Não chores por mim, Argentina!

Viajar é uma delícia, e felizmente 2002 está cheia de boas recordações. Algumas delas você já pode acompanhar aqui mesmo, no MMM: Rio de Janeiro em setembro, Curitiba em outubro… A grande viagem do ano, no entanto, aconteceu no primeiro semestre, época em que um dólar ainda custava R$ 2,50. Em 15 de abril, eu e alguns amigos estávamos voltando da nossa churrascaria preferida. Um deles, o Marcelo Sakate, deu a idéia.

– Vamos para Buenos Aires?

Era o auge da crise argentina, dos panelaços, do curralito e da busca desenfreada por dólares. Ao mesmo tempo, era um período excelente para conhecer o país vizinho: pacote de três dias custando cento e poucos dólares, sem falar nos preços dos produtos por lá, graças a desvalorização do peso. Tínhamos duas opções: ou iríamos antes da Copa ou deixaríamos para o final do ano. O tempo e o mercado atribulado nos mostraram que a nossa decisão foi a melhor!

A viagem do ano começou na manhã de sexta-feira, três de maio. Marcelo Sakate, Fernando Narazaki e eu cuidávamos da nossa programação em território argentino durante o café, no McDonalds do aeroporto de Guarulhos. Minutos depois, já estávamos no boeing da Aerolineas Argentinas, ouvindo instruções do comandante num estranho “inglês espanholado”, a caminho de Buenos Aires! A bordo, não resisti a piada fraca: “Frango! Franguito!! Franguinho!!!”, disse para a aeromoça na hora do almoço. Teve mais: perguntei “como se dice eso en español”, apontando para uma garrafa de refrigerante. Ela respondeu educadamente: “Coca Cola, por supuesto”.

Desembarcamos em Ezeiza por volta da uma e meia da tarde. Traslado ao Hotel Republica, em frente ao Obelisco na avenida 9 de Julio. Deixamos as malas no quarto e tratamos de conhecer a cidade. Precisávamos ainda trocar alguns dólares por pesos, tarefa bastante fácil em uma cidade sedenta por doletas. Entramos numa lanchonete, pedimos pedaços de pizza e pagamos com cinco dólares . O troco, em pesos, não dava para nada: o dono pagou apenas $ 2,80 em cada dólar. “Fomos enganados”, lembra Narazaki.

Mas não foi só aí. Ingrid, nossa guia da agência, foi bastante clara durante o nosso traslado: “aqui em Buenos Aires você não gasta mais de sete pesos em um táxi”. Talvez o estádio do River Plate, no distante bairro de Nuñes, não estivesse no mapa da Ingrid. Entramos em um dos tradicionais carros pretos com detalhes amarelos e logo meus dois companheiros foram abordados pelo motorista.

– Usted son de Japón o Corea?

Até explicarmos que éramos brasileiros, falar muito de futebol, cruzar a Avenida del Libertador e fazer uma bela volta, gastamos dez pesos. “Fomos enganados!”, lembra mais uma vez Narazaki. De qualquer forma, chegamos ao Monumental de Nuñes e conhecemos todas as instalações do principal estádio de futebol da cidade! Bem feito para Lello Lopes, que desistiu da viagem dias antes.

Ainda seríamos enganados mais uma vez naquela sexta-feira. Pedimos uma boa indicação para o jantar na recepção do hotel. A sugestão era uma churrascaria em Puerto Madero, bairro que outrora abrigava o porto da cidade, abandonado na época da mudança mas totalmente reurbanizado há alguns anos. O lugar agora abriga escritórios comerciais, bares e restaurantes, se transfmroando um belo ponto de encontro durante a noite.

Antes do jantar, ainda paramos para telefonar. Narazaki sabia como ligar a cobrar para o Brasil, mas para isso era preciso “hablar” com a telefonista. “Buenas noches, yo quiero hacer una ligacción”. Aquilo revoltou Sakate: “Se não sabe falar, não enrola! Não existe ligacción, se diz llamada!”. Traído pela bronca, foi a vez dele meter um “ligacción” ao pedir seu telefonema… Todos avisados em casa, era hora de conhecer a churrascaria rodízio, que coincidentemente chamava-se Rodízio!

“Fomos enganados. Só se salvou o buffet de frios”, dizia Sakate, decepcionado, ao sairmos do restaurante. Como o metrô já estava fechado, tratamos de caminhar pela Avenida Corrientes.

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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