Técnico profissional desde 1982, Abel Braga é um daqueles treinadores que conseguem grandes resultados, mas nunca conquistou grandes títulos. Foram seis, todos estaduais: dois em Pernambuco (Santa Cruz), dois no Paraná (Atlético Paranaense) e dois no Rio de Janeiro (Flamengo e Fluminense). Mas ninguém lembra deles. A primeira imagem que qualquer torcedor tem de Abel Braga é uma só: a de um pé muito, mas muito frio. Foi exatamente essa a imagem que fiz quando, no início do ano, anunciaram Abelão como técnico do Internacional: “cacete, vamos morrer na praia outra vez”.
Motivos não faltam. Em 1988, o Internacional chegava à uma decisão de Campeonato Brasileiro após uma virada espetacular nas semifinais, na partida consagrada como o Gre-nal do século. A equipe só precisava de dois resultados iguais diante do Bahia, do Bobô (do Bobô!!!) para ser tetracampeão. Conseguiu vencer o primeiro jogo na Fonte Nova. Mas foi derrotado Perdeu na Fonte Nova e só empatou sem gols no jogo de volta, no Beira-Rio (obrigado, Christian!) e o tricolor baiano conquistou seu título. O técnico do Inter? Abelão.
Em 1989, o Internacional atingia a semifinal da Libertadores. Muitas coincidências em relação a 2006: era um time paraguaio (o Olímpia) e o primeiro jogo foi no Defensores del Chaco. Com um gol de Luís Fernando, o Inter fez 1 a 0 e só precisava de um empate no jogo de volta para decidir a competição com o Atlético Medellin. No Beira-Rio lotado, o time perdeu por 3 a 2. O atacante Nilson (conhecido no Peru por Esídio) errou um pênalti no tempo normal e outro nas cobranças que decidiram o finalista. 5 a 3 Olímpia, na maior tragédia da história do Inter. O técnico era Abelão.
Em abril de 2006, o Internacional disputou a final do Campeonato Gaúcho diante do Grêmio, e no primeiro jogo, arrancou um empate sem gols no estádio Olímpico. Em casa, precisava de uma vitória simples para garantir a taça. Por isso entrou em campo num ousado esquema com quatro atacantes, dominando o jogo e abrindo o placar no segundo tempo com Fernandão. Mas o Grêmio se mexeu e Pedro Júnior, que entrara para mudar a partida, empatou. O resultado favorecia o Grêmio, já que fizera mais gols fora de casa. O Colorado jogou fora o pentacampeonato estadual e o técnico, pela quarta vez em sua carreira, era Abelão.
Mas fora do Inter tem mais. Em 2004, o Flamengo chegou à final da Copa do Brasil e teve como adversário o surpreendente Santo André. Apesar do esforço, o Ramalhão não passou de um empate por 2 a 2 no Parque Antárctica. Assim, o Fla tinha em mãos uma vantagem de dois gols marcados fora de casa para o jogo no Maracanã. O time carioca conseguiu perder por 2 a 0 para o Santo André (o Santo André!!!), e o técnico era Abelão.
No ano seguinte, 2005, o Fluminense tinha uma grande equipe, e encarava mais uma zebraça na decisão da mesma Copa do Brasil: o Paulista de Jundiaí. Ah, sim, o técnico do Flu era Abelão, que imaginava: “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Mas caiu. O tricolor carioca perdeu a primeira partida por 2 a 0 e, no Maracanã, fez o jogo da vida. Teve um volume de ataque monstruoso. Mas não conseguiu marcar gols e perdeu o título.
O mesmo Fluminense de 2005 disputava o Campeonato Brasileiro, permanecendo nas primeiras posições durante toda a competição. Até disputava o título, mas ficaria feliz com uma vaga na Libertadores no ano seguinte. Nas últimas quatro rodadas, tinha pela frente o clássico com o Vasco, o tropeçante Atlético Mineiro, o modesto Fortaleza, o ajeitado Juventude e o Palmeiras em ascensão. Conseguiu perder todas elas e entregar a vaga na Libertadores para o Palmeiras. Mais uma do Abelão.
