De repente, me vejo numa praia rústica e praticamente deserta, com meu calção do Internacional. Parecia Cassandoca, em Ubatuba. Sol a pino, sem nenhuma nuvem no céu. Das águas esverdeadas, algo mais ofuscante que o reflexo do sol na areia emergia e gesticulava. Era uma mulher, que rapidamente se aproximou de mim e sorriu.
– Oi! Não imaginas o quanto fico feliz em te encontrar aqui!
– E aeeee, bonitinha! Também estou adorando isso aqui… Mas quem é você? Uma sereia? A salva-vidas?
– Sou Anadiômena. Já ouviu falar de mim?
– Anadiômena? Parece antibiótico. Ou algum personagem do folclore da Amazônia.
– Engraçadinho. Anadiômena é a deusa Vênus saindo das águas. Uma eterna amante, cujo ato de sair das águas representa a busca pelo amor verdadeiro, superando emoções puramente passionais. Tal como a Fênix renascendo das cinzas.
– Bacana, bacana! Mas tenho que admitir que você é mais… Mais… Mais legal que a Fênix.
– Obrigada! Tem um soneto do Vinicius, que ele diz: Juntem-se vermelho / Rosa, azul e verde / E quebrem o espelho / Roxo para ver-te / Amada anadiômena / Saindo do banho / Qual rosa morena / Mais chá que laranja, / E salte o amarelo / Cinzento de ciúme / E envolta em seu chambre / Te leve castanha / Ao branco negrume / Do meu leito em chamas.
– Puxa, senhorita Anadiômena, fico realmente encantado. Mas ainda não encontrei uma explicação lógica. Não faz o menor sentido estar aqui, diante de sua encantadora presença, nesse lugar sensacional.
– Eu trouxe seus pensamentos para cá. Foi a melhor forma que encontrei para te dizer… Visito seu blog há tempos, e gosto muito dos seus textos.
– Nossa… Obrigado! Bom, está longe de ser algo excepcional, mas o que importa é brincar e aproximar gente como você, né!
– Eu precisava muito te contar. No início, pensei que fosse uma grande piada… Não levava muito a sério. Como naquela história do Guerra nas Estrelas.
– Sei… Já me disseram algumas vezes que eu era engraçado.
– Mas no dia dos namorados, ou perto dele, você escreveu sobre aquela moça e aquilo me tocou profundamente. E mergulhando nos seus arquivos, li o texto sobre o seu primeiro dia dos namorados. E também é maravilhoso.
– Uau… Não sei o que dizer. Bom, de vez em quando acontece…
– A tua esperança pelo amor verdadeiro é doce, e eu sinto falta disso no mundo… E é por isso, pra te dizer isso, que estamos aqui!
– Que legal! É, também sinto falta disso. Às vezes sinto que é preciso me adaptar a dura realidade da vida…
– É…
– Mas enfim. Infelizmente não consigo escrever sobre minhas historinhas frustradas de amor todos os dias.
– Eu não vejo assim. Nunca pensei na palavra “frustrada” para definir suas histórias.
– Sério? E como seria?
– Olha, eu leio e fico pensando: que bom que, mesmo que tudo tenha acabado, ele viveu isso e guarda na memória… Momentos mágicos… Profundos… Algo que pouquíssimas pessoas têm.
– Bom, tem gente que vê isso como um grande defeito.
– Não, não vejo. Dá pra perceber que você namorou poucas vezes, beijou poucas vezes… Acho extremamente lindo isso. Porque você pode olhar para trás e dizer que teve poucos relacionamentos, mas que foram realmente verdadeiros. Não foram só por ficar com alguém, as lembranças são apenas de pessoas especiais.
– …
– Tudo bem?
– Desculpa, dona Anadiômena, fiquei meio chocado…
– Ai, desculpas. Sou uma entidade mitológica, não psicóloga…
– Não, tudo bem. Estou gostando! Mas, sem querer abusar muito da sua inebriante presença e sabedoria, e já que você me admira um bocado, que conselho você pode dar para alguém que passa por uma semana complicada, se sentindo a pessoa mais perturbada do universo?
