O que você fez em 11 de setembro de 2001?

Tenho a impressão de que meio mundo vai aproveitar o gancho dos cinco anos de ataques ao WTC e escrever algo sobre o tema. Só para variar um bocadinho, garanto que não vou frustrar a sua expectativa e fazer o mesmo.

Era mais uma terça-feira de batente. Meu horário na “lojinha” era às onze da manhã, o que me colocava no ônibus lotado por volta das oito e cacetada. Tempo suficiente para vencer quase uma hora até Itaquera, mais tempo ainda para superar as filas de sempre e garantir um lugar sentado no segundo vagão – o mais próximo do acesso ao sentido Jabaquara, na Sé.

Não costumava ligar para a muvuca: andava sempre com um radinho amarelo e seus fones quase descartáveis. Era bem eficiente: sintonizava AM e FM dentro do trem, ainda que fossem necessárias algumas “mexidas” no fio dos fones, que funcionavam como antena. Nunca tive paciência para ouvir uma emissora só: abusava dos botões de memória, passando por todas as emissoras pop, rock, as de “dentista” e os radiojornais da manhã.

Estava em algum lugar da linha leste-oeste, provavelmente antes da estação Tatuapé, quando o relógio marcava 9h48. Pouco tempo depois, na CBN, algum locutor informava: um avião acabara de se chocar no edifício World Trade Center, em Nova York. Ainda não se sabia quais eram as causas do acidente.

Dito assim, no meio de mais uma manhã sonolenta, a coisa me pareceu uma tragédia aérea, dessas que normalmente aparecem nos noticiários internacionais. As pessoas até ficam chocadas, alimentam aquele pavor natural em andar de avião… Mas logo passei a ouvir outra musiquinha antes do metrô entrar no túnel entre Belém e Bresser.

Pouco depois das dez, antes de desembarcar na estação Sé, nova passada pelas notícias. Então um segundo avião se chocou com a segunda torre, enquanto os primeiros indivíduos com uma câmera na mão ainda tentavam avaliar o estrago provocado pela primeira aeronave. A expressão “segundo avião” fez um “clic” em mim, e certamente em muitos que ficaram sabendo daquilo: aquele não seria um dia como outro qualquer.

Cada um que chegava à repartição fazia uma pergunta parecida com “mas que diabos está acontecendo no mundo?”. Naquele ambiente ainda se pensava um jornal de esportes além de um simpático site com fundo branco, letras laranjas e detalhes amarelos. Mas estavam todos nem aí com o Corinthians de Luxa na Mercosul ou o Guga na Costa do Sauípe. O povo parou para ver Carlos Nascimento que, heroicamente, segurou muita gente diante da Globo naquela manhã.

Foi a primeira vez de muita gente. A primeira vez que o mundo viu um atentado daqueles, a primeira vez que se ouviu falar de verdade em Osama Bin Laden e Al Qaeda… Talvez tenha sido a primeira vez em que tanta gente tenha decidido saber mais sobre essas coisas todas além do avião que caiu no Pentágono, do outro que caiu na Pensilvânia, das quedas das torres, dos cancelamentos dos vôos… Enfim, tudo isso e muito mais, pela Internet.

Só que, ao contrário da TV ou do rádio, quanto mais pessoas buscando informações num mesmo lugar na web, pior. Se nos dias seguintes as capas de todos os jornais do mundo traziam a imagem da explosão seguida por uma série de perguntas sobre “o que será do nosso povo diante dos terroristas?”, quem navegou pelos principais sites encontrou apenas uma pagininha vagabunda, devido ao alto tráfego. Inclusive, este foi o único dia em que o tradicional e prestigiado New York Times se mostrou ao público sem seu tradicional logotipo. Nesse caso, a pagininha era tão vagabunda que o nome do jornal vinha em Times New Roman azul.

É engraçado lembrar dessa data como uma data que, fatalmente, alguém vai perguntar o que você estava fazendo. Assim como, em Madri, foi o 11 de março de 2004 e em São Paulo, guardadas as devidas proporções, o 15 de maio de 2006. Tudo por causa de atitudes humanas que extrapolaram nossa compreensão de mundo.

Só que ao mesmo tempo, diariamente alguém comete “pequenos atentados” aos valores humanos, a ponto de passarmos batido e até mesmo não nos importarmos. É como se precisássemos de um 11 de setembro de vez em quando, para realmente mudarmos alguma coisa – o que, convenhamos, seria catastrófico. Sem falar que, de repente, após tantos “atentadinhos inofensivos” ignorados, será tarde demais.

(Há três anos: enxurrada do 11 de setembro).

