Por que eu nunca vou ganhar na Mega Sena?

A resposta mais simples para a pergunta acima é também a que mais se ouve: “porque eu nunca jogo”. Ninguém vai cometer o despautério de responder “ah, eu não saberia o que fazer com cento e duzentos milhões de dinheiros, provavelmente eu enlouqueceria ou seria assassinado”. Ah, francamente. Qualquer assalariado sabe perfeitamente o que fazer com aquele dinheirinho extra na conta.

No meu caso, o dinheirão extra vindo de uma bolada federal seria suficiente para viver em Floripa. E já que abrir pousada está longe de ser um bom negócio, certamente criaria uma barraca de churros com acesso à Internet na Lagoa da Conceição. Em último caso, viveria de renda e passar o resto do dia lendo, passeando, conversando… Todas essas coisas que eu deveria fazer mesmo nos dias de hoje, mas acabo substituindo pelas corriqueiras preocupações desnecessárias.

De qualquer forma, eu também poderia simplesmente dizer “não vou ganhar porque nunca aposto”, especialmente a cada acúmulo de premiação. Pois na véspera daquele mega-sorteio, que rendeu a um sortudo goiano o segundo maior prêmio da história, eu decidi que poderia sim abrir a porta de casa para a sorte entrar. Comecei da maneira que já virou costume em casa: minha mãe e eu fizemos alguns joguinhos baseado no método empírico resumidamente chamado “sorteio de números de um a sessenta escritos à caneta em pedacinhos de papel-cartão cortados em quadrinhos depositados em um saco plástico”.

Mas ainda queria mais. Tratei de usar outro método empírico, o gerador de prognósticos do Edney. Aproveitei para riscar, por minha conta e risco, outros palpites, de acordo com as estatísticas da Mega Sena, também fornecidas pelo Edney. Já na casa lotérica, antes de enfrentar a fila arrasa-quarteirão, risquei no volante a opção “surpresinha”, aquela que cria aleatoriamente alguns outros joguinhos.

Não tinha como falhar: eram muitas maneiras de ajudar a sorte. Mas ainda queria mais. Como tinha alguns bons trocos no bolso, fiz a marcação mais ousada: a “teimosinha”, indicando os mesmos palpites para os quatro concursos seguintes. Coloquei em minha mente todo o pensamento positivo: se aquele prêmio portentoso não viesse, ao menos alguma coisinha poderia vir nos concursos seguintes. Além disso, segundo essa mesma perspectiva, poderia simplesmente continuar apostando os mesmos jogos outras vezes. Uma simples questão de método.

Ao chegar em casa, deixei volantes e apostas no altarzinho da minha mãe, ao lado dos santos e imagens que já protegem o lar diariamente. Não custava nada para ao menos um deles observar com carinho aqueles números todos nas próximas semanas. A questão é que, ao deixar as coisas ali, simplesmente esqueci. No dia que o Brasil parou para conferir suas apostas, nem parei para checar as minhas. Ainda assim, havia um alento: depois de mais três concursos, revisaria os volantes outra vez, em busca da boa nova.

Os dias passaram e os quatro concursos relacionados às minhas apostas foram realizados. Era a hora de verificar o tamanho da minha sorte. Com os resultados devidamente anotados, fui ao altarzinho à procura dos volantes… E não encontrei! Corri para o meu quarto e revirei minha bolsa, carteira, agenda, gaveta das meias…. Nada. Tinha certeza de que os papéis dobradinhos estariam no lugar onde deixei, imóveis… Restava o último recurso, sempre infalível.

– Mãe, você lembra daquelas apostas da Mega Sena, que estavam lá perto dos seus santinhos?

– Claro que lembro. Aquela porcaria. É tudo armação. Ninguém ganha essa porcaria. Nem adianta gastar dinheiro. Fiquei com raiva, peguei aquelas apostas todas e joguei tudo fora.

– Mãããããe!!! Não acredito!!! Aquela aposta valia mais três vezes!!! De repente, eu poderia ter acertado ao menos a quadra e levado ao menos a graninha para encher o tanque!!!

– Ah, mas você não avisou. A culpa é sua. Mas esquece isso. É tudo cascata. Nunca vamos ganhar.

