São Paulo precisa de Chuck Norris

Começou na sexta-feira, quando alguns presidiários exerceram o direito de visitar suas mães no final de semana – enquanto eu e outros funcionários de empresas privadas trabalhavam domingo. No entanto, a patota aproveitou o indulto para apavorar a cidade. Atacaram postos policiais e qualquer coisa que levasse algum membro do poder público. Foram mais de 80 mortos. Quem ficou no presídio tratou de se rebelar: mais de 80 penitenciárias, cadeias públicas e afins estavam incontroláveis. Até a Al Jazeera, acostumada a divulgar ataques terroristas no dia-a-dia, acompanhou nosso drama.

Tudo por que um cururu apelidado Marola (Marola? Marofa? Mamola?) e outros líderes do PCC, espécie de “empresa modelo do mal”, foram separados e isolados pelo governo estadual. Engraçado que, ao que parece, todos sabiam que essa atitude daria problema: uma amiga ouviu de uma juíza estadual o pedido para que, caso precisasse circular por São Paulo, que saísse à paisana, sem nenhuma indicação no automóvel. Isso na quinta-feira.

Agora não interessa saber se sabiam ou não, se a polícia estava preparada ou eram apenas uma milícia mal paga mas bem intencionada. Todos viram ônibus queimarem, agências bancárias explodirem, ações de guerra na madrugada… Evidentemente, teve muito desocupado que adorou esse clima iraquiano e foi no embalo da onda de terror, deixando as autoridades ainda mais atordoadas.

Falar em autoridade, aliás, é complicado numa hora dessas. Durante boa parte do tempo, enquanto o pau comia, a coisa mais “sensata” que se dizia era “está tudo sob controle”. Vez ou outra ainda apareciam com os braços cruzados, reclamando das operadoras de celular “que não bloqueiam o sinal próximo aos presídios” (claro, inclusive a culpa dos telefones aparecerem por lá também é deles, ou de algum vendedor maroto) ou dos legisladores, que ajudam a manter códigos e leis desatualizados e inoperantes.

Pois bem. Para alegria da bandidagem, nada disso serviu para diminuir a sensação de insegurança na cidade. Pior: durante toda a segunda-feira, as atitudes do poder público, aliado a desinformação do usuário de internet e alguns excessos da mídia ajudaram a confundir ainda mais a população, e todo mundo sabe que o medo se alimenta daquilo que não conhecemos. Então todo mundo ouviu falar que uma estação de metrô foi alvejada, que uma faculdade foi metralhada, que tinha bomba no aeroporto e toque de recolher às oito da noite.

O medo aumentou a ponto de proporcionar aos paulistanos uma tarde inteira na Faixa de Gaza! Comércio fechando, escolas dispensando alunos, empresas liberando funcionários, ônibus voltando para a garagem, gente evitando metrô e andando de táxi, trânsito atingindo 250 quilômetros (o que representa um mínimo de duas horas de trajeto trabalho-casa para qualquer transeunte). O horrô, o horrô, com direito a Ratinho e Datena até a meia-noite…

Finalmente, a terça-feira chegou sem ataques nem ameaças. “Deve ser por que acabou o indulto de dia das mães”, pensei. Que nada! Ao final da noite de ontem, o PCC determinou o fim da onda, e em quatro horas, todas as rebeliões em presídios tinham acabado. Segundo a Folha de S. Paulo, todo o problema acabou após um acordo entre governo e PCC. Que legal! Será que nossos algozes conseguiram perpetuar visitas íntimas, chuveiros com água quente e televisores para a Copa do Mundo? Pra que serviu a segunda-feira de terror no fim das contas? Afinal, quem está sob controle de quem?

Definitivamente, precisávamos do Chuck Norris.

Comentários em blogs: ainda existem? (18)

  1. Puta merda, Marcelo. Abri SECO os comments pra falar a mesma coisa!
    hehehe

    Ontem o que aconteceu foi uma histaria coletiva. Na verdade, na verdade, não havia o que temer. Os alvos eram fixos, bem imóveis ou inanimados.

    Mas você bem disse. O medo se alimenta daquilo que desconhecemos.

    um abraço!

  2. Ah, mas não esquenta: segundo o governador (o que é aquele monstrengo, gente?), está “tudo sob controle”.

    A crise acabou, o Estado (Estado?) fez acordo com o PCC, e a Polícia saiu como salvadora da pátria…

    …até o próximo ataque.

  3. Ops, com todo o respeito ao Mr. Pingüim, mas “não havia o que temer”??????????????????????

    Ah, tá. É verdade, tá certo. Só 90 mortos num fim de semana, coisa normal.

