Muitos momentos na vida de um menino servem como marcos para transformá-lo em um homem: a primeira namorada, a primeira relação sexual, a saída da casa dos pais, a entrada na faculdade, o primeiro emprego, o primeiro carro, entre outras. Pela lista, eu praticamente posso me considerar um homem feito (falta comprar um carro e arrumar o segundo emprego), mas eu sentia que faltava alguma coisa. E sabia exatamente o que era.
Esta “coisa” era uma viagem de carro sozinho. Pegar o carro e enfrentar o desconhecido das estradas, algo que exige coragem e confiança. E algo que eu jamais havia feito – no máximo, havia ido com meu pai até o sítio. Isso, até o dia 24 de janeiro de 2009.
Foi quando eu resolvi aceitar o convite de Julio e ir para Promissão para assistir a Copa Promissão de futebol sub-17. Os dois somos fãs desse lado alternativo do futebol, e sabemos que assistir a um Goiás e Internacional em um estádio ladeado por um barranco sem pagar por isso pode ser uma experiência proveitosa. Por isso, com o carro (e a autorização) da minha mãe, resolvi encarar a estrada.
A jornada não começou bem, porque eu dormi muito pouco na madrugada anterior à viagem – míseras duas horas. Pela manhã, o meu corpo sentia um leve enjôo (aliás, com ou sem acento agora?) que quase me fez desistir da empreitada. Só que, além do carro, de parte da verba e da autorização, mamãe me deu também coragem. Foi assim que, com a mochila pronta, eu peguei os documentos do carro, o som, o mapa, o meu roteiro, as chaves e fui. Eram cerca de 9h30 da manhã.
Sem sustos, com uma temperatura agradável e ao som de Creedence Clearwater Revival, o roteiro era cumprido com tranqüilidade. Ao sair sozinho de Presidente Prudente, passei por Indiana e Martinópolis. Pelo roteiro, o carro deveria seguir pela rodovia Assis Chateaubriand rumo a Rinópolis, Oswaldo Cruz e Parapuã. E assim foi feito. De lá, para as pouco conhecidas Santópolis do Aguaípe e Braúna. E depois de olhar o mapa no acostamento umas quatro vezes e de passar pela não planejada Iacri, assim foi feito.
Os problemas começaram entra as vizinhas Braúna e Penápolis. Apesar da distância razoável entre ambas, a capital nacional de Sabrina Sato é rodeada por estradas confusas. Por falta de placas de indicação, resolvi tomar coragem e entrar à direita em um trevo, após a única placa que indicava uma entrada à cidade de Penápolis (que, diga-se, é surpreendentemente pequena e charmosa). Deu certo – ou quase.
Quase, porque a intenção era passar por fora de Penápolis. Quando eu vi, estava de frente para a placa que indicava a entrada no perímetro urbano penapolense. Como dei com os burros n’água, parei no primeiro posto de gasolina que avistei e, sem qualquer recalque (ainda que as mulheres achem que homens não perguntam direções ao volante), perguntei à frentista como faria para chegar à minha próxima cidade no roteiro, Avanhandava. Resposta que parecia ser pouco animadora.
“Hum… Olha… Daqui fica meio ruim, meio longe pra você”, disse o frentista chamado pela frentista para me indicar o caminho. “Só se…”, animou-me o rapaz. “Só se você for pelo centro da cidade. Vai por ali, vira a direita onde virou aquele Uno e segue reto. Você vai cair na avenida. Aí, vai reto, passa uma cerâmica que vai estar à sua direita, e vira a direita. Vai ter uma placa para Avanhandava ali.”
Certo. Ou o caminho anterior era muito fácil mesmo, ou a chance de eu me embananar no centro de Penápolis era grande. Pelo jeito, o caminho anterior era absurdamente fácil mesmo, porque cortar a cidade de cabo a rabo não foi difícil. Logo eu passei pela tal cerâmica e encontrei a placa para Avanhandava. Passei pela cidade (esta, definitivamente pequena) e finalmente cheguei em Promissão. Missão cumprida e vibração no carro da minha mãe.
