Taí uma pergunta que faço sempre aos incautos que me procuram, em especial vestibulandos desesperados (e a época é essa), assim que descobrem o que diabos tento fazer da minha vida para sobreviver. Antes de ludibriá-los com mensagens positivas e apaixonadas, adianto o inevitável: “bem feito, quem mandou não estudar?”
Ao menos agora tenho mais subsídios para responder a essa turma ansiosa por aventuras dignas de Clark Kent: este artigo, reproduzido abaixo, de Adriano Silva, um sujeito que poderia seguir sua próspera carreira na área de marketing, mas decidiu por sua vocação – hoje é diretor de redação da revista Superinteressante.
Pessoalmente, conto nos dedos de uma mão os indivíduos que atendem a maioria dos pré-requisitos abaixo. Se você se considera um deles, é a sua chance de abrir caminho no disputado mercado dessa profissão.
Recebo muitas mensagens de gente interessada em jornalismo. Perguntam o que é necessário para ser um bom jornalista, qual a rotina da profissão, se eu acho que o diploma é necessário. Resolvi, nesse mês, falar um pouco desses três aspectos do jornalismo com você. Se você jamais considerou a vida numa redação, é a oportunidade de rever essa posição. Se realmente essa não for a sua praia, ao menos você poderá se divertir entendendo melhor como vive essa turma – da qual faço parte – que passa dez, doze horas por dia à frente de um computador, de um gravador, de um microfone, de uma câmera, de um telefone…
O que é preciso para ser jornalista – Para ser jornalista, leia e escreva muito. E, quando cansar, leia e escreva um pouco mais. Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Ruy Castro, Ana Miranda, Rubem Fonseca, Eça, Machado, Verissimo. Leia tudo deles. Duas vezes – uma por prazer estético, outra com olhar analítico de aprendiz interessado.
Ser jornalista implica ler profissionalmente um bocado de coisas que você não leria por interesse pessoal. E falar com um monte de gente que você jamais convidaria para jantar na sua casa. Implica ser muito curioso, fazer muitas perguntas, ficar incomodado com questões irrespondidas, conviver mal com a própria ignorância.
Ser jornalista demanda também humildade. (Pelo menos para quem deseja fazer bom jornalismo.) Bons repórteres não sabem das coisas, mas conhecem quem sabe. Bons jornalistas sabem que não são as suas opiniões que interessam aos leitores, mas as opiniões dos especialistas nos assuntos em pauta, das fontes que eles ouvem e entrevistam. Esse exercício de modéstia, contrição de ego e honestidade com o leitor não é para qualquer um. Se o que o atrai em jornalismo é o púlpito, a oportunidade para empurrar suas teses para um monte de gente, troque já de idéia. Isso não é jornalismo – é opinionismo, é articulismo. Jornalismo, na mão contrária, está muito mais para escutar do que para falar, está muito mais em perguntar do que em responder. (Uma pena que a grande maioria da imprensa no Brasil seja imatura, quando não irritante, no que toca a essa questão. Várias vezes você abre uma página e encontra um panfleto disfarçado de reportagem.)
Trate também de falar inglês como um native speaker. More um ano ou dois fora do país. E leia pedagogicamente as matérias de capa das americanas Time e Newsweek e da inglesa The Economist, as três melhores revistas do mundo. Não há melhor escola.
Qual é a rotina de um jornalista – Em revista, costumamos chegar às 10h e sair às 20h. Em jornal, a turma costuma chegar depois do meio-dia e só sair lá pelas 22h, quando a edição do dia seguinte desce para a gráfica. Em rádio, televisão e internet, que ficam 24h ligados no lance, o jornalista costuma trabalhar num dos três turnos de oito horas que compõe o dia.
E a rotina é aquela: ler, escrever, reescrever, conversar com gente ao telefone, entrevistar pessoas, pesquisar muito. Repórteres vivem mais na rua, apurando os fatos, as histórias. Editores vivem mais na redação, na cozinha, junto com o pessoal da Arte, tratando de casar textos e imagens, construindo e polindo as páginas. Designers gráficos, aliás, são cada vez mais importantes e reconhecidos no mundo do jornalismo. A uma reportagem não basta ser boa, ela tem que ser bonita também.
