Mais uma Trottolice do Adriano Trotta
Duas semanas atrás eu era solteiro, agora já estava casado e a caminho do Tahiti! Parecia um sonho… mas não, era minha lua de mel. O avião era maior do que eu pensava. Pudera, para uma viagem de 14 horas, contando a escala em Santiago no Chile, tinha que ser confortável.
Estava tão estasiado que, quando a aeromoça passou com o carrinho de comes e bebes, fiquei olhando para as opções de iogurte sem saber o que responder. Morango ou abacaxi? Devo ter demorado uns dois segundos, suficientes para a aeromoça mau-humorada virar as costas e ir embora sem minha resposta. Filha da mãe! Mas tudo bem, bastou olhar para o lado e ver minha linda esposa dormindo para esquecer do iogurte. Esposa… quem diria!
Tirei os sapatos, fechei os olhos e relaxei um pouco. Logo depois, ouvi uns brasileiros (sempre tem) dizerem:
— Que cheiro é esse? Será que estamos perto de algum rio?
— Tá louco? Estamos sobrevoando o oceano!
Fui cutucado e abri os olhos:
— Amor, você tirou o sapato, né? Põe de novo antes que você acorde o avião inteiro!
É, tava feia a coisa! Tudo bem, coloquei de novo. Mas isso vai ensinar pr’aquela aeromoça. Rá! Poderia dizer que nem senti as horas passarem, mas estaria mentindo. Parecia uma vida, não chegava nunca! Ou talvez fosse só minha ansiedade.
Depois de 14 horas, pousamos em Papeete, capital do Tahiti, onde passamos a noite. Legal, estávamos no Tahiti! Mas… parecia uma São Paulo bronzeada! Muita gente, muita bagunça!
— Tudo bem, hoje à noite viajamos para Bora Bora.
— Enquanto isso, vamos andar, né?
Pegamos um autêntico ônibus local, caindo aos pedaços e lotado de gente. Diante da minha cara emburrada, minha querida esposa quis me animar.
— Olha amor! Que bichinho bonitinho é aquele ali na frente! Deve ser algum animal tahitiano!
— Você tá sem óculos, né? Aquilo é um rato.
Tinha mais ou menos 50 cm de altura, tão grande que parecia ser ele quem ia atropelar o ônibus. Talvez por isso não tenha se mexido quando o veículo se aproximou. Após algum tempo parados, esperando o roedor sair do caminho, seguimos viagem para o centro da cidade.
Muita gente, muita bagunça… mas dou o braço a torcer, o povo era muito simpático e hospitaleiro. Gostei dos restaurantes ambulantes, que deram aquele toque “Praça da Sé” na experiência. Estranhamente, vendiam coca-cola em garrafas antigas de vidro!
— Amor, sua bolsa é grande? Leva duas pra gente, de recordação.
Depois de andar muito, estávamos cansados e, sem ter lugar para sentar, agaixamos um pouco ali mesmo, no chão. Não deu nem dois minutos, passou uma turista americana e jogou um papel na cabeça da minha mulher. Filha da mãe! Tenho cara de mendigo? Tenho? Não era isso que eu queria, me dá a praia azulzinha das fotos! Finalmente o dia acabou e voamos para Bora Bora [wiki].
Enfim chegamos de manhã na chamada “Pérola do Pacífico”, a ilha mais paradisíaca do Tahiti! A pista de aterrissagem, ladeada com palmeiras, já dava o ar tropical que eu procurava! E, depois, quando tivemos a tradicional recepção com colares de flores e tudo, aí sim senti que havia chegado! Seguimos com o translado até o hotel.
Mal podia esperar para ver meu bangalô sobre a água! E o quarto era mesmo maravilhoso, com todo o conforto que você pode imaginar. O que eu mais gostei foi a janela instalada no chão, para podermos ver a água limpíssima do mar logo abaixo. Só que tive de olhar de longe, quem disse que minha mulher deixava eu chegar perto?
— Se esse vidro quebrar você vai se machucar!
Tá, tudo bem, quem vai discutir com a esposa na lua de mel? E daí que eu me sentia ridículo andando escorado nas paredes, para passar longe da perigosíssima janela do chão? Tudo valeria a pena à noite, depois do jantar, quando fizéssemos… bem, o que fomos lá para fazer. Noite de núpcias! Mas antes, fomos para a praia.
Nunca vi uma areia mais branca e limpa! Se um tahitiano fosse para o Guarujá, acho que tinha um treco. Aliás, duvido que um deles queira sair dali. Aquilo é perfeito! Fui buscar uns drinks no quiosque, e ouvi dois brasileiros (sempre tem) conversando e apontando para mim:
— Vamos mandar esse cara tomar no cu?