– Bom, esse alguém tem que esperar uma deusa sair do mar e dizer que gosta muito do que ele escreve. E por conseguinte, dele. E com isso ganhar a semana que ele julgava perdida. Tá bom esse conselho?
De repente, uma pedra. Acordei com a semana salva, realmente. Mas reiterando minha teoria: toda pessoa potencialmente interessante que conheço é comprometida até o pescoço, ou mora longe. Num lugar distante e intangível, como meus devaneios.
(Postado em 05/08/2005. Comentado dois dias depois: “Bem, resolvi comentar o teu texto. Quer dizer, o meu texto. Melhor, nosso texto. Já perdi a conta de quantas vezes li esse texto. E não ligo a mínima se hoje em dia as pessoas não fazem mais isso. Procurei Ubatuba no meu Guia Quatro Rodas. Desci o livro de sonetos do Vinicius da estante. Fiz o que te disse ontem: nesse momento, acredite, estou no topo da tua pedra, gritando bem alto que a gente pode ser feliz. Afinal, distante e intangível é o Japão, a Austrália… Um beijo bem apertado e boa noite. Vou dormir o sono das deusas…”. Ah, se as areias de Cassandoca pudessem registrar o que se passou desde então…)
Se seu objetivo é fazer “velhotas” sensíveis se emocionarem no trabalho, na frente de todo mundo, já conseguiu, viu!
Duvido que não haja, entre suas amigas, alguém que seja, ao mesmo tempo, “potencialmente interessante”, descomprometida e que more perto. Será que você não está sendo exigente demais com as moças? Ou será que você deixa de cultivar interesse por alguém acessível, por medo de se envolver e, por fim, se magoar? Última pergunta: gostou de minha análise psicológica de botequim?
Beijos da “mãezona”.
Confie no seu taco moço. Já parou pra notar que vc é uma “pessoa potencialmente interessante” e que possivelmente precisa apenas sair um pouquinho do chão…Traga os seus sonhos pra perto de vc, que a pessoa desejada vem junto! 🙂 “Querer é poder!”, já diz um sábio amigo meu!
Beijos pra vc lindo!
Mulheres comprometidas à parte, nenhum lugar fica distante e intangivel se voce gosta de uma pessoa. Eh so pegar um aviao (ou dois, ou tres…), e hoje em dia ha mil meios de se comunicar. Acho, por experiencia pessoal, que às vezes é so preguiça mesmo e medo de encarar situaçoes novas e potencialmente decepcionantes.
Ciao
Mesmo que vocâ ainda não tenha encontrado a pessoa certa na hora certa, você sabe escrever as melhores coisas no momento exato. E, caindo no clichê, eu acredito piamente que a sua hora ainda vai chegar!
Beijo!
Bem, resolvi comentar o teu texto. Quer dizer, o meu texto. Melhor, nosso texto. Já perdi a conta de quantas vezes li esse texto. E não ligo a mínima se hoje em dia as pessoas não fazem mais isso. Procurei Ubatuba no meu Guia Quatro Rodas. Desci o livro de sonetos do Vinicius da estante. Fiz o que te disse ontem: nesse momento, acredite, estou no topo da tua pedra, gritando bem alto que a gente pode ser feliz. Afinal, distante e intangível é o Japão, a Austrália… Um beijo bem apertado e boa noite. Vou dormir o sono das deusas… #)
André, não ligue para o que as garotas dizem.
Eu vou te levar no puteiro, e tudo ficará bem!
(só não leve a bermuda do Inter)
E eu que não encontro nem os potencialmente interessantes para devanear??
E vc quer lugar mais próximo do que seus próprios devaneios? Isso não é distante!
Ei, precisamos ir a Cassandoca outra vez. 😉
E eu lembro de ter lido esse texto em 2005 e não ter entendido patavina dessas entrelinhas todas! Que bom que agora eu sei, hahaha!