Diploma é necessário? – Acho que, em jornalismo, o diploma tem que se impor por si só. Ou seja: ele não deve ser obrigatório. Se o curso de jornalismo for bom, ter o diploma ajudará a abrir portas e todos vão tratar de ter um. Porque o empregador escolherá quem tiver esse pedigree. Se o curso for inútil, como é a grande maioria atualmente, será inútil ter o seu diploma. E não adiantará o governo ou os sindicatos forçarem a existência artificial desse pedigree. Meu ponto é não amarrar essa necessidade numa lei. O próprio mercado, por meio de uma relação de demanda e procura, oferecerá a melhor regulamentação para essa questão.
Ao contratar, não faço questão de ver o diploma do sujeito. Quero, sim, gente que saiba escrever, editar e apurar do modo exímio. Se ele ou ela aprendeu isso na escola, no mercado ou se já nasceu sabendo, não me interessa.
Em tempo: a discussão sobre diploma merece um capítulo a parte.
O que eu considero mais difícil no jornalismo atual é saber se manter distante das barganhas entre os jornais e os políticos. Muitas vezes, principalmente em cidades pequenas, o jornalista recebe ordens para omitir informações ou, em casos mais graves, deturpar os fatos em prol da boa imagem de vereadores, prefeitos e deputados.. até mesmo do presidente.
Cabe ao profissional se esquivar dessas “chantagens”, mesmo porque quem sai ganhando ($) é só o dono do jornal, nem que isso custe a sua cabeça. Parece romanrtismo em tempos de crise arriscar o emprego por querer seguido princípios… Mas, escolheu ser jornalista, agora aguenta.
O texto do Adriano Silva é utópico. Realmente dá para contar em poucos dedos quem se encaixa na lista. E o romantismo da profissão acaba com o tempo, com a prática das redações. Mas é preciso ter esse espírito romântico quando se entra no mercado. Vi isso em Atenas. A Universidade Católica de Brasília enviou um grupo de estudantes para cobrir as Olimpíadas e as Paraolimpíadas (aliás, como tem mulher bonita em Brasília). Pareciam eu na minha época da faculdade, fazendo a Persona, querendo abraçar o mundo. Hoje esse encanto diminuiu, o trabalho se tornou mais “comum”. Isso não significa que precisamos nos vender ao sistema. É só uma questão de adaptação (o que não é algo em tese ruim, desde que você mantenha o seu caráter intacto). Mas isso o Abramo já falava com a tal “Ética do Marceneiro”.
Concordo que o texto é bem utópico… e essa de que povo de jornal entra depois das 12h e sai às 22h é balela total, principalmente às sextas-feiras hahaha
Mas o fato é que jornalismo já deu, não é mais profissão. Eu sou a favor de todos os jornalistas fazerem um curso de oratória com o Reinaldo Polito e retomarem a gloriosa era das rádionovelas.
Aqui nas Minas Gerais, conto nos dedos bons jornalistas, que tô prá te dizer que nem chegam perto do que está neste post. Admiro a profissão, mas infelizmente não consigo admirar muitos profissionais. Talvez a utopia tenha que virar realidade! 🙁
Opa, eu quero ver essa discussão sobre o diploma. 🙂
O texto dele é tão utópico que, por saber que não é nada disso, já estou pensando em o que fazer daqui uns 10 anos…
eu quero trabalhar na área de jornalismo mais o que eu quero mesmo é ser reporter como faço para conseguir alguem pode me ajudar?Tenho esse sonho e eu vou lutar custe o que custar para realizar meu sonho de ser reporter.obrigado!
ai para ser jornalista ou repórter , tem que ter o diploma , mais e a força de expressão não e livre . por favor responda .só quero saber se e preciso diploma . entendido . abraço