Nessa Libertadores, no entanto, a sina trágica de Abelão ainda não apareceu. Nas oitavas, o time passou sem sustos diante do Nacional, algoz colorado na final da Libertadores de 1980. Nas quartas-de-final, um tropeço contra a LDU em Quito: 2 a 1. Mas a Copa do Mundo passou e o Inter se garantiu com 2 a 0 no Beira-Rio, um golaço do “saci” Rentería e uma defesa de outro azarado, Clemer, no último minuto, após cobrança de falta.
Então chegaram as semifinais contra o Libertad. O empate sem gols na última quinta-feira foi visto com ressalvas, já que os paraguaios poderiam se classificar com um empate com gols em Porto Alegre. Por outro lado, o Inter viu uma bola bater no travessão, no calcanhar de Clemer e, milagrosamente, ir para fora. Em uma “abelada” normal, a bola teria entrado.
Finalmente, nesta quinta-feira, a partida mais importante desde 1989. Para ter a chance de disputar a partida mais importante desde 1980. Para tirar da camisa vermelha aquele ranço de “time local”, como adoram lembrar os esnobes gremistas – que, sejamos justos, já sentiram o gosto de ser o melhor da América do Sul duas vezes. Mas voltando. Diante de 50 mil no estádio (e mais alguns mil longe dele), o time só conseguiu chutar uma bola ao gol depois de uma hora de partida. Quatro minutos depois, mais um.
Felizmente, foram dois chutes e dois gols. E Abelão deixa o campo emocionado, crente que a maré de azar acabou. “De repente a gente não pode mudar o começo, mas podemos mudar o fim”, dizia, nos vestiários.
Nós também acreditamos, Abel. E graças a minha confiança (e a sensacional promoção da Gol) estarei no Beira-Rio no dia 16 de agosto, para quem sabe ver meu time superar o excelente São Paulo e ser campeão sul-americano, e assim gritar como nunca e festejar na Avenida Goethe a noite toda, ao lado da massa colorada.
Mas na boa, Abelão: ainda tenho medo de você.
Já eu gosto mto do Abelão e espero que ele continue assim hehehehehe
Por enquanto estou dependendo da resposta de um primo de lá que estará aqui e pode ir de carro comigo. Mas se der a louca vou de ônibus mesmo. Preciso ver como conseguir os ingressos lá, vou colocar a familia na fila.
“Abelada” é ótimo, mas coitado do homem! No fim, aquela história toda do “importante é competir” é só conversa fiada. Sempre vamos querer os títulos ao invés dos vices da vida. Pra garantir, você podia dar um par de meias de lã pra aquecer os pés do Abelão, chapão… 😉
Dáaaaaaaa-lhe INTER!!!!!
Vamo vamo inter!!! Também ja garanti minha passagem pra POA soh q como sou pobre vou de busão hehe, espero não voltar que nem na final do gauchão. Também tenho mais medo do Abel do que do próprio SP.
Marmota uma correção a final de 1988 contra o Bahia o segundo jogo no beira-rio deu 0 x 0 como o Bahia havia vencido o primeiro jogo se tornou campeão infelizmente
Abraço colorado
Ah… eu queria ver esses jogos contigo…
Estamos quites, amigo: eu também tenho muito medo do Muricy.
Vão ser dois jogões, sem dúvida!
Como o Corinthians foi incompetente para chegar à final contra o São Paulo, agora é a vez de torcer pelo Inter. Espero que você volte muito feliz de Porto Alegre, como vontade de ir ao Japão no final do ano.
com vontade, aliás.
Oi Dé!!
Não gosto de futebol. Eu sei, eu sei…você deve ter uma versão daquela música “quem não gosta de samba, bom sujeito não é…” para quem diz isso.
Só entrei neste post para comentar que as suas vinhetas “Da série…” são muito boas. Uma mistura perfeita de non sense, besteirol e criatividade.
Vejo que continua o mesmo desde os idos anos de JOD.
Bjo, Fernanda