— Não sei não…
— Ah, olha pra ele, com certeza é gringo! Vamos mandar ele tomar no cu, ele não vai saber!
Esperei muito eles mandarem, pra eu poder responder com um sonoro “vão vocês dois”! Mas não falaram nada. Voltei e passei o dia lagartando no sol, junto com minha esposa. Isso que é vida! Claro, quando caiu a tarde, eu já estava parecendo um pimentão, mal conseguia mexer os braços para andar.
Caminhamos para o quarto, lindos pássaros nos sobrevoavam. Resolvemos sentar no chão e olhar o pôr do sol, enquanto os pássaros voavam a apenas um palmo de nossas cabeças. Mais tarde ficamos sabendo através de um funcionário brasileiro (sempre tem) que aquelas eram aves de rapina, que tinham uma espécie de espora nas asas, e estavam na verdade tentando nos atacar. Mas tudo bem, isso não deixou a cena menos bonita, já que não conseguiram!
Tomar banho antes do jantar foi um martírio, cada gota de água parecia uma faca na minha pele de camarão. Fomos então conhecer o chiquérrimo restaurante do hotel. Uma grande cabana, ampla, circular, com iluminação perfeita e música ao vivo. Tinha uma pequena escada, com uns 5 degraus, que dava acesso à parte central, onde ficava nossa mesa.
Acho que foi na Ana Maria Braga que eu vi, há muito tempo atrás, que era chique descer escada colocando a ponta do pé primeiro no chão. Diante de todas essas pessoas chiques e bem arrumadas, resolvi tentar ser elegante! No primeiro degrau, meu pé virou, tornozelo torceu, me esborrachei no chão feito uma jaca. Imagina o restaurante inteiro rindo da sua cara enquanto você se levanta. Imaginou? Agora imagina sua mulher rindo tanto que nem consegue te ajudar a levantar. Legal, né? Mas tudo bem, nada estragaria meu humor num lugar lindo como aquele! Até que não lembrei da dor no tornozelo enquanto comia… talvez porque a comida era praticamente pura pimenta.
Hora de voltar para o quarto e… noite de núpcias! Sim, a hora da verdade! Essa noite teria que ser inesquecível, então tomei as providências necessárias para dar uma ou outra taça de champanhe a mais para minha mulher. Na verdade, ela sempre teve um probleminha com bebida, sabe? Talvez tenham sido uma ou outra GARRAFA a mais… mas quem liga? Fomos cantando e dando risada até o quarto. Enquanto eu me preparava no banheiro, comecei a ouvir uma música familiar. Era minha mulher cantando a música da banheira do Gugu e pulando na cama. Huba huba huba hei! Huba huba huba hei! O que tinha naquele champanhe? Depois de algumas horas tentando fazer ela parar, acabei desistindo. Quando ela cansou, virou para o lado e apagou. Resolvi fazer o mesmo, tentaríamos de novo no dia seguinte.
De manhã, aquela ressaca. Ela, pior do que eu, não parava de se desculpar pela noite anterior.
— Tudo bem, amor! Ainda temos a noite de hoje, só vamos embora amanhã! Não se preocupe. Vamos tomar um belo café da manhã que nos sentiremos melhor.
Todos os garçons me olhavam e davam uma risadinha. Filhos da mãe! Ou lembravam do meu tombo de ontem, ou ficaram ouvindo a cantoria no quarto durante a noite. Talvez os dois. Estava comendo meu melão quando fui cutucado:
— Amor… temos um problema.
— Que foi, amor?
— Amor, [cochichando] desceu…
— [falando alto] Desceu o quê mulher? Fala direito!
— [puta da vida] Desceu, amor! Acha o absorvente na minha bolsa, tá aí do seu lado!
Homem é péssimo pra essas coisas, né? Comecei a procurar. Achei de tudo naquela bolsa, batom, chiclete, alfinete…
— Sua bolsa é uma zona, tem até um saco plástico vazio, olha!
Nunca vou me esquecer daquele olhar. Ela queria me matar com a força da mente. Meu coração acelerou de medo e ela estava quase conseguindo!
— O que foi, amor?
Um dos garçons veio e pegou os absorventes, que deveriam estar no saco plástico, mas estavam espalhados no chão, graças à minha delicadeza.
— Eu vou me levantar, e você vai olhar se não vazou! — foi tudo o que ela disse, antes de ir para o banheiro. Eu abanei a cabeça negativamente, nem precisei olhar. Não sou besta.
Ficamos sem nos falar até o final do dia. À noite, tentei puxar papo:
— É, acho que nada de noite de núpcias hoje, né?
