O misterioso “fator X”

A melhor coisa em uma folga em pleno feriado prolongado é não se sentir culpado por não fazer absolutamente nada da vida, ignorando todas as tarefas atrasadas ou que insistem em te incomodar. Se bem que, melhor do que isso é convidar um grande amigo para jogar conversa fora madrugada adentro sem ter que reencontrar as malditas tarefas quando o sol aparece ao lado do sono.

Foi justamente na madrugada de sábado para domingo que constatamos, eu e Lello Lopes, um elemento de difícil nomenclatura, mas fundamental para que um relacionamento funcione. A definição que arrumamos para o dito cujo pode ser considerada criativa, levando em conta o horário e as circunstâncias em que ela surgiu: trata-se do “fator X”.

Funciona assim: um belo dia, você tem um estalo diante de alguém. Sente vontade de ficar com essa pessoa, um contato próximo provoca efeito tão intenso como um bálsamo. Sendo recíproco, a mágica envolvendo vocês dois provoca o início de uma relação frutífera. Mas com o passar do tempo, a mágica do início se perde, não faz mais efeito. E a coisa acaba. A conclusão? Não existe “fator X”.

Outro caso sintomático: ela é romântica, sonhadora e muito sensível. Ele é um sujeito legal, mas muito prático e, às vezes, um pouco egocêntrico. Ninguém acredita que os dois conseguem se aturar, mas nem é preciso observar muito: o casal consegue lidar perfeitamente com suas diferenças, mostrando que, apesar de algumas brigas passageiras, há excesso de “fator X” entre eles. Não duvido que, em alguns meses, estão casados.

Para que a coisa flua, no entanto, deve haver um equilíbrio de “fator X” entre os dois. Em outro exemplo, ele se desdobrava ao máximo para satisfazer a mulher que amava. Era capaz de fazer qualquer coisa por ela: sair mais cedo do emprego, mandar flores, presentes… Tratava-a como uma rainha. Ela era apaixonada, mas se sentia estranha com tudo aquilo, pelo simples fato de não conseguir retribuir à altura. Nesse caso, apenas ele dispunha de “fator X”. E a brincadeira do “vamos ser felizes juntos” logo perdeu o sentido.

Como não existem histórias iguais, cada uma envolve dosagens diferentes de “fator X”. Tem aquelas sórdidas, onde alguém se diz sobrecarregado dele no início mas, com o tempo, revela-se vazia. Outras em que a convivência, verdadeira química mutante, reage com o “fator X” e o dizima, ao invés de fortalecê-lo. Particularmente, posso sentir a presença de suas moléculas no ar durante um longo abraço em alguém especial em pleno carro, após uma festa qualquer.

Talvez a expressão comum mais próxima a “fator X” seja a tal “química”, apesar dessa ter embutida uma conotação física… Também não sei se dá pra chamar o “fator X” simplesmente de amor. Seria mais uma maneira de banalizar ainda mais esse adjetivo quase sem sentido nos dias de hoje. Sei apenas que o mundo seria mais feliz se todos os enamorados soubessem onde encontrá-lo e, minutos depois, contar para seus companheiros como fazê-lo juntos.

Dona Milú certamente diria: esse é o grande mistééério da humanidade…

(Postado em 16/11/2004)

Comentários em blogs: ainda existem? (4)

  1. Gostei, uma constatação simples e eficiente, capaz de poupar um discurso interminável acerca do sucesso das relações, tema que sempre dá muito pano prá manga. Estou amando e o fator x no meu caso tem ajudado formidavelmente para o sucesso da relação.

  2. “A tal “química”, apesar dessa ter embutida uma conotação física”. Esta é uma máxima.

    As pessoas confundem muito “fator x” com “pegada”, “química” ou qualquer outro nome relacionado à sincronia física.
    ¬¬

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