“Ei, minha mãe falou que é pra gente se vacinar contra a febre amarela, ela tá muito preocupada!”. A mensagem que ouvi ao telefone esta semana ilustra bem o estado de comoção nacional provocado pela onda midiática: o tal surto de febre amarela silvestre, tratado nas rodinhas do país como se fosse a mais nova epidemia do século. Será que só eu não dei a devida atenção pra esse quiprocó todo?
Vamos recapitular. Existe uma regrinha simples, que todo viajante deveria saber: vai passear no meio do mato, em áreas sabidamente arriscadas? Tome a vacina dez dias antes, ponto final. Então alguns macaquinhos nativos não sabiam disso e morreram na selva. Um ou outro desavisado também não, aí não tem conversa. O que temos? Manchetes alarmistas, dando conta de “mooooortes e caaaaasos da doença em todo o Brasil!”. Provavelmente todo mundo deve ter recebido mensagem semelhante a que ouvi: “tome a vacina agora!”.
Então nossos habitantes teleguiados entram em pânico. Entopem postos de vacinação em aeroportos, acostumados a atenderem apenas os casos de viajantes, como de praxe. Longas filas e reclamações a valer. “Tinha que ser coisa do governo mesmo! Olha isso: tem gente morrendo de uma doença dessas enquanto ficamos aqui, maltratados por essa gente, que só coloca uma enfermeira pra nos atender! É uma vergonha!”.
Não quero generalizar, mas nada me tira da cabeça: entre tantas vozes preocupadas, temos aqueles que já tomaram a vacina há menos de dez anos (mas querem tomar outra, só para garantir); aqueles que nunca vão sair de suas casas para passar alguns dias se divertindo na selva brasileira (provocando escassez de vacinas para quem realmente precisa)…
… E o que mais me irrita nesse pelotão desnecessário: aqueles que, depois de tomar a vacina, deixam pneus velhos, pratinhos em vasos de plantas, garrafas a céu aberto, convidando o bom e velho “aedes egípcio” a trazer não só a febre amarela, mas também a dengue. Ou pior: saem do posto médico barbarizando no trânsito, comem frituras e lanches fast-food… Entre outras demonstrações claras de preocupação com suas vidas.
Mas de que adianta pensar assim se tudo não passa de uma “revolta idiota” diante do meu interlocutor ao telefone? Aliás, durante essa conversa, fiquei com vontade de tomar suco de uva – item obrigatório em minha geladeira. “Tomara que seu suco pegue febre amarela, porque até ele corre risco de ser contaminado!”. Dei de ombros e fui à cozinha. Eis que, ao abrir a porta, uma surpresa aterradora.
– Você não vai acreditar no que meus olhos estão vendo.
– O que foi? Fala, não me deixe aqui morrendo de preocupação!
– O suco! É de manga!!! DE MANGA!!!
Sim, era amarelo. Droga.
Para saber mais: um tira-dúvidas completo sobre a febre amarela, elaborado pelo G1, e o texto mais pé no chão que já li sobre o tema, assinado pelo Hermenauta.
Sensacional!! é isso aí… a imprensa tem uns exageros que vou te contar… Meu amigo argentino perguntou se estávamos em perigo aqui em SP… ai, ai.
hehehe… final tragi-cômico ótemo.
Mas as pessoas estão doidas mesmo, né? Correndo atrás de vacinas sem nem saber por que.
Até minha sogra já veio falar para tomarmos vacina… O.o
é mole?
Mandou bem, Marmota! Tomei vacina dois anos atrás porque tinha uma longa viagem programada para o Piauí, só em regiões de surtos recentes. Fui ao HC e não demorei nem cinco minutos, entre ser atendida, se preparar psicologicamente, rezar, levar a picada e ir embora vitoriosa.
Com tanta gente procurando a vacina sem precisar, fico pensando o que vai ser de quem realmente tem de viajar para alguma região epidêmica…
Se eu fosse bom em teoria da conspiração, diria que isso tem a ver com o fim da CPMF… ou com teste de um tipo novo de vacina contra a febre amarela… ou é mesmo falta de assunto…
abraço
Não tomei a vacina e provavelmente não vou tomar – já que não devo me aventurar em nenhuma “área de risco” nos próximos dias. Mas não condeno quem está correndo aos postos de saúde para se vacinar.