Por que eu nunca vou ganhar na Mega Sena? Porque a minha mãe sempre sabe das coisas.

(Postado em 24/01/2007)

Comentários em blogs: ainda existem? (22)

  1. Seu afã para ganhar na loteria me lembrou umas fases da minha vida de pobre aqui em SM. De repente, era uma busca de números, de aniversários, de apostas aleatórias, qualquer coisa que nos tirasse do mar de trampa, aluguel caro, filho pequeno, minha mãe, tese, muito feijão com arroz e sopa. Levantaste-me o humor. Feliz feriado.

  2. Quase nunca aposto. Só em semanas megalo-multi-fenomenais, como essa que o goiano levou. Se ganhasse 50 milhões, deixaria o dinheiro na poupança. Renderia 350 mil reais por mês, e eu poderia passar o resto da vida viajando pelo mundo.

  3. Puxa vida, não esperava essa reviravolta no fim da história. Já pensava em comentar sobre os meus planos pós-Mega Sena – mudar para o Nordeste e vender coco na praia, mas esse desfecho irreverente me fez perder o rumo, rs..

    Bjs

  4. hahahahahahahahah

    (no momento um cansaço me impede de continar rindo)

    olha, segundo as Leis de Murphy você sabe, não é? Você teria sido premiado justo com um daqueles bilhetes que foram pro lixo, contrariando todas as probabilidades de mutreta. Enfim… quando arranjar umas pratas e montar tua barraquinha de churros na Lg. da Conceição, avise. Mas me avise só se tiver calor, tenho trauma de Florianópolis versão inverno.

    até!

  5. marmota, cara…só agora que eu li que o seu comentario tem apravação…rsss

    nunca voltei pra saber se algum meu foi cortado…
    bom, mãe tem sempre razão,mas eu sou mãe e sou filha, e desminto essa teoria, pq eu joguei como filha, e como mãe torci pra caralho, e nunquinha ganhei nada!!!!!!!
    bjos
    ps: caralho passa?
    se não, troca para: torci pra caramba!

  6. Sempre tive a impressão de que se eu ganhasse não mudaria de vida, pelo menos não aparentemente. Por exemplo, eu iria passar férias em Paris, mas na volta daria um pulinho em Patos de Minas e mostraria para os parentes fotos da Festa do Milho.

    Mas olha só que engraçado, apareceu um cara no Fantástico dizendo que ganhou 2x na megasena, e o cara é funcionário da Câmara Federal, pense que sempre tem alguém numa mesinha de bar que levanta para dizer que conhece e é amigo do camarada. Ainda tem mais essa, quem ganha na loteria, ganha muitos amigos…rs.

  7. Olha, se nem o Alexandre Sena ali de cima já ganhou, que dirá eu que nem sou aparentada.

    E respondendo a sua dúvida lá no blog: é difícil saber, Marmota. Eu recebi ontem da assessoria da FOX. Pode ser que eles tenham pegado da Revista Mundo Estranho e passado para o mailing deles sem dar os créditos, o que é realmente lamentável. Ou pode ser que a assessoria tenha feito há tempos e resolveu mandar agora de novo para um segundo mailing, onde estou incluída. E aí quem não deu os créditos foi o repórter da revista. O ovo ou a galinha? Quem descobrir primeiro conta pro outro! A propósito, seu blog é ótimo.

  8. Mega Sena só ganha se você for laranja. Portanto, tem que morrer, virar matéria orgânica e ter sorte para entrar pelas raízes da laranjeira!!!!

  9. Eu jogo sempre!! E vou morrer jogando. Curto muito a minha vida aqui em Floripa, cidade que nasci e vivo, no verão, no inverno. Nunca comentei nada em blog nenhum, mas como este é o meu assunto preferido, resolvi fazê-lo. Não sei como se chama isso na psicologia ou psiquiatria, mas ter a sensação que eu posso ganhar dinheiro de forma tão fácil (esta é a mais fácil que conheço)me dá uma sensação muito boa e que me deixa com “aquele” estado de felicidade.
    E quando eu ganhar, vou continuar tendo a mesma vida maravilhosa!

    Um abraço!!

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