Três horas depois de sair da casa dos meus pais, cheguei na cidade e liguei para que o Julio fosse me encontrar em frente a uma igreja (que eu pensei ser a catedral local), na esquina de rua tal com avenida tal. Em dez minutos, o anfitrião apareceu, junto de seu pai e de Diego e Alan, ex-alunos da Cásper Líbero como nós. Fomos almoçar e rumamos para o estádio, onde assistimos o primeiro dos três jogos que vimos no sábado.
Quem quiser acompanhar o que rolou nas partidas, clique aqui. Ainda no sábado, eu precisava voltar para casa antes que escurecesse por ter compromissos na noite do mesmo dia. Por isso, às 18h00, eu já deixava Promissão rumo a Prudente de novo. Pronto para novos problemas e para o cansaço nas costas de dirigir por tanto tempo no mesmo dia.
Sair de Promissão e passar por Avanhandava foi fácil – especialmente quando a segunda cidade é, de fato, cortada por uma única avenida. Os problemas voltaram, é claro, quando eu voltei para Penápolis, onde decidi telefonar para minha mãe e avisar que eu estaria em casa em, no máximo, três horas. Para isso, porém, precisaria fazer o roteiro ao contrário.
Cruzar Penápolis mais uma vez não foi difícil, ainda que eu não tenha feito o caminho da ida. Como a avenida principal é de mão única (!!!), peguei uma rua paralela e fui seguindo o caminho que deveria levar à origem dela. De fato, dez minutos depois, eu estava no posto onde havia pedido informações pela manhã, e de frente para um trevo e para placas pouco elucidativas: de um lado, setas para Alto Alegre e Luiziânia. Do outro, para Araçatuba e, se não me engano, São Paulo.
(Pausa para uma reclamação: um dia, se algum funcionário do DER de Penápolis ler este blog, saiba que o trabalho da sua repartição é horrível. É inconcebível que uma cidade não tenha placas na rodovia que indiquem como chegar à cidade vizinha! Sério, a sinalização de vocês é muito ruim!)
Diante da escolha mais difícil da viagem, resolvi seguir a intuição e optei pela placa que indicava Alto Alegre e Luiziânia – afinal, já havia lido o nome das duas cidades no caminho de ida, o que parecia um bom sinal. Seria mesmo, se eu não tivesse escolhido seguir religiosamente o caminho para Alto Alegre e perdido a provável entrada no trevo para Braúna (que sequer havia sido indicada no caminho). Logo, eu estava arrependido no caminho para Alto Alegre, sem um mísero retorno na esburacada estrada. E xingando. Muito. Em voz alta.
Enfim, parei no “acostamento” (que não era mais do que uma parte com a grama mais baixa na lateral da estrada) e olhei o mapa. Em tese, eu estava em um caminho diferente, e se eu passasse por Luziânia, sairia em Santópolis. O único problema é que Alto Alegre sequer aparecia no mapa. Na dúvida, resolvi confiar no taco e fui reto. Por sorte, cheguei a Luziânia, que também precisei cortar por dentro. Aliás, em Luziânia, fui recebido por uma agradável surpresa: placas praticamente artesanais dentro da cidade, que indicavam o caminho para Santópolis e para Presidente Prudente (chupa, DER de Penápolis!). Realmente, 40 minutos depois, cheguei à Santópolis, a cidade vizinha.
Estava eu de frente para o trevo de Santópolis, e pensando que eu teria que passar mais uma vez por dentro da cidade – a quinta consecutiva, o que não aconteceu na ida. Por sorte, uma placa indicou o caminho para Prudente à esquerda, e eu segui. Logo, estava passando por Parapuã, Oswaldo Cruz e Rinópolis, avançando rumo a Martinópolis. Enfim, eu estava perto de casa.