    Temor temos que ter em Toronto, Viena, Estocolmo…São Paulo tá tranqüila.

    Jesus…

  4. O PCC queria promover o pânico, certo? Agora olha só que curioso: houve menos ataques na segunda-feira do que nos demais dias. No entanto, foi o dia em que o caos mais afligiu a cidade.
    Por que? Porque a Globo e o resto da mídia passaram o dia promovendo o terror. Isso mesmo, botando pilha na população em nome do jornalismo e trabalhando para os interesses do PCC ao mesmo tempo.
    O que me deixou mais puto foi quando a Globo ardilosamente interrompeu sua programação normal e anunciou que, em função dos ataques do PCC, naquele dia NÃO SERIA APRESENTADA A SESSÃO DA TARDE. Isso sim foi a gota d´água!

  5. Fábio, (com todo o respeito tb).

    Eu não quero dizer que tá tudo uma maravilha. Mas o que adiantou ontem aquele corre-corre todo? Você acha que, se REALMENTE os caras quisessem atingir alvos civis, teriam feito só DUAS vítimas deste tipo? (sendo que as duas estavam acompanhando policiais).

    Acho sim que a imprensa criou um grande HOAX em torno de tudo isso. Os jornais sensasionalistas, em busca de IBOPE, criaram ontem a tarde um alarme mais forte do que deveria. Um sinal disto é que de manhã estava tudo normal. Depois do meio dia espalhou-se o caos. Coencidência?

    Fechar escolas? Repartições públicas?

    A situação é grave? CLARO QUE SIM.
    Havia notivos para PÂNICO COLETIVO? Duvido muito.

    Um abraço!

  6. Se alguém realmente quiser enfrentar o crime organizado vai ser assim, minha gente. facção criminosa organizada em nivel estadual, e quem sabe nacional, vai reagir violentamente a qualquer sinal de contestação de seu poder. Gente vai morrer e familias vão sofrer, mas o importante é não retroceder. A atitude de isolamento de chefes da facção aqui no piranhão (presidente bernardes fica bem pertinho daqui) é o mais acertado a se fazer. já tive o privilégio de entrar no presidio antes da inauguração e o lugar é um pesadelo. uma celinha pequenininha sem janela (há apenas uma entrada de ar) e no regime disciplinar dos detentos não há televisão e nem material de leitura. não há contato com outros presos nem visita íntima. visitas só depois de trinta dias e se falam através de um vidro a prova de balas. o preso tem uma hora por dia de banho de sol e ainda assim algemado. é um lugar para se esquecer que o individuo existe. Agora, se o governo foi realmente negociar com o chefão ali encarcerado todas as pessoas morreram em vão. Vamos continuar enfrentando esses marginais e mostrar para eles que quem tem o direito de mandar é a justiça. Policiais morreram? sim, mas o risco é parte constante de sua profissão. todos sabem que ao prestar o concurso há o risco de levar uma bala na nuca. ninguém entra nessa sem saber os riscos. o que se pode fazer é melhorar os salários, os equipamentos e garantir uma gorda indenização para a familia do policial morto.

  7. Alguns dizem que a histeria foi maior na Internet (com e-mails alarmistas e mensagens desencontradas) do que na televisão. Bom, o que eu vi na TV foi bem apavorante, principalmente para quem vive tranquilamente a mil quilômetros de distância.

    O que me irritou foi a tentativa de manipulação dos fatos (com visível preocupação eleitoral). Alguns políticos, com a ajuda da Globo, tentaram tirar o foco da violência exclusivamente em São Paulo, reforçando a idéia de que a crise nas penitenciárias é um problema nacional. Pode até ser. Mas esses ataques do PCC foram, fundamentalmente, um problema local do Estado de São Paulo, e refletem, e muito, a má gestão administrativa do sr. Geraldo Alckimin (e seu sucessor mosca-morta, Cláudio Lembo) na área da segurança.

  8. Mr. Pinguim,

    115 mortos em quatro dias (vou repetir: 115 mortos em quatro dias!)são números de guerra, e justificam, sim senhor, todo o desespero da população.

    Quando criminosos saem por aí fuzilando policiais, metralhando agências bancárias e queimando ônibus, qualquer cidadão civil tem o direito de se sentir ameaçado. Todos somos alvos potenciais, mesmo quando não querem nos atingir.

    É a ausência total do Estado brasileiro, que sucumbiu, sim, diante do crime organizado. Não enxergar essa realidade é como acreditar em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, ou no Secretário da Administração Penitenciária, que nega o evidente acordo com o PCC para a suspensão dos ataques. O Estado faliu: não conseguiu por forças próprias combater a criminalidade – por isso, negociou.

