Futebol: nada é impossível. De verdade.

Madri (Espanha) – Sempre costumo dizer que o brasileiro fanático por futebol é o único que segue consumindo o produto, mesmo sendo “maltratado” por ele. Vai ao estádio a pé – já que não tem metrô nem lugar para estacionar, é tratado como gado nos portões de entrada e nas arquibancadas… E com o dinheiro que os clubes embolsam das transmissões de TV, parece que não há estatuto que ajude a virar o quadro.

Pois Espanha e Portugal já viveu situação parecida, e seus clubes tiveram de reverter o quadro. O último deles, em linhas gerais, em função da Euro 2004 – foi o que aconteceu com o José Alvalade, que foi demolido e reformado para a competição. Ganhou um mini-shopping, cinemas e cerca de 40 mil lugares cobertos e com poltronas estofadas.

O Real Madrid, do tresloucado presidente Florentino Perez, também encontrou formas diversas de fazer dinheiro e apostar no marketing como arma certeira para atingir seus torcedores. A compra do meia Beckham, por exemplo, foi paga em poucos dias, graças a venda de camisas com o número 23. Mesmo se o dinheiro não desse, existem outras formas de explorar os aficcionados – mesmo que sejam “apenas” nove euros.

Esse é o preço do bilhete para um “tour” no Santiago Bernabeu. A começar por uma vista panorâmica, passando por arquibancadas, tribuna de honra, vestiários e sala de troféus. O ùnico clube brasileiro que tem algo parecido é o Atlético Paranaense – e mesmo assim, tenho certeza de que não são as mesmas dezenas de pessoas que passam pelo estádio durante todo o dia, como acontece em Madrid.

O assunto surgiu novamente na mesa de um kebab – lanchonete de churrasco grego, mas esqueçam aquele da Santa Ifigênia, com suquinho grátis. Minha amiga e conterrânea Andreia Leripio, cicerone que nos brindou com sua companhia na última sexta, lembrou de duas campanhas de TV interessantíssimas do Atlético de Madrid – aquele time que caiu para a segundona espanhola há algum tempo, levou dois anos para subir e, mesmo assim, lotava o seu Vicente Calderón. Méritos para a publicidade criativa.

Mas enfim. Na primeira propaganda, um pai de família dirige pelas ruas madrilenhas (e seu trânsito caótico), pára no semáforo e, no mesmo instante, é abordado pelo filho. “Papai, podes me responder a uma pergunta?”. “Claro, meu filho”, responde o pai atencioso. “Papai, me explica uma coisa: por que torcemos para o Atlético?”. O pai pensa… O sinal abre e ele simplesmente suspira e diz: “ah, vamos para casa”.

Outra, seguindo a mesma linha do apaixonado: um velhinho tipicamente espanhol revela, diante dos espectadores, que já largou de tudo. Largou a bebida, o cigarro, as frituras, o carteado… “Pero esta mierda de Atlético…”.

Devíamos aprender a tratar o futebol como nossos companheiros ibéricos.

A calle Huertas reúne boa parte dos barzinhos e danceterias da capital espanhola, dos mais variados estilos. O curioso é que, ao contrário dos paulistas, os madrilenhos não pagam consumação. Entram, sentem o clima e, se quiserem, pedem cerveja ou refrigerante – preços entre três e seis euros. Podem perfeitamente perambular entre um bar e outro, atrás das mocinhas – que, diga-se de passagem, adoram uma minissaia.

Falando em mocinhas, a Andreia revelou outra coisa interessantíssima: boa parte dos formandos de arquitetura de Pelotas acabam vindo parar por aqui, transformando Madri numa espécie de Porto Alegre: outra colônia pelotense. Já estou vendo os engraçadinhos lembrarem que, em Madri, casais de todos os tipos e formatos circulam numa boa, sem preconceitos – os pelotenses devem se “sentir em casa”.

Mensagem de Marcelo Sakate, outro que acompanha atentamente nossas aventuras (abraços a todos os outros!), a respeito de Barcelona – destino que será explorado por mim, Lello e Lu a partir deste domingo:

"Vi no seu blog que você já começa a achar madri o "melhor da viagem" até agora... Bom, não quero te influenciar, mas é bom se preparar para mudar de opinião em pouco tempo. Barcelona é muito mais bonita, e o povo, mais simpático. Quando for ao Camp Nou e cercanias, vá de metrô e desça na estação Collblanc e ande pelas redondezas, é muito legal! E não deixe de pagar para ter direito ao tour pelo estádio. Outro programa imperdível, como já te disse, é andar pela orla, uma parte nova da cidade, construída para a Olimpíada (acho que o nome é Barceloneta, perto do porto olímpico).".

Sugestões anotadas, Marcelo! Adorei Madrid mesmo, mas enfim… Veremos o que nos aguarda a partir deste domingo!

Comentários em blogs: ainda existem? (3)

  1. É verdade o que diz. Mas atenção que em virtude do Euro 2004 não foi só o Estádio do Sporting que foi construido de novo. Também o do Benfica (o maior 65.000 pessoas, local onde a Grécia nos ganhou a final), o do Porto, o de Braga (uma referencia arquitectónica), o do Algarve e o de Aveiro. Outros tantos foram remodelados:o de Guimarães, o Estádio do Bessa, no Porto (Boavista), Coimbra e Leiria. Dez!. Ainda agora estamos apagar a factura!!
    nothingandall (blog)

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