O melhor filme da trilogia animada

Ouvi esses dias na Rádio Bandeirantes uma frase futebolística muito curiosa. Por alguma razão obscura, o comentarista Mauro Beting falava sobre a tradição das seleções de Inglaterra e Holanda. “Mas quando as duas se enfrentam nos pênaltis, ambas perdem. Ou pior: ganha a Alemanha”, disse ele.

Pode parecer forçado, mas tomando emprestada a mesma metáfora, foi essa a impressão pessoal que tive após assistir aos três portentosos desenhos animados lançados para a tela grande em 2007: entre Shrek Terceiro (DreamWorks) e Ratatouille (Disney/Pixar), ganhou Os Simpsons (Fox Film).

Talvez para atender ao público infantil, a maioria das cópias que chegaram ao país são dubladas – foi assim que encontrei os três filmes, sem as vozes de Bussunda em Shrek (por que será, né?) e Waldyr Sant`Anna, que interpretou Homer por muito tempo. Mas enfim. A ausência do ex-Casseta não fez falta no terceiro filme do ogro verde. Por outro lado, aquela sensação de “puxa, quantas críticas engraçadas envolvendo personagens de contos de fada” é bem reduzida. Para quem se surpreendeu com o primeiro e gargalhou com a acidez do segundo, a continuação não deixa de ser divertida, mas não “emociona” da mesma forma.

Tudo que Shrek deseja é passar para alguém a responsabilidade de reinar Tão Tão Distante, já que o pai de Fiona agoniza – aliás, as últimas palavras do batráquio compõem a cena mais legal, seguido pelo ataque das princesas aos guardas do Príncipe Encantado, na retomada do Reino. Assim ele parte em busca da segunda opção ao trono, verdadeiro estereótipo de “estudante loser” pinçado daqueles filmes colegiais (outro estereótipo). Mas há outra responsabilidade que Shrek terá que encarar: a paternidade. No fim, até quem nunca ouviu falar neles sai da sala querendo levar um bebê ogro para casa.

De qualquer forma, é nítida a evolução visual e a riqueza de detalhes em relação aos episódios anteriores de Shrek. Mesmo nesse quesito, o filme permanece com a “medalha de bronze”: a prata vai para Ratatouille: a história de Remy, um roedor de paladar sofisticado e apaixonado pela química da gastronomia, graças a influência do bonachão chef Gusteau. Seu lema, “qualquer um pode cozinhar”, é a espinha dorsal: como será possível um rato chegar ao posto de cozinheiro? Como de praxe nos desenhos da Pixar, além de encantar a garotada, o filme não subjulga a inteligência do espectador. Nesse caso, no entanto, a “fisgada” nas crianças acima de dezoito anos é mais forte.

Além do carisma dos personagens centrais (os aliados Remy e o sonso herói Linguine), há um esmero absurdamente lindo nas cores, luzes, textura… Detalhes que vão desde a ferrugem na janela de uma humilde casinha até o brilho marcante tanto no luxuoso ambiente do restaurante parisiense quanto na visão geral às margens do rio Sena. Ah, sim: qualquer jornalista que assistir ao filme vai adorar a figura ególatra e poderosa do crítico gastronômico.

Aqui, cabe uma ressalva: se você puder, assista aos três filmes sem medo de ser feliz. Você terá certamente boas horas de entretenimento. Agora, se tiver que escolher apenas um, veja Os Simpsons. Mesmo sem o aspecto tridimensional dos concorrentes, ou ainda após Homer advertir, nos primeiros minutos: “por que diabos eu estou pagando por algo que posso ver de graça em casa?”. É uma das grandes injustiças que vejo cometerem por aí: não se trata simplesmente de “um episódio com 86 minutos de duração”. Com certeza é muito mais.

Afinal de contas, nem nos mais inverossímeis episódios da longeva série animada, Homer Simpson se mostra tão idiota ao adotar um “porco-aranha”, acumular seus dejetos num reservatório e protagonizar a maior catástrofe ambiental dos EUA e, ao mesmo tempo, tão corajoso a ponto de atravessar um país e arriscar sua própria vida para salvar sua cidade e seu casamento. Tudo isso com incontáveis paródias e piadas picantes, além das participações especiais de Green Day, Tom Hanks e Arnold Schwartzenegger – interpretando o presidente norte-americano. Hmmm, pensando bem, isso não é lá tão improvável assim.

Importante: espere até o último crédito final caso queira ver as primeiras palavras Maggie falar outra vez (bem lembrado, Marcus! Obrigado!), além de uma alfinetada aos frequentadores das salas de cinema.

Dani Koetz
(Melhor que ir ao cinema é estar bem acompanhado – obrigado ao povo do Blogger’sCut por proporcionar esta alegria!)

Para saber mais:

– Sobre Shrek Terceiro? Henry Alfred, Luciana Monte, Vinícius P. e Chico F..

– Sobre Ratatouille? Lu Mastrorosa, Pedro Jeronimo, Alexandre Carvalho dos Santos e Chico F..

– Sobre Simpsons? Renê Fraga, Leandro M. Pinto, Gravatai Merengue e Edney.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (9)

  1. Ratatouille é lindo. É um tapa de luva nos pseudo-intelectuais e críticos-críticos.

    O último Shrek é bom, mas deixa a desejar se comparado aos outros.

    Os Simpsons eu ainda espero ver, já que o Blogger Cuts não beneficia moradores do Espírito Santo.
    heheheh

    =D

  2. Sherek terceiro é muito bem uma das melhores animação que eu já vi até hoje, seu eu não me engano o diretor de animação é um Brasileiro.

    Gilberto, certamente você se confundiu com o diretor brasileiro Carlos Saldanha dirigiu A Era do Gelo 2.

  3. Fala, André!

    Cara, ainda não vi os dois primeiros, mas já ouvi críticas ótimas (como as suas) dos dois…

    Quanto ao Simpsons… esse eu fiz questão de correr prá ver… e o filme realmente é mto bom, e concordo quando vc diz que “não é apenas um episódio de 86 minutos”… é muito mais!

    E valeu pela dica das primeiras palavras da Maggie… eu lembrei desse episódio, um dos melhores, inclusive.

    Abraço!

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