RECA 2006: Figurinhas da Copa ganham a mídia

Em um mês desde o lançamento do álbum de figurinhas do Mundial, cheguei a duas conclusões. A primeira: os colecionadores são, em sua grande maioria, crianças, adolescentes e jornalistas esportivos. O troca-troca de crominhos é intenso em praticamente todas as aglomerações do gênero, especialmente em treinos e jogos de futebol. A segunda: a mídia nunca explorou com tanto afinco a pauta “figurinhas da Copa”. Tema que ganhou destaque em todos os jornais paulistanos e em muitos sites, como o Portal Terra.

Um dos repórteres interessados no assunto foi o Talis Maurício, do Jornal do Trem. Ele caiu aqui no MMM a procura de colecionadores de álbuns de figurinha da copa para fazer uma matéria. Personagens não faltam na comunidade do Orkut sobre as figurinhas da Copa, muito menos no Mercado Livre – como por exemplo o sujeito que tentou vender o álbum da copa de 70 por cinco mil reais. O resultado foi o texto abaixo, gentilmente cedido pelo Talis.

Copa do Mundo atrai colecionadores de figurinhas: Amantes do futebol, eles colecionam o álbum do mundial por prazer, informação e paixão ao esporte

Quando chega a Copa do Mundo, muitos tabus reaparecem e cada cidadão retoma seu ritual de comemoração. Uns pintam ruas e muros, outros usam camisas antigas da seleção, compram cornetas barulhentas e tantas coisas mais. Mas, para alguns, quando o assunto é a Copa, a grande tradição é colecionar o álbum de figurinhas do mundial.

Apaixonados por futebol, os colecionadores o consideram um documento histórico e não medem esforços para completá-lo. Dinheiro para gastar nas bancas, trocas com os amigos e negociações para conquistar a desejada figurinha fazem parte da brincadeira que, desde a década de setenta, atrai pessoas de todas as idades.

A prática atravessa gerações. É o caso do comerciante Luiz Carlos Garcia, 38 anos, que coleciona o álbum da Copa desde 1982. “Coleciono por vício. É uma curtição, um hobby, um prazer. Abrir os envelopes é um tesão”. Ele, que tem todas as edições completas, diz não ter pretensões para parar com as coleções: “Ficarei velho e continuarei a comprar. Pretendo passar a tradição de pai para filho”.

Este é o primeiro ano em que a estudante Aline Milício, 15 anos, começou a colecionar. Segundo ela, a idéia é continuar a tradição nas próximas Copas. “Adoro futebol e achei interessante o álbum, até mesmo para ficar um pouco mais informada”, diz a jovem.

A brincadeira é levada tão a sério, que no orkut – site de relações pessoais – existe uma comunidade própria para o assunto. Com o nome “Figurinhas da Copa 2006”, os colecionadores do Brasil inteiro fazem comentários sobre os jogos, bolões e combinam encontros para trocas.

No Mercado Livre, site onde é possível comprar e vender qualquer tipo de produto, um vendedor do Rio Grande do Sul, que se identifica como Webnauta, colocou à venda o álbum da Copa de setenta pelo preço de R$ 5.000,00. Para ele, “trata-se de uma jóia rara para colecionadores, inexistente no Brasil”.

Existem também os que prezam pela informação. O assessor de imprensa Juliano Macedo, 19 anos, que faz coleção desde 1990, diz que sempre lê no álbum sobre os jogadores e as seleções, o que o deixa mais informado para o mundial. Ele, que coleciona também camisas e ingressos de futebol, conta que tudo a respeito do tema o atrai.

Fabricado desde 1970 pela Panini, o álbum de figurinhas do mundial é o único guia oficial com fotos e informações licenciado pela FIFA (Fédération Internationale de Football Association). É vendido em 110 países, em diversos idiomas, e segundo o diretor-presidente da Panini Brasil, José Eduardo Severo Martins, 56 anos, é o produto mais vendido atualmente pela empresa.

“Este ano as vendas estão maiores que as de 2002. O Brasil está melhor qualificado, tem chances de ser campeão e a procura é grande por quem gosta do esporte”, diz Martins.

Foram colocados 500 mil álbuns à venda nas bancas até agora, sendo que houve uma tiragem de 30 milhões de envelopes – com cinco cromos cada – de abril a maio. Em toda a América Latina, são fabricados por dia 2 milhões e 800 mil envelopes. De acordo com o diretor-presidente, a distribuição de 3 milhões de álbuns gratuitamente nos jornais Folha de S. Paulo e Agora incentivou bastante os leitores a colecionar.

Colecionar não é besteira – Para o professor doutor em Ciências Sociais, Aurélio Eduardo do Nascimento, 49 anos, a tradição de colecionar o álbum da Copa do Mundo não é uma besteira e pode até mesmo servir de registro histórico.

“Não vejo besteira nas ações humanas desde que não prejudiquem terceiros. Se é um desejo e a pessoa se satisfaz com ele, não vejo nenhum problema. Muito pelo contrário, que ela seja feliz na atitude dela, que é como outra qualquer da vida cotidiana”. Segundo o sociólogo, a coleção é um recurso de lembrança, de memória e de documentação histórica.