Já no escuro da noite e com os faróis do carro acesos (e ao som da rádio), tive o grande susto da viagem. Um carro se aproximou da traseira do meu, que estava a uns 90 km/h. Como o limite da estrada era de 100 km/h, resolvi dar seta para a direita e diminuir a velocidade, talvez para uns 85 km/h. O carro de trás não fez menção de ultrapassar, então eu desliguei a seta e voltei a acelerar.
O problema é que o carro de trás acendeu a sirene assim que eu acelerei. No escuro, eu não havia visto que se tratava de um veículo da Polícia Rodoviária. Mesmo estando com tudo em ordem (inclusive sóbrio e com o comprovante do pagamento do IPVA na mochila), fiquei preocupado. Dei seta de novo para a direita, fui para o acostamento e freei, esperando a parada dos policiais à minha frente. Só que eles não estacionaram, e antes que o meu carro parasse completamente, resolvi retornar à estrada.
Ainda vi a viatura em questão por uns bons quilômetros lá na frente, igualmente com a sirene ligada. Mesmo preocupado com o que poderia acontecer ou ter acontecido, passei por Martinópolis e por Indiana. Quando eram 20h40 da noite, finalmente entrei em Prudente, mais uma vez com a missão cumprida. Enfim, se algo aconteceu de errado no caminho, eu não percebi. Sei que cheguei em ordem em casa, bronzeado (muito sol nos jogos lá em Promissão, né?) e pronto para os compromissos da noite.
E, agora, um pouco mais homem.
Enquanto Marmota passa por dias perfeitos descansando e viajando, a série Colônia de Férias apresenta textos gentilmente preparados por seus amigos.
À primeira vista não parece mas foi uma aventura e tanto!
Entrou! Entrou!
Valeu, André! 🙂
Me fez lembrar da primeira vez que eu peguei o carro e me aventurei pra estrada. Muito bom!
E adorei o “capital nacional de Sabrina Sato”, hehehe!
Abraço!
Nos perdemos em uma viagem recentemente… tem lugares em que a sinalização simplesmente não existe! Um horror!!
Opa… eis aqui o comentário de um prudentino para o texto de outro morador de prudente. Emanuel, sinto informar que você fez um caminho bastante difícil até Promissão. Até que você se saiu bem pela sua primeira viagem ao volante. Mas vai aqui minha dica: os caminhos do mapa nas estradas principais geralmente são mais longos. Da próxima vez, procure se informar sobre as estradas alternativas. Nem sempre elas são ruins e podem te dar surpresas boas ao cortarem cidades e vilarejos que não fazem parte dos roteiros principais.
abraço.
Bem que estranhei ver esse texto aqui. Isso que Emanuel tá bem grande ali em cima ehehhe.
Esse trajeto dá o que, uns 200km? É uma boa puxada cara. Mas o mais legal da primeira viagem é aquele sentimento de dever cumprido, aquele orgulho, não é?
Sou de Penapolis, e amo a tua cidade cara, pois no dia 15 de dezembro de 2002 minha esposa foi internada ai no Hospital Estadual, estava gravida de 6 meses uma gravides gemelar de alto risco, no dia 01/01/2003 meus filhos nasceram, o Diego com 1,665 kg e o Murilo com 1,465 kg , foi o dia mais dificil da minha vida, apos o nascimento foram mais 45 dias que ficamos ai até que o Murilo tivese alta, este tempo todo fiquei na pensão da dona Elza uma senhora muito boa, o pessoal do hospital tambem todos foram maravilhosos com a gente e o unico gasto que eu tive foi com minha alimentação e as diarias da pensão. hoje meus filhos estão com 6 anos o Diego pesa 31 kg e o Murilo 27 são lindos e perfeitos o Diego disse que vai ser Médico e o Murilo Lateral direito do Santos fc, sou grato a Deus por ter colocado esta cidade na minha vida amo todos vcs. um abraço…