Quantas vezes você já teve a chance de presenciar um grande dilema, daqueles que você leva para casa, reflete um bocado, mas mesmo assim não consegue chegar a um consenso? A história nem é das mais palpitantes, mas como diria aquele velho deitado, o diabo mora no detalhe.
Foi no meu vôo Recife-São Paulo, neste final de semana. Certamente aquela aeronave estava carregada por algum tipo de energia do gênero “quero chegar de uma vez”, irradiada por passageiros e tripulantes. Já durante as longas quatro horas de viagem, uma menininha ficou trancada no banheiro e gritou como num filme de terror. Um comissário teve uma brilhante idéia para ajudá-la: “alguém tem algum objeto pontiagudo?”. Ora, e desde quando alguém pode embarcar com objetos pontiagudos?
Mas o ânimo da tripulação já podia ser visto durante o embarque. Por razões que até hoje desconheço, nenhuma empresa aérea consegue agradar aos passageiros ao marcar os assentos. Logo no check-in, amigos e famílias acabam separados graças a métodos aleatórios, que só se resolvem com algum diálogo dentro da cabine. E quando esse bom senso não acontece, o que fazer?
Sentei na parte traseira do avião, restavam três fileiras atrás de mim. Logo vieram duas amigas, cada qual em uma daquelas desagradáveis poltronas do meio. Uma delas ignorou seu bilhete e ficou ao lado da companheira. Na sequência, uma mãe de cara feia e dois filhos, a adolescente e o moleque pentelho. Em suas passagens, apenas dois lugares na mesma fileira. Arbitrariamente, ocupou três poltronas de uma mesma fileira.
Uma das aeromoças acompanhou esse troca-troca. “Ih, quando os passageiros chegarem, vocês conversam com eles”, avisou. Ou seja: lavou as mãos e sumiu dali, deixando qualquer quiprocó nas mãos do povo.
Sobraram dois lugares. Uma poltrona central, ao meu lado, e outra no corredor, ao fundo. Então chegou uma mocinha gordinha, questionando a ocupação de seu lugar. Não se importou em ficar na vaga do fundo.
O último passageiro era um japonês, parecidíssimo com o pai de Hiro Nakamura da série Heroes. E era japa mesmo: veio falando, em inglês, que seu lugar era onde estava o pequeno pentelho. As pessoas apontaram a horrenda poltrona do meio para ele, que ficou em pé sem entender o que queriam dizer.
Quando ele se deu conta, apontou para sua poltrona. “I disagree, I don’t like that place, this is my place”, disse calmamente. A mãe, num rompante, fechou a cara e resmungou. “Não vou tirar meu filho daqui”. E o impasse permaneceu por alguns segundos.
Por um instante, pensei em levantar e dizer para a mulher que ela estava errada, primeiro ao ocupar um lugar que não lhe pertencia, e depois por ser intransigente e mal-educada. Por outro lado, o japa só teria que sentar naquela poltrona desconfortável por umas quatro horinhas, sem precisar discutir com gente ignorante.
Perguntei ao japa se ele preferia sentar no meu lugar, no corredor. “No, I want to sit in my place, not here. I don’ t understand this things”, reclamou, enquanto ocupava o único lugar vago da aeronave, ao meu lado. Até que não foi tão ruim, vai.
Enfim, lembrei da viagem que fiz com três amigos mas acabei numa poltrona distante, graças a uma passageira corpulenta que precisava sentar na janela. Ela recusou, mas passou o trajeto inteiro pedindo desculpas. Pode parecer besteira, mas mesmo em situações assim eu simplesmente aceito o que me cabe.
Ou eu estava errado, deveria alterar a ordem das coisas e fazer como a mãe desaforada? Sinceramente, estou como o japa: ainda não sei o que pensar.
é, bicho – é difícil mesmo. até porque a culpa é da droga da companhia aérea, que separa uma mãe dos dois filhos (até pra controlar o pentelho, se for o caso).
se não havia três assentos disponíveis na hora da marcação do assento, a mãe que respeitasse a ordem, mantivesse a criança no assento marcado e, quando chegasse o Hiro, que lhe contasse uma história triste de forma amável.
se o Hiro não quisesse ceder, merecia que a criança ficasse passando de quinze em quinze minutos por cima dele. ou sofrendo o contrangimento popular por causar um berreiro descomunal dentro do avião.
mas, vai ver, né. chance megasênica de acontecer.
(eu, na cena, fugiria da companhia da criança, tranqüilo, ganha-ganha. mas se a mulher me faz uma grossura dessas eu dificulto pra cacete. outra face o $*#. meu assento.)
Já que o lugar era dele, era justo ele querer sentar-se lá.
Mas também não é legal separar mãe e filho, a não ser que a mãe seja mal-educada. Aí, eu brigaria pelo lugar só de pirraça! huahuahuahua…
O negócio é ir pra cima, discutir e fazer o certo. O problema maior de nossa nação é que sempre as pessoas se acomodam com o errado, e procuram resolver a coisa da forma mais fácil possível.
Melhor do que sentar em outra poltrona seria tirar a mulher do local. Ela não é melhor do que ninguém, para passar por cima das regras e do direito alheio.
Abraços!
Eu teria pego meu lugar, só pela falta de educação da mulher.
A gente não pode se acostumar com falta mínima de educação, só porque dá trabalho. Vide a situação das salas de cinema.
FatDragon
Dirigir um carro, bêbado, não pode.
Nem um país.
Tem gente que gosta mesmo de brigar. Outros, preferem o caminho que dá menos dor de cabeça.
Ultimamente tenho me irritado tanto com essas coisas que até ando evitando lugares e horários com muita aglomeração, sujeitos a intempéries interpessoais. Corro o risco de me tornar novamente um anti-social, tal como na minha adolescência. :-
Oi, oi…
queria te dizer que te “obriguei” num meme, lá no meu blog! Pega ele lá pra responder, ok!? Bjoks
Como já diria Max, “Eh Brasil”
Certamente, este é um caso muito constrangedor, tanto para a mãe que por uma falta de critério da empresa aérea acaba tendo que ficar longe de um de seus filhos, quanto para os demais passageiros, que precisam utilizar o bom senso, mesmo sabendo que compraram a passagem correspondente ao lugar ocupado por outra pessoa.
Estou começando com a vida de blogueiro, meu blog tem pouco mais de um mês, ainda não tenho o cacoete desse meio, conheci seu trabalho através da NewsCamp que aconteceu hoje, se tiver um tempinho passa lá no meu blog e me dá uma dica, para que eu possa ingressar com confiança nesse mundo dos blogs.
Acho que somos mais bens tratados qdo viajamos de onibus do q de avião! ta loko! se tem numero, nada mais justo que respeita-lo ne?
Sensacional seu texto! Primeiro, as cias aéreas DEVERIAM se organizar com relação aos assentos. Segundo, a lei do bom senso é sempre bem-vinda. Mas que extrangeiro não entende, não entende. Coisa de brasileiro…