Rei Medas esteve conosco

Não foi difícil aproveitar muito durante sete dias em Florianópolis: foram incontáveis gargalhadas e passeios a todo instante. Entre as histórias criadas pelos Estúpidos durante um jantar, merece destaque a lenda do Rei Medas.

Não, você não leu errado. É Medas mesmo. Ocorre que, segundo a lenda, o Rei Midas – seu parente próximo – transformava em ouro tudo que tocava. Quando o outro chegava perto, poderia esperar: “aí vem medas”… Acho que não é preciso explicar mais.

Pois bem. A diversão passou a ser atribuir ao Rei Medas todas as medas ocorridas durante a viagem. Desde as histórias dos celulares: durante o almoço com as meninas em Curitiba, esqueci o meu na churrascaria – mesmo tendo dito na mesa que não o faria. Adilson, no entanto, sequer trouxe o pré-pago dele. Com poucos créditos, seria inútil fora de São Paulo. Mal chegou em Santa Catarina para descobrir que a operadora estava com uma promoção, justamente em SC e no Paraná.

Rei Medas também esteve presente no trânsito, durante as aberrantes manobras deste motorista na capital catarinense. Tanto que popularizei um termo novo, que certamente vai pegar: a “paulistada”. Bastava que eu ou o motorista da frente executasse alguma barbeiragem para alguém soltar: “olha a paulistada!”. Madrugada de sábado, voltávamos do centro de Floripa em direção à Lagoa. Passava da uma hora. Atendendo a uma sugestão do Lello, que avistou um bar simpático no caminho, resolvi fazer um retorno absolutamente proibido.

E lá estava o Rei Medas. Ao som de “olha a paulistada”, ouço ainda o grito de uma senhora desesperada, que vinha logo atrás. “Seu maluco!”. Daquele momento em diante, aquele trecho da estrada passou a ser denominado “curva do Maluco”. A paulistada rendeu ainda outro momento digno de Medas: o tal bar simpático era uma biboca horrenda, sem qualquer condição…

Parece pouco? Pois ainda tem mais. Mesmo ficando apenas três dias conosco, Narazaki provou ao mundo que era a reencarnação de Medas. Logo na estréia, nas dunas da Joaquina, atropelou uma senhora com sua prancha de sandboard, atrapalhado com muita areia nos olhos. “Poderia pegar você ou ela, André. Tive que escolher”, confessou o japonês.

Horas depois, estava a bordo do caiaque na lagoa. Mesmo lugar onde André e Adilson já haviam virado no dia anterior, mas com ventos um pouco mais fortes. Já no meio da água, Narazaki descobriu que não conseguia remar. O vento o empurrou para muito, mas muito longe da margem, e não demorou muito para que virasase. Enquanto aguardava pelo socorro, fez outra difícil escolha: duas mãos para segurar o caiaque, o remo e os óculos. Preferiu os dois primeiros, deixando a marca das suas lentes no fundo da Conceição.

A despesas com as novas lentes não foram suficientes. No dia seguinte, Narazaki decidiu brincar nas pedras que separam a praia da Armação de Matadouro, uma bela região ao sul da Ilha. No meio de uma formação rochosa, resolveu esperar a onda chegar e bater em suas costas, justamente enquanto tentava se afirmar. A onda não só apareceu como também derrubou o nipônico, provocando-lhe algumas dezenas de escoriações nos membros. Ops, braços e pernas. Escala na farmácia, material para curativos e de quebra uma pomada para queimaduras. Essa para o “camarão” Adilson, que foi tapeado pelo velho discurso “onde tem nuvens, não tem sol”, durante os últimos cinco dias.

A última participação de Medas ocorreu na volta de Lello e Nara. Faltavam quinze minutos para as sete horas de domingo, os dois arrumavam a bagagem em nossa saudosa pousada na Lagoa, preparando tudo para o embarque no Catarinense, às sete e meia. Eu estava no banheiro, quando Lello gritou.

– Essa não! O ônibus sai as sete e dez!

É como eu sempre digo: todo castigo pra pobre é pouco. E ave Medas. Faltavam vinte segundos para a saída do Latão quando chegamos à rodoviária. Mesmo com o pé esfolado, Narazaki conseguiu chegar a tempo. Só não contava com um acidente na estrada: a viagem de volta para os dois, que normalmente é feita em dez horas, levou 17.

Tudo bem, apesar do Medas, já estou com saudades da Ilha da Magia.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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