Lula disse que o apagão aéreo tinha “dia e hora” para terminar – e ele continua aí. Lula disse que não havia crise energética no país – e ela está aí, quase causando outro apagão. Lula disse que não seria candidato à reeleição em 2006 – não só se candidatou como foi reeleito com votação recorde. Lula disse que o governo não criaria nenhum pacote tributário para compensar o fim da CPMF – e ele foi criado logo no segundo dia do ano.
Lula e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disseram que não há risco de epidemia de febre amarela no Brasil.
E aí?
Mas o tosco mesmo foi a notícia que ouvi, de um veículo que eu concidero confiável, dando conta de que um brilhante sugeito quase bateu as botas porque … tomou duas doses da vacina, em um dia, só pra garantir … eita orelhice braba!
Quanto ao comentário do Fábio, tenho de concordar quase inteiramente, só trocando “Lula disse” por “o governo disse”. Brasileiro está acostumado a ser tratado como palhaço pelo governo, não importa se militar, se dos tucanos, se do pt. Com o governo dizendo algo, qualquer pessoa de bom senso deveria disconfiar. Mas aqui há uma diferênça: o governo diz que não há crise energética, sendo que especialistas na área de diversas universidades dizem o contrário. O governo disse que não havia crise aérea, quando especialistas de diversas universidades diziam o contrário.
Mas o governo diz que não há motivos para pânico quanto a um surto nacional da dita febre, e especialistas concordam. Assim, parece que dessa vez eu tenho de “concordar” com o que as altoridades dizem sobre o assunto.
Marlon
Pois é, a mídia controla a população como gado no pasto. Eu moro em Brasília, um dos epicentros deste surto, como eu havia tomado a vacina no ano passado pois viajei para fora do país não precisei tomar agora. Mas aqui tá uma loucura, teve neguinho que tomou duas vezes no mesmo dia “só pra garantir” e foi internado com reação adversa. Deveria ter morrido por ser tão burro. Eu morei três anos no nórtão do país e nunca tomei vacina nenhuma que todos aqui do sudeste falam que tem de tomar para ir para a amazônia, e nunca tive nada. O problema é que hoje as pessoas precisam ser guiadas e topam qualquer modinha, do perigo da doença em áreas que não existem aos biguebroders da vida.
hehe, meu pai foi outro que surtou com essa história. Fazem 4 dias que chego em casa e ele pergunta se fui tomar a vacina. Eu tento explicar que tomei faz quatro anos quando passei uns tempos no Tocantins e que não há a minima possibilidade de eu voltar para as zonas de risco nos próximos meses. Mas, não tem jeito. Ele está neurótico com a situação. Isso é coisa da mídia. Assistindo o Jornal Nacional parece que o mundo vai acabar.
André!
E também, tem aqueles que estão se matando pelo excesso.
E acabo de ver reportagem no Jornal Nacional que trinta e uma pessoas estão internadas por tomarem a vacina duas vezes.
E duas delas, em estado grave.
Média, mata.
Tomei essa vacina em 2000, um pouco antes de viajar ao Pará, mas porque era obrigatório para quem fosse para lá, uma vez que havia acontecido febre amarela silvestre.
Porém, nem de longe houve o alarmismo que aconteceu agora. Será que a mídia agiu assim agora porque o presidente é outro?
Em todo caso, foi uma atitude digna de ser mencionada em um documentário de Michael Moore, sobre como a mídia cria um clima de medo para manter a população atemorizada e fácil de ser dominada e gerar um caixa indireto para seus anunciantes. Só não falarão da ameaça das abelhas africanas porque as Apis que temos aqui são majoritariamente africanizadas…
De fato, febre amarela é doença de “meio de mato”. O problema é que aqui em Brasília há “meios de mato” dentro da cidade. Aí, já viu…
Nem estava tão alarmado com essa história de febre amarela, mas por via das dúvidas, eu me vacinei. Até porque isso pode ser exigido por autoridades estrangeiras quando eu for viajar para fora do país.
Pense que aqui em brasilia está o maior terrorismo por conta da febre amarela… e eu ainda nem me vacinei… tb nao to pensando em ir pro mato nos proximos dias… rsrs