Nascimento acrescenta ainda que o hábito da coleção reflete o amor do brasileiro pelo futebol. “Coleção não é uma questão brasileira, é algo que perpassa sociedades, histórias e comunidades, e de certa forma está vinculada à paixão, que é globalizada, pelo futebol. A proximidade da Copa aflora essa paixão que existe pelo esporte”.

Porém, o sociólogo ressalta que é preciso tomar cuidado com o vício, que acaba por tornar o colecionador um consumidor desenfreado de figurinhas. “A gente tem que negociar essa compra, senão fica uma coisa viciada”, conclui.

Minhas faltantes – Ainda estou um pouco longe de completar o álbum, mas acredito que eu chego lá em 30 dias, ou seja, antes da Copa. Ainda corro atrás dos escudos da Polônia, Brasil, Ucrânia e Espanha (talvez o escudo mais difícil) alguns jogadores de Angola, Holanda, Itália e EUA (sem sombra de dúvidas, os países mais complicados).

Encontros e desencontros – Dias atrás fiz uma abordagem digna de “viciado”: encontrei um sujeito abrindo pacotinhos no shopping Santa Cruz e, sem pensar duas vezes, perguntei se ele queria trocar. A resposta me deixou desconcertado: “puxa, estou organizando isso para o meu filho, não sei quais ele tem ou precisa”. Puxa vida.

Poderia ter mais sorte se tivesse aparecido em um dos encontros promovidos pela galera do Orkut no shopping Eldorado. Há duas semanas, logo na primeira tentativa, foram 30 pessoas ocupando umas oito mesas em plena praça de alimentação. Provavelmente o número deve aumentar antes do Mundial.

Eventos assim se transformaram em material de divulgação: recebi um release sugerindo uma matéria sobre a banquinha Space Box do Shopping Jaraguá, em Campinas, que chega a reunir 100 colecionadores num único final de semana. Que beleza, hein?

Figurinhas pra quê? – A Lara registrou aqui um comentário bem pertinente: “as listas de convocados ainda não foram divulgadas, certo? Como tá lá o nome da galera que vai pra Copa? Tá certo que tem uma boa turma garantida, mas vai que um f* o joelho pela milésima vez… E aí?”.

Pois é, a lista dos 23 convocados nas 32 seleções só será conhecida na segunda-feira. E é claro que a Panini jamais iria lançar seu álbum às vésperas do Mundial – quem iria correr atrás das figurinhas de Togo ao fim da Copa? O problema é justamente esse: figurinhas de gente que sabiamente não vão ao Mundial, como o italiano Christian Vieri ou o norte-americano Frankie Hejduk. Duas figurinhas daqueles países difíceis. Blé.

Mais uma vez – Chegou aqui em busca de trocas? Experimente a comunidade do Orkut sobre as figurinhas da Copa! Aliás, é exatamente essa a resposta que envio por e-mail a todos os para-quedistas que caem aqui em busca do tema.

André Marmota pode perder um grande amor, um amigo de longa data ou uma oportunidade de trabalho... Mas não perde a piada infame. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (11)

  1. André, se vc ficar sabendo de encontros como o que houve no Eldorado, me avisa por favor… É que eu não tenho cadastro nem acesso ao Yakult…

    Um abraço!

  2. Ah, e quanto aos convocados, é sempre um tiro no escuro. Por exemplo: quem diria que o inglês Rooney não iria à copa por contusão? O barato mesmo é o ATO de colecionar, e não propriamente as figurinhas em si…

  3. Pinguim, os encontros no Eldorado acontecem às sextas-feiras, às 20 horas, em frente ao McDonalds (3 Piso).

    Na última sexta, mais de 40 doidos apareceram e eu enchi meu álbum nesse dia.

  4. Ah! Mais um comentário: eu já fui procurado pela redação do Estadão e da Época para falar das figurinhas.
    Essa pauta está mais batida que as portas do Marmoturbo.

  5. A tv também tem explorado bastante tema, em especial o Juca Kfouri. Ele mostrou sua coleção particular. Acho válido, principalmente a criançada que está começando a se interessar pelo esporte e não sabe de outros times. Meu irmão colava figurinha com grude, que a gente fazia com água e farinha de trigo. Velhos tempos! (rs*)
    Beijus

  6. O jornal La Gazzeta Dello Sport está relançando os álbuns de todas as copas. Por aqui sempre fazem o maior sucesso. Aliás, a Gazzeta ganha dinheiro “até” com a venda de jornal.

  7. Bom sempre coleciono os albuns…o album e as figurinhas separadas…o bom que de um tempo para tras é que nós conseguimos encontrar pessoas em “bando” para trocar…se alguem precisar da copa de 94 ou 90 ainda tenho figurinhas…e pode ter certesa que fim de semana que vem estarei em um desses encontros…dizem que do Space Box é o melhor até agora…. mas no terminal 2 está bom pra troca….ainda me acho um sortudo pois as mais dificeis eu já tenho…o negocio é comprer de 10 em 10 e em bancas diferentes

  8. na rua sete de abril en frente da telefonica encontrei muita gente vendendo e trocando figurinhas da copa vale apena ir ver eles estao la todos os dias no horario comercial

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