    Agora, com o fim do pavor, é natural que as pessoas digam que “nem foi tão grave assim”, enquanto gente como Paulo Maluf, Conte Lopes ou Luiz Antônio Fleury Filho defendem a pena de morte, a prisão perpétua ou o extermínio, em pomposas entrevistas na televisão. E as pessoas aplaudem.

    Enquanto isso, o Brasil continua com sua profunda recusa em investir no que pode, de fato, amenizar a violência: Educação. Parece simples, mas dá um trabalho…E temos pregüiça de fazê-lo. Por isso, somos um país tão mal resolvido.

    E daqui a um tempo, uns anos talvez, o PCC resolve atacar de novo…

    …Aí a polícia sai metendo bala e contém a crise em um ou dois dias…

    …Aí as pessoas dizem que “nem foi tão grave assim” e seguem suas vidas…

    …E assim a gente leva.

  9. Eu falei isso ontem, mas não lembro onde: Datena e seus amigos não fazem favor NENHUM à sociedade. Só servem para dar ibope pra bandido (que é exatamente o que eles querem).
    Eu só não entendo porque a justiça não entende e proíbe esse tipo de programa de vez!

  10. Parabéns, ótimo texto, bela crítica e tudo com um incrível senso de humor!

    É isso aew, agora os brasileiros precisam tirar suas nádegas da poltrona, desligar a tevê da globo e partir pras ruas pelo fim da prisão 5 estrelas.

    Flw.

  11. Lucas S.,

    “Prisão 5 estrelas”???? Com presos amontoados, às dezenas, uns sobre os outros? Com torturas constantes?

    Seria o caso de perguntar, só por curiosidade: moramos no mesmo país?

  12. Lucas, o problema não são as “prisões 5 estrelas” (que, aliás, eu também desconheço), mas o amontoado de presos nas penitenciárias. Não tem outro jeito: a solução é construir mais presídios e redistribuir os detentos de forma a eles cumprirem a pena de forma minimamente humana.

    O que não dá é nego fazendo revezamento para dormir, porque o espaço da cela não permite que mais de uma pessoa fique deitada no chão.

  13. PRESIDIO NO BRASIL, É GABINETE DE BANDIDO, O CARA FECHA NEGÓCIOS MILIONÁRIOS,TEM MULHERADA PARA COMER,TV,COMIDA DE GRAÇA,CELULAR PARA FALAR SEM PAGAR A CONTA,TEM SEGURANÇA,E QUEREM MAIS DO NOSSO CORRUPTO GOVERNO,QUE ESTÁ DE RABO PRESO COM O PCC,AGORA SÓ FALTA, OS ADVOGADOS DO DI, DIGO DOS PRESOS CONSEGUIR O DIREITO DE VOTO, AÍ O MARCOLA GANHA UMA CADEIRA NO SENADO,O CRIME NO BRASIL COMPENSA, E A ÚNICA INSTITUIÇÃO, QUE AINDA LUTA PARA PROVAR O CONTRÁRIO,É A POLÍCIA, QUE NÃO TEM TODO ESSE APOIO DO GOVERNO, NEM DA IMPRENSA QUE TAMBÉM FAZ APOLOGIA AO CRIME,QUE PAÍS SEM CONTROLE É ESSE NOSSO, SÓ FALTA O PCC VIRAR UM PARTIDO POLÍTICO, COMO VIROU O HAMAS EM ISRAEL,O CENÁRIO TÁ ARMADO, OS ATORES TÃO AÍ,OS PROTAGONISTAS(IMPRENSA,GOVERNO,DIREITOS DES-UMANOS)ESTÃO AÍ, E O ATOR PRINCIPAL,MARMOTA, SÓ ESPERANDO GANHAR O OSCAR DE PREMIO NOBEL DA PAZ!ISTO É INCRÍVEL!!!!!!!!!!!!!!

  14. Apesar da demora (de dias) vou deixar o meu aqui.. *rs

    Não sei se alguém chegou a falar disso, mas em todo caso…

    O tal bate-boca do “sombracelhas de taturanas” e o “âncora” do jornalismo global era necessário?! Sei lá, apesar de ter de certa forma achado interessante a forma em que se deu as perguntas, e o lado engraçado de algumas respostas sem nexo, achei que tinha “um quê” de promoção jornalística (me perdoem os jornalista, nada contra vc’s!!), mas de uma coisa eu digo: vice de qualquer coisa tem de ser votado, pra não termos que ficar convivendo com “bonecos manipulados” depois, como foi nos últimos dias.

    Abraços!

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