Não prometo nada para 2011

Meu amigo Alexandre Inagaki é uma dessas figuras que, quando conhecemos, encontramos alguma razão para admirar. Comigo não é diferente: ultimamente, me impressiona sobremaneira o fato dele conseguir escrever (muito e bem) em seus dois blogs – o Pensar Enlouquece e o Pop Cabeça – e em suas colunas nas revistas Pix, Trip e Rolling Stone Brasil. Como se não bastasse, abriu mais um espaço para comentar a deliciosa interseção entre tecnologia, cultura pop e seres humanos no recém lançado TechTudo.

Essa postura multitarefa me fez lembrar de algo que houvi há alguns anos do jornalista Régis Andaku, responsável pelos sites parceiros do UOL. Ainda que a web seja composta por conteúdos que competem entre si em busca de bons indicadores de audiência, a concorrência não acontece exatamente entre os sites ou empresas, mas sim com o tempo dos usuários, este bem cada vez mais precioso. O desafio de administrá-lo sem desperdício certamente é um dos grandes males dos nossos tempos.

Isso porque tanto eu, você e o Alexandre Inagaki dividimos nossas 24 horas diárias entre rotinas de trabalho, deslocamentos pela cidade (em São Paulo, esse período costuma ser bem alto), questões de ordem física (academia, médico), emocional (discussões de relação), domésticas (lavar a roupa, encher a geladeira), horas de sono, alimentação, lazer (televisão, música, livros, games)… Feita essa organização, restam alguns minutos para ligar o computador ou o smartphone, conectá-lo à rede, abrir os aplicativos e, diante deles, checar e-mails, contatos do Orkut, Facebook, MSN, Twitter, agendar e verificar pagamentos no banco e, finalmente, acessar as últimas notícias dos sites, blogs e afins.

Imagino que não deve ser fácil para ninguém estabelecer e seguir esta agenda sem qualquer malabarismo ou dor de cabeça, especialmente diante da sensação de estarmos o tempo todo conectados e com as antenas acionadas. E aqui devo confessar minha total inaptidão para domar o relógio. Já trabalhei com PDCA, já experimentei o Scrum, tentei provar GTD, Remember the Milk, calendário Google… Também já dividi listas de tarefas no Gmail, no celular, em postits, imãs de geladeira. Minha conclusão é sempre a mesma: levo muito tempo para organizar essas coisas.

Acabo optando por sentar diante do computador e digitar, concentrado e sem rumo, em algo urgente – aulas da faculdade, correção de trabalhos ou eventos do fim de semana. Podem me chamar de mentiroso, mas eu realmente passo longe da televisão (exceto um ou dois telejornais), fico dias sem cultivar meus sites de relacionamento, deixo meu celular no silencioso… E ainda assim, fico com a nítida sensação de que não consigo cumprir o que devo – meu ídolo e orientador no mestrado, professor Walter Lima, que o diga.

Admito que uma das razões para fazer terapia este ano é esta – e o mais irônico é que, para frequentar o consultório, preciso organizar meu tempo…

Como já estamos em dezembro, poderia dizer simplesmente que pretendo incluir, em minhas resoluções de ano novo, alguma meta de disciplina e organização de tempo, ou assumir o compromisso de investir (e não postergar) as tarefas nitidamente mais trabalhosas. Talvez inclua no pacote fazer exercício e perder peso, entre outros clichês. Aciono novamente uma antiga idéia do próprio Alexandre Inagaki: a de criar o Clube dos Procrastinadores Anônimos, cujo slogan pode sintetizar uma excelente meta para 2011: não prometo nada.

Amanhã, sem falta, pretendo detalhar um pouco mais esse tema.

(Publicado originalmente no IDGNow)

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