoga muito com o passado, cria futuros inverossímeis e, atrapalhado, deixa passar algumas sutilezas do presente. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (24)

  1. rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs.
    Tem aula de sensibilidade sensivel!!!! Por favor…..
    hahahahahaha. hahahahahahahahaha.

    não acredito q vc pegou isso na rua. Depois n acredita no destino…. SEI

  2. Então… um cara que podia dar aula na FAPRAM é o Roberto Freire, do Ame e dê vexame, que acha?
    E vou repetir: quando eu abrir uma faculdade vou te chamar pra dar os nomes das matérias. 😉

  3. Mas do que vale ser graduado em amor e não ter “vivência” na área?

    Tem gente que reclama reclama que não namora, que “ninguém me ama, ninguém me quer” mas na realidade nem dão abertura pro amor…estão tão “fixados” em conseguir um amor e pronto! Passam batidos.

    Amar é simples e complexo, é fácil e difícil, é bom e é ruim, é uma faca de dois gumes.
    Mas pra amar e ser amado tem que se conhecer e a fundo! Nada de saber do que gosta e do que não gosta…saber de você, quem você é (em todas as situações possíveis…) e todos esses outros pré-requisitos que todos estão cansados de saber!

    (Eu só falo coisas clichês! Mas ta valendo… )

    Beijos!!!

  4. André,

    Nesse curso, eu acho que os alunos precisam de apenas 3 disciplinas, pra um nível básico: Autoestimologia, Coragismo, e talvez a mais relevante de todas, que é a Caradepaulogia. O resto, é pós-graduação, praticando.

    Abraços!

  5. Esta é minha primeira visita aqui. Gostei do seu perfil (muito divertido e espirituoso, além de me fazer voltar no tempo) e do estilo do seu blog. Este texto, em especial, é muito bacana. Em tempos como o que vivemos agora, acho necessário mesmo ensinarem a amar. Parabéns pelo blog! Vou voltar aqui com certeza.

  6. Ai, Dé…que triste este post. Isso era só o que faltava para terminar de corporativizar o Amor!
    Socoooorrooooo!
    Prefiro continuar aprendendo a partir do empirismo puro, mesmo. rs

  7. acho q numa faculdade dessas, teria mais candidato á vaga, que pra medicina na USP…hehehe, qdo na verdade só falta coragem pras pessoas arriscarem… amei a pág.

  8. Ei, ei, deu pra descobrir se oferecem o curso a distância?

    Não acho que é tema graduação, nem de de pós. Acho que deviam começar a ensinar o assunto na pré-adolescencia. Ia me poupar um trabaaaalho.

    “As melhores coisas que se aprendem na escola não são na sala de aula”, já dizia a canção.

    Até.

  9. Tem como fazer um aproveitamento de matérias? Quero pular direto pro oitavo período, já!

    Tô sentindo falta de projetos de extensão nessa grade curricular.
    Extensão I – Barzinho
    Extensão II – Boate
    Extensão III – sites de relacionamento

    Que tal?
    E serão quatro anos suficientes para saber amar?

  10. Não estou levando na gozação porque me parece que você está fazendo auto-zoação de um fato: aos trinta anos está solteiro.
    Você sabe que sou fã do Marmota escritor e da pessoa André. SImplesmente, você passou ou ainda passa muito tempo trabalhando, é exigente consigo, vide a perfeição nos textos e deve ver crítica e analiticamente tudo que é “material” disponível na praça.
    Você é umm aprendiz no ramo amor esperando ser colhido de sopetão. E vai ser sim. Vai depender de onde você mete suas prioridades, sem nenhum segundo sentido implícito.

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