Comentários em blogs: ainda existem? (12)

  1. Eu fui saber do ocorrido quando sai do colegio de manha e fui ao trabalho, e no refeitorio da Secretaria da Agricultura, um amigo disse: “Dois avioes bateram naqueles predios enormes nos EUA.” Ai eu falei: “Voce bebeu gasolina, fumou maconha estragada, ou esta vendo muito desenho animado??”

    hehehehe

    Logo vi na internet, em tudo que eh site…falando nas entrelinhas e de uma forma bem baguncada, o tal ocorrido.

  2. Eu estava voltando, exatamente em 11 de setembro de 2001, da minha viagem de formatura pra Porto Seguro.

    No meio da caminho, paramos no aeroporto e vimos as torres pegando fogo na televisão.

    Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido. Alguns ficaram chocados. Outros vibraram com o “declínio do Império Americano”.

    O fato é que o atentado ao WTC salvou o pequeno Bush: reverteu a queda de sua popularidade, legitimou sua política externa intervencionista e o reelegeu em 2004.

    Quando o presidente dos EUA encontrar Bin Laden (se é que vai encontrá-lo algum dia…), deve agradecê-lo profundamente. Sinal de gratidão.

  3. Eu estava na faculdade. Cheguei em casa e meu irmão disse “bateram aviões nas torres gêmeas”. E eu pensando, como assim? Impossível disso acontecer. Precisei ver VÁRIAS vezes para conseguir acreditar. E foi mesmo horrível ver a galera vibrando com o “fim do império”. Impossível não perceber que isso só aumentou o poder do “império”, legitimou todo o tipo de violência cometida por eles.

    A tarde eu comecei a trabalhar numa escola de surdos, rezei um monte pra ter sossego e esqueci. A noite tudo voltou de novo.

    Dias nebulosos, aqueles. A nebulosidade dura até hoje.

  4. Estava na escola quando o atentado ocorreu. Cheguei em casa, e meu pai disse algo como “viu que aquele prédio enorme nos Estados Unidos foram destruídos?”. Na hora, pensei no Empire State; liguei a TV, e acompanhei até onde minha paciência deixou. Chega uma hora que fica saturado, igual desfile de escola de samba, ou comemoração do sete de setembro.

    []’s!

  5. Eu trampava como revisor de texto em uma editora, numa salinha isolada, sem acesso à nada, nada… O pessoal da editoração, que tinha acesso à micros, nos trazia as notícias picadas, a cada 20 ou 30 min. Quando veio o primeiro rumor, lá pelas 10 da matina, a notícia veio da seguinte forma: “Gente, parece que um avião bateu num prédio!”. Eu, que há um 20 min. havia ouvido um barulho alto e grave vindo de fora, pensei: “putz! e foi aqui peto!!!”… hahahahaha

    Só vim saber o que realmente estava acontecendo depois das 2 da tarde, pelo rádio. E me lembro muito bem que uma das hipóteses da autoria dos atentados àquela altura era de serem SUICIDAS JAPONESES DA YAKUZA!!!!!!!! Puts…

    Engraçado como fatos assim conseguem gravar na nossa mente detalhes daquele dia…

    Um abraço!

  6. Eu estava no trabalho, reunido com umas 15 pessoas, quando alguém chegou e contou sobre o primeiro avião. Mesmo sem acreditar, procurei uma TV ligada, e cheguei a tempo de ver duas cenas terríveis no momento que aconteciam: a chegada (e o choque) do segundo avião e a queda da primeira torre.

    Tirei os olhos da TV e olhei para o lado norte de Brasília, imaginando os EUA naquela direção. Lembro de ter pensado: caramba! Isto está acontecendo agora! Foi aí que caiu a ficha, sabe? Não era um programa de TV.

  7. Eu estava na mesma repartição do Marmota. Cheguei por volta das 14h e, pela primeira vez, senti que a última coisa que eu queria saber naquele dia era quem o São Paulo iria escalar no próximo jogo. O duro foi tentar um comentário de algum atleta sobre o atentado. Enfim…que dia!

  8. O mundo acabando e eu fazendo ao vivo de Guga x Saretta…

    Mas o melhor foi o comentário de ‘alguém’ da repartição na hora do segundo choque: ‘Vc não tá vendo que estão só repetindo’. Tá bom…

  9. O triste é ver que a gente esquece de outros atentados não tão inofensivos assim… Outro Setembro que me chocou foi o de 2004, com os terroristas na escola de Beslan. E a vida segue pela TV até a próxima cena chocante…
    =(

  10. Bom, eu não poderia me esquecer, trabalho em uma multinacional e neste dia estava em reunião com 5 americanos.

    Quando deram a notícia, todos foram para frente da TV em um Cofee Break que tinhamos aqui e a choradeira, descrença e sentimento de fim-do-mundo tomou conta dos irmãos gringos.

    Nunca vou esquecer deste dia, por este motivo.

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