Lembram-se de uma certa profecia do Julio Daio Borges, do Digestivo Cultural, baseada na idéia de que os blogs não passam de um modismo passageiro? Segundo ele, “num período de seis meses, os blogs que você acessa hoje deixarão de existir”.
De lá para cá, muitos discutem se os blogs vão substituir o jornalismo, ou simplesmente admiram a adaptação de suas ferramentas ao dinamismo da Internet, transformando pessoas comuns em escritores dos mais variados assuntos, convivendo pacificamente com todas as mídias e interagindo com elas e blábláblá. Inegavelmente, constatamos que aquela profecia não era tão absurda: não há blog que dure para sempre.
Devagar nas pedras, isto não é uma despedida – sou taurino, daqueles bem teimosos, o que garante uma boa sobrevida a este espaço. O mesmo não aconteceu com fantásticas criações que vão deixar saudades, entre outras centenas de blogs correntes em nosso dia-a-dia. Faça uma experiência qualquer hora dessas: visite os seus arquivos, entre nos comentários antigos e vá checando os links quebrados daqueles assíduos visitantes de outrora.
Enfim, agora que nos demos conta que os blogs nascem, crescem, se reproduzem e morrem, fica a pergunta: quanto tempo nos resta? Seguem alguns comentários registrados aqui sobre o tema em 2003 (é hora de você atualizá-los nos comentários!):
Eu sei que meu blog está acabando quando eu começo a postar letras de música. Acho que já vi muita gente fazendo isso também. Parece que nossas palavras não nos ajudam mais a definir os nossos sentimentos e a monotonia tomou conta da vida. Hoje eu penso diferente, ao inves de acabar com o blog eu tento mudar minha rotina! – Alysson Auad, que há tempos não bloga mais.
André mon ami, escrevo em blogs desde o longíquo ano de 2000. Matei dois deles. Outro está na UTI. Já o blog da vez respira por aparelhos, ainda que seu estado de saúde tenha sido considerado estável. Acredito que os blogs que criamos e mantemos representam o estado das coisas e do espírito que vivemos em determinados momentos da vida. Percebo isso quando vou lamber minhas crias - todas diferentes umas das outras: havia o blog depressivo, o que “relações públicas”, o ególotra. Não que eu tenha conseguido fugir de posts com estes adjetivos. Na verdade, o que eu tento é ser fiel a quem sou. Daí eu achar que o blog de agora tem bastante a minha cara de hoje. Enfim... elucubrações e um pedido: não enterre o seu blog, okay? – Suzi Hong, que deve manter no IB seu quinto ou sexto blog.
Andre, passei por essas fases do blog: descarrego, empecilho da vida real, entre outras, mas agora estou numas de simplesmente falar. Falava sozinha e acho que, com o blog, tenho um otimo meio de falar sozinha e lembrar direitinho o que disse pra mim mesma. Esse ja é o meu quarto blog desde 2000 (quando eu usei ele pra escrever um livro que ficou pela metade e hoje me arrependo de ter jogado fora num acesso de raiva) e, algum dia, vai deixar de se parecer comigo... Nesse dia, crio outro. Filhos da internet que somos, não conseguimos parar! – Laura, filha da Internet, que já parou…
Acredito que a sua vida útil pode variar de acordo com a disposição do blogueiro. Assuntos para escrever é o que não faltam, o que se perde é a paciência para transformá-los em um post como esse. A coisa é complexa até mesmo para aqueles que praticamente vivem online: ou o mundo lhe convoca para salvá-lo a todo momento, ou a sessão do blogger vira sessão de descarrego, mas sem conseguir espantar os males.
Outro sinal de que as coisas não vão bem é quando o blog começa a atrapalhar o seu dia-a-dia. De repente, você perde o controle e sua vida gira em torno disso. É melhor dar um tempo quando postar vira uma obrigação, palavras soltas são trocadas por satisfações aos poucos leitores – ou pior, as mesmas palavras se tornam traiçoeiras, acabam ferindo ao invés de entreter. Nada podemos fazer quando a alegria em atualizá-lo e vê-lo crescer – aquela que motivou sua construção – desaparece.
Posso estar exagerando, mas sempre digo que os blogs representam a extensão de nossas idéias. Por isso, devem ser como a nossa vida: enquanto houver alguma razão para existir, não podemos nos deixar abater. Seguimos em frente, focado em algum objetivo mas sem esquecer de cuidar da saúde, valorizar cada detalhe ou mesmo aproveitar os bons momentos.
(Postado em 07/12/2003)
Texto belo e preciso, como sempre.
E acho que é isso mesmo: com o perdão do clichê, nada é eterno. Eu mesmo já criei e acabei com três blogs e não tenho a menor dúvida de que um dia vou acabar com o atual.
Aproveitemos enquanto é tempo, né? O legal é se despedir “no auge”, hehehe.
Fala, Marmota, quanto tempo… Bom saber, via Interney, que voce continua vivo! Aquela polemica, minha, tinha data certa para morrer, tambem… Nao sei se acredito mais na minha propria profecia. Mas acho legal a sua interpretacao, mantem minha profecia viva! Na verdade, aproveito o ensejo, agradecendo ja’ o link, para indicar a voce, e a seus leitores, outra polemica em que acabei de me meter (comente la’ ou de, aqui mesmo, os seus pitacos, abracao, ate’ a proxima!): http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2277
Bom, quando esse calhau entrou no ar, eu nunca tinha feito um blog. Agora posso pitacar. Os blogs acabam porque são criados por algum motivo: explicitar sua verve artística, exorcizar fantasmas, falar mal dos outros, passar o tempo, arrumar mulher, propagar besteiras, etc e tal. Quando essa necessidade acaba, o blog perde o sua essência e se apaga. Até surgir em outro lugar, com outra roupagem e outro objetivo.