— Boa noite. — virou para o lado e dormiu.
Na manhã seguinte, precisamos voltar para a capital Papeete, de onde viajaríamos de volta para o Brasil. Nossos planos de conceber uma filha no Tahiti haviam sido adiados. Nossa viagem também, já que perdemos a hora e não conseguimos acordar a tempo! Arrumamos as malas, vestimos qualquer roupa, correria para o translado que nos levaria até o aeroporto. Levaria, se não tivesse saído 10 minutos antes. Então, apareceu o mesmo funcionário brasileiro do hotel:
— Vocês são azarados mesmo, né?
Nos ofereceu carona e fomos de carro até o aeroporto. No final das férias, estava mais estressado do que no começo. E foi assim, estressados, que aterrissarmos em casa. Minha lua de mel só podia ser assim, essas coisas só acontecem comigo! Chega de Tahiti, eu quero mais é ficar no Brasil!
Não, eu não sou casado, e nunca fui para o Tahiti. Quase tudo acima é inventado, algumas dessas histórias aconteceram comigo de verdade, mas em diversas viagens que fiz, com diferentes pessoas. Quero realmente conhecer Bora Bora um dia, mas espero que tenha um pouco mais de sorte na viagem!
Enquanto Marmota curte sua solteirice eterna na Europa, a série Colônia de Férias apresenta textos gentilmente preparados por seus amigos, lembrando que, em qualquer circunstância se está escrito, é ficção.
Tá doido… com uma lua de mel dessas, dá vontade de chegar em casa já procurando advogado pra desfazer o casório…
G-sus, essa é a lua de mel que todo casal pediu a deus!!!
uhaauhahuahuuahuha
Essa do absorvente foi otima! hahahah
Mto bom, adorei!!!
Por essas e outras não vou pra praia na minha lua de mel… correr o risco de virar pimentão? É ruim, hein!
Gostei do texto, mas não quero uma viagem dessas (com esses acontecimentos todos) nem de graça!
Excelente texto o da viagem de lua-de-mel. Ótima imaginação e construção do texto. Parabéns. Espero ver novos escritos.
marco
TROTTA!!!!
Só podia ser vc! e eu acreditando e pensando; porra, o cara sair daqui pra passar 2 dias em bora bora??
deve ser rico pra cacete, por que lá é longe e caro…
e que azar…
e ainda por cima, lua de mel, assim, sem graça????
seu bobão!!!
quando for vai ser muito bom, com certeza!
bjos
E aí seu marmota! Lembra d’eu lá de Pelotas?
A ferramenta do meu blog mostrou que me linkaste! valeu!
ah, só pra constar, eu sou o tecnotrash hehehe
A minha vêm em Janeiro…
A Má tá mais ansiosa do que eu pra viagem….
Vejam bem…
Não é para Bora Bora…
Mas tomara que seja bem gostosa e não tenham os problemas deste tipo!
Curti pacas o texto…
😀
Trotta! Espero que os contratempos todos fiquem armazenados nesse post hilário e que na sua lua-de-mel pra valer seja tudo lindo, no Tahiti, onde for. 🙂
Olha, inventado ou não, o texto é muito engraçado. Eu comecei a imaginar tudo azul, por causa do mar do Tahiti e porque tudo azul é coisa boa, feliz, calma, tranqüila, dando certo. Mas tudo foi dando tão errado na viagem que do monte de azul eu passei a imaginar só o mar… e um vermelho, assim, de vergonha, de raiva, de pele queimada de sol como camarão… Curioso como o texto é realmente colorido! Parabéns, Adriano!
Muito Bom o texto.. ri D+++++…. Me imaginei nas cenas.. pois na minha lua de mel passei no Hospital junto com o pai da noiva(esposa) na UTI enfartado.. rs..rs
Excelente esse texto!
Me lembrou a lua de mel dos meus pais. Ele contando é muito engraçado.
Espero que novas participações possam acontecer!
Mas, lua de mel como essa, estou fora.
E, todo brasileiro (sempre tem) quer xingar gringo em português, é incrível!
Como sempre, eu estava acreditando literalmente em tudo.;0)
Morri de rir.
É por isso que a primeira coisa que planejei no meu casamento foi marcar a data no dia em que minha noiva nao correrá o risco de precisar de absorvente…rs
Sempre haverá tempo para um comentário meu. Tchans! 😉 Hehehe.
Devéras engraçada essa aventura não? E educativa também, pois aprendendo-se mais sobre luas-de-mel e mulheres menstruadas de TMP, já temos embasamento para evitá-las XD
Hahahaha.
Postagem animal! Abraço querido.