Tive o prazer de comemorar em grande estilo, neste domingo, a chegada dos 40 minutos do segundo tempo de 2007. Foi num saveiro em Angra dos Reis. Até então, a única menção que conhecia a esse nome era a picape de pequeno porte da Volks (o que pede a piada fraca detected: “como vai caber tanta gente em uma Saveiro?”).
Mas enfim. Se Lello Lopes, meu companheiro de viagem no velho continente, souber dessa rápida aventura no litoral fluminense, fatalmente virá com alguma gracinha – ainda que eu o deixe morrendo de inveja diante dos detalhes do passeio. Isso porque a expressão “passear de barco” ganhou uma nova conotação, digamos assim… Bom, melhor explicar.
Enquanto o Brasil curtia o feriado da independência, passamos a manhã de sexta, sete de setembro, no traslado entre Amsterdã e Copenhague. No dia seguinte, já curtindo o ótimo café do Hotel Sct. Thomas, fomos abordados por mais um brazuca.
– Nossa, é tão difícil ouvir a língua da gente por aqui…
Normalmente, quando faço uma viagem dessas, costumo dispensar dois tipos de tratamento aos conterrâneos. A maioria ostenta sua presença em países do primeiro mundo, como se fossem eleitos pelo destino, curtindo um privilégio fora do alcance da ralé suburbana. Em casos assim, o diálogo curto e grosso costuma ser:
– Aaaaaaaaaa!!! Brasileeeeiiiro!!!
– É, infelizmente.
Mas não foi o que pareceu desta vez. O sujeito, já nos seus quarenta e poucos anos, mostrou-se despachado desde a primeira frase. Nem perguntou nossos nomes e já foi logo cumprimentando, perguntando coisas corriqueiras – o que estão achando da cidade, quanto tempo vão ficar, essas coisinhas. Revelou que também é de São Paulo, que acha impossível transferir a civilidade dinamarquesa para o Brasil (de fato) e que, em poucos dias, estaria na Ásia, com um amigo holandês.
Ele não era o primeiro brasileiro boa gente que havíamos esbarrado, mesmo em Copenhague. Até aí, a importância do sujeito era a mesma dos outros interlocutores do nosso passeio. O fato do cidadão falar e se movimentar de um jeito mais alegre também passaria batido.
Tudo mudou na manhã de domingo. Novamente, a casualidade do café da manhã promoveu o nosso encontro. O papo começou com o trivial “o que fizeram de bom até aqui”. Caminhada até a estátua da pequena sereia no porto, almoço no canal de Nyhavn, palácio real e troca da guarda, museu nacional, arredores do parque Tivoli e estação central, castelo Rosemborg, a torre redonda da rua Stroget – que, diga-se, reúne os melhores locais de compras perdulárias de Copenhague.
– E vocês já fizeram o passeio de barco?
Verdade, dá para conhecer a cidade navegando. Mas tínhamos pouco tempo (e dinheiro), por isso optamos pela boa e velha sola de sapato.
– Olha, eu não sei o que vocês planejaram fazer hoje. Mas se eu fosse vocês, eu faria um passeio de barco.
Já entendemos, e até imaginamos o tamanho da diversão. Mas seria realmente difícil.
– Estou falando, hein? Vocês vão se arrepender… Vir até aqui e não fazer um passeio de barco!
Tá bom, chega dessa conversa. Vai viver a sua vida, a gente cuida da nossa. Ainda bem que era o último dia… Enfim, deu tempo ao menos de perguntar seu nome. Respondeu o mesmo sobrenome do Tuca.
– Mas não vão esquecer do passeio de barco.
Depois dessa, não fica difícil entender a implicância que tivemos com o rapaz. Em especial o Lello, que perde a paciência em questão de segundos. Mal saímos do hotel e ele já começou a carregar nos trejeitos GLS, referindo-se ao “passeio de barco” com a ponta da língua encostando nos incisivos superiores. Criou um verdadeiro monstro: pelo menos uma vez por hora, o “primo do Tuca” era incorporado, transformando-se no grande personagem de nossa viagem. Claramente, “passear de barco” virou sinônimo de “sua masculinidade está em xeque”.
Em tempo, para diminuir o grau de ofensa do texto, preferi não usar a expressão criada para definir o “primo do Tuca”. Originalmente, o chamamos assim: pegue o sobrenome do Tuca, acrescente uma vírgula, o artigo definido feminino no singular e, por fim, o aumentativo feminino do substantivo “bicho”.
Ah, sim, uma das metas para 2008 é escrever o tradicional relato de coadjuvantes de Perdidos na Europa 2. Aguardem e confiem.
Você devia ter convidado o Lelo pro passeio de barco em Angra. É uma coisa linda, né não?
kkkkkkk…. coitado!!
Rapaz, de pessoas como esse cara e com o mesmo sobrenome que o meu, já basta o Clodovil! Obrigado pela não-menção ao meu tão castigado sobrenome em mais um contexto, digamos assim, desfavorável… Menos um exemplo pra abastecer o Google ao lado daquele casal de pastores presos nos EUA e do nobre deputado. 😛
Sabe, André, tô com saudade dos nossos passeios de barco pela Europa…
Hernandess (lingüinha sibilando, encostando no céu da boca), A BICHONA? E não era o Clodovil? Cruzesss.