Abs!
Prezado André!
No meu caso a profecia do Julio se confirmou. Mas acabei continuando a blogar em outro endereço…
Vc está muito certo quando diz que um blog é a extensão de idéias. Talvez devessemos também olhar por que algumas pessoas continuam com seus blogs há tanto tempo. Talvez sejam as mesmas pessoas que nunca trocam o número do celular.
Interessante é que muitas pessoas que matam blogs voltam a blogar, com novo endereço, diferentes temas. Talvez seja como reformar uma casa, um quarto, mudar de cidade. Ou talvez pelo simples prazer de mudar algo em suas vidas.
A vida do meu querido e finado primeiro blog passou diante dos meus olhos agora.
Maldade, hein Marmota! Acordou a minha saudade dele, coitado do Claquette… morreu tão jovem!
Que ANTA que eu fui de ter deletado, GRRR!
Caraca, eu já postei muita letra de música, até porque é um assunto muito presente no blog. Mas, creio que um dia as coisas acabam mesmo. Mas, sinto a necessidade de ter um lugar para me expressar. Eu sou da geração de fanzine de xerox, hehe. Passei muitas madrugadas organizando uma edião que muitas vezes poderia ser a única. Escrevi em vários titulos e agora tenho um que é facil de gerenciar e de publicar. Não vejo um fim próximo para ele.
Há um ano atrás disse a um amigo: cada post meu é como se fosse o último. Nunca sei se conseguirei escrever outro. Tem fases em que escrever um poema é tão natural que penso que nunca mais escrever em prosa. Outras em que escrever em prosa é tão natural que penso que nunca mais vou escrever um poema. Em outras as palavras parecem simplesmente não faze mais sentido, e escrever se torna uma exercicio de hipocrisia. Fato é que tenho um blog desde 2003 que criei sem saber do que tartaria e descobri logo no primeiro post escrito mto sem querer quando pensei: não sabia que eu sabia escrever assim. (não que fose bom, mas era diferente…) Há um ano e meio meus posts são semanais. Sim, posto só uma vez na semana! Adoro ler, adoro música, adoro outros blogs, adoro teatro… Se fosse falar disso não seria muito dificil achar uma letra de música, ou uma frase de um livro, uma peça para poder comentar… sempre dava para ter assunto. E as vezes deixo claro a minha inspiração nestas coisas lá no blog. Mas, desde o começo até hoje – pelo menos – tenho busco usar o blog como um exercicio para treinar a minha sensibilidade, um exercicio de escrita e inspiração. Se fica bom? Não sei. Tem gente que acha que sim, outros que acham que não, eu mesma não me decido. Sei que independente do que vai acontecer com o meu blog daqui para frente, sei que ele já mudou a minha vida, que devo muito a ele, e isso, para mim basta. Como se não bastasse ainda fiz muitos amigos e alguns se dizem tocados por alguns dos meus textos. Só lembrar disso é mais do que o suficiente para um sorriso brotar em meu rosto.
Beijos
“O Fantástico Mundo de Auad” morreu depois de um terrível mal-humor de seu dono, hehehehe… Comecei a ver que só estava usando o blog para malhar os judas da minha vida e não mais para me divertir, passou a ser um blog de desabafos e de um humor sempre ácido demais, aí um dia eu acordei mais mal-humorado que habitualmente e ele virou “O Finado Mundo de Auad”.
A idéia inicial era contar as coisas do dia-a-dia sob minha visão, sempre muito fantasiosa e cheia de humor, por isso ele morreu.
Não posso nem reclamar da morte dele, pois durante o período de vida ele me conectou a várias pessoas interessantes e uma dessas virou minha namorada 3 anos depois do fim do blog. Então não sei se posso dizer que o blog me ajudou a conquistar as garotinhas, posso? 😛
Bom, agora somos ex-blogueiros apaixonados há 1 ano…
Deixo aqui para todos a promessa de voltar a blogar, mas como meus amigos dizem, sempre deixo ficar na promessa… mas quem sabe?
Só queria comentar o comentário da Bia Cardoso: Será que as pessoas que trocam muito de número de celular acabam com o blog mais rapidamente, Bia? Eu já troquei de número mais de 6 vezes e tenho celular desde 97! 😛 Quase 1 número por ano… estou impressionado!
Abraços a todos, beijos pra menina do espelho!
Já que fui citada, vim dar a minha participação o/
Quando vi que meu blog tava servindo única e exclusivamente pra chorar as mágoas de um namoro que tinha acabado, acabei com ele.. Em fevereiro de 2004, depois de ter sobrevivido por 3 anos, ele foi pro céu dos blogs, e foi melhor assim. Melhor morrer enquanto ainda tem ibope, né? 🙂
E ele me rendeu tantas coisas boas! Além do namorado, ótimos amigos, que fazem parte da minha vida até hoje!
Beijos a todos, deu até saudade desse tempo!