Referendo? Plebiscito? Quem perguntou?

Diante do bombardeio de informações em relação a votação do próximo dia 23, todo mundo já sabe o que é um referendo. Também já sabe que essa forma democrática e soberana de ouvir a voz do povo em relação a temas palpitantes é diferente do plebiscito – o primeiro refere-se a uma lei que já existe, no caso, o Estatuto do Desarmamento; o segundo estabelece uma consulta antes que uma lei sobre o tema exista.

Alguns também sabem que somos uma democracia recente: em nossa curta história, tivemos apenas dois plebiscitos, ambos relacionados ao sistema de governo adotado no país. Em 1963, dois anos após a renúncia de Jânio e a adoção do parlamentarismo, a população optou pela volta do sistema presidencialista. Na prática, isso devolveu os poderes de João Goulart que, no ano seguinte, foi deposto pelos militares. A vontade do povo sobre o assunto só foi, digamos, respeitada, em 1993: a propaganda do “Vote no Rei” ou “Vote PAR” eram até bacaninhas. Mas a monarquia e o parlamentarismo foram novamente desprestigiados pela república (65,3%) e presidencialismo (55,7%).

Ou seja, é a primeira vez que o país é convidado participa de um referendo desde a promulgação da Constituição, em 1988. Obviamente, esse instrumento deve ser usado com moderação, já que o assunto é, resumidamente, um gigantesco abacaxi de casca dura. Independente disso, imaginei a frustração de boa parte da nação a ter que resgatar título, sair de casa em pleno domingo, pegar fila… Para responder “sim” ou “não” a uma única pergunta! E se aprveitássemos o empenho do povo para uma mega-votação?

Tá bom, já estou ouvindo alguém gritar. “Caceta, mas eu já nem sei o que responder nessa e você quer complicar a bagaça? Francamente!”. Concordo. Sem falar que a fila ia aumentar, e o horário eleitoral teria que ser substituído por um canal inteiro. Mas não custa nada imaginar um plebiscito-referendo com as seguintes questões, pela ordem:

– Você é a favor do comércio de armas de fogo e munição no Brasil? (Sim ou Não)
– Você é a favor da discriminalização do aborto? (Sim, em todos os casos; Só em caso de risco à mãe ou má formação; Não)
– Você é a favor da venda de nossas reservas de petróleo? (Sim ou Não)
– Você é a favor da redução da maioridade penal? (Sim, para 16 anos; Sim, para 14 anos; Não)
– Você é a favor do pagamento da dívida externa brasileira? (Sim ou Não)
– Você é a favor da formação do bloco econômico Alca? (Sim ou Não)
– Você é a favor da discriminalização das drogas? (Sim, todas; Só maconha; Não)
– Você é a favor da reeleição para cargos executivos? (Sim ou Não)
– Você é a favor da divisão de cotas para negros nas universidades? (Sim ou Não)
– Você é a favor da avaliação de cursos universitários através do Provão? (Sim ou Não)
– Você é a favor da recriação do Estado da Guanabara? (Sim ou Não)
– Você é a favor da redivisão dos estados, criando 18 novas UF? (Alternativas múltiplas para cada pedaço)
– Você é a favor da indepedência do estado do Rio Grande do Sul? (Sim ou Não)
– Você é a favor da liberação dos alimentos trangênicos? (Sim ou Não)
– Você é a favor da venda de jogadores brasileiros para o exterior? (Sim ou Não)
– Você é a favor do Campeonato Brasileiro por pontos corridos? (Sim ou Não)
– Você é a favor da oficialização do Corinthians como campeão mundial? (Sim ou Não)

Faltou alguma questão palpitante? Ficou com vontade de responder? Minha sugestão: poderíamos reunir todas e mandar para algum desocupado que conheça flash, que montaria um site bobo com o desenho de uma urna eletrônica e a sequência de perguntas. O que acham?

Atualizado – Faltou união homossexual. Mas não é preconceito, eu só esqueci mesmo (antes que algum mala venha dizer algo do gênero).

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (12)

  1. Rápido e rasteiro:

    1)Não
    2)Sim, em todos os casos
    3)Não
    4)Não
    5)Não
    6)Não (do jeito que está proposta atualmente)
    7)Só maconha
    8)Sim
    9)Sim
    10)Não
    11)Não
    12)Não
    13)Não
    14)Não
    15)Sim
    16)Sim
    17)Não

  2. SENSACIONAL! Eu quero brincar desse site em Flash! Eu quero, EU QUERO! 😀 Me ofereceria pra fazer o site, mas não sei como fazer pra registrar todas as respostas de todos que participaram e exibir gráficos com os resultados.

    E vou te falar, não tô reclamando nem um pouco de participar desse referendo, e por mim a Câmara e o Congresso podiam tranquilamente ser extinguidos e substituídos por Plebiscitos e Referendos. Eu não me importaria nem um pouco de votar todas as leis e resoluções, tipo umas três vezes por semana. É sério! 🙂

    Abração, Marmotão!

  3. Opa! Se fizer a urna em flash, armazenando as respostas de cada uma das perguntas em um array e depois enviar tudo de uma vez por post, eu faço o banco de dados e disponibilizo depois os resultados… mas o flash eu não mexo ;P

    Seria interessante que a pessoa entrasse com o e-mail dela como “título eleitoral” para ela receber depois um e-mail com o resultado da enquete.

    Será que sai algo disso?

    Abraços…

  4. Alysson e Marmota, se vcs quiserem fazer essa parceria, ‘tamos aí! O Alysson pode fazer a programação e eu posso fazer o Flash, o André entra com o conteúdo, hehehe! Por mim, fechou! Me e-meiem! trotta@mac.com

  5. Acho salutar o uso freqüente de mecanismos como referendo e plebiscito, especialmente em temas polêmicos que os parlamentares não têm “colhões” para decidir. Vox populi, vox dei. Deveria haver mais referendos como esse, especialmente em anos não-eleitorais.

  6. Se a moda dos referendos pegar, estamos perdidos. Isso é uma forma sacana de eliminar direitos individuais justificando como se fosse a “voz da maioria”.

  7. Faltam mais algumas perguntas:
    – Você é a favor de que fuzile em praça pública político corrupto?

    – Você é a favor de que Paulo Maluf seja preso em uma cela com paredes de vidro, e exposto em praça pública?

    Seria uma ótima…

  8. Os caras já decidem muita coisa importante sem nos consultar. Por quê esse referendo agora?
    A verdade, é que essa questão, que já transitava nos corredores do planalto, veio servir de cortina de fumaça para a sujeira de Lulinha e seus patetas.

  9. Po eu acho que nao devia ser proibido o uso da maconha porque nao faz mal a ninguem que nao usa. A maconha tambem melhora o funcionamento do figado, é um expectorante eficas, ameniza dores, é um bom calmante. Todos os fatores colocados acima sao provados cientificamente. Eu soh acho que nao faz mal a quem nao usa e muito menos pra quem usa!

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