E se fosse a última chance para dizer algo?

– Oi, estou enrolado agora… Sei que você é importante, mas poderia ligar mais tarde?

– Ei! Eu sou importante! Fale comigo! E se eu estivesse prestes a morrer e fosse a última chance de conversar comigo?

Não é o tipo de pergunta que se faz no meio do expediente. Se eu realmente me visse diante dessa, talvez perguntasse se o meu maior desejo, de encontrar alguém que sentisse prazer em estar comigo e, enquanto persegue seus sonhos, quisesse juntar as bibliotecas e dividir o desafio da convivência, fez algum sentido em algum momento. Mmmhhh… Questão difícil, nem eu sei mesmo se é isso que eu quero. Bom, também não me atreveria a perguntar se, enfim, eu era mesmo “o homem da sua vida”. Ao menos dessa. Ninguém tem essa certeza. Claro que não, é o tipo de coisa que jamais exigiria ouvir. Se bem que… Vai que não sou e, em sua agonia, você grita o nome de outro? Tá, tanto faz. Provavelmente, como sempre fiz, faria alguma brincadeira sem graça antes de começar uma ladainha com alguns clichês relacionados à vida curta, lamentando por tudo aquilo que não fizemos. Da falta que você me fez ao ficar vivendo “de picadinho”, sensação que carreguei comigo em boa parte desse tempo e que, nessa situação, ficaria para sempre. Seria um negócio fantasmagórico, você estar em todo lugar e eu tendo que dissipar a minha vontade de jogar tudo fora, agarrar você, deitá-la apertada na minha cama. Balançaria a cabeça pelo tempo que perdemos discutindo “aquilo que chamamos amor” sem nos darmos conta que nossos laços se fortalecem quando não damos bola para isso. Ou melhor, quando sentimos “aquilo que chamamos saudade”. Lembraria, inevitavelmente, da nossa caminhada, aos tropeços… Primeiro você queria correr enquanto eu, parado, mascarava meus desejos e segurava o seu puxão… Então fui soltando aos poucos meus pensamentos à medida em que sentia sua delicadeza ao me convidar… E quando eu já corria contigo, você se dava conta que havia algo de estranho nos nossos desejos e parou para sentar na beira da calçada. Talvez tenha sido o momento em que mais interroguei a ti, a mim… Questões sem sentido, tanto quanto qualquer resposta que poderia vir da sua boca. A saída não estava em palavras, mas em ações. Nos nossos desejos, muitas vezes chacoalhados por uma saraivada de inexplicáveis “não posso” e “não devo”. Naquilo que nos mantém equilibrados enquanto estávamos de mãos dadas. Não é uma caminhada. Muito menos uma corrida. É uma dança. Nessa hora, eu rio de mim… Do quanto me aborreci em minha vida pelo simples fato de não ter habilidade em conduzir meu lindo par por esse baile. Das muitas noites em que poderia ter dito o quanto você é linda, de como fico enfeitiçado por suas curvas – ainda que, muitas vezes, minhas mãos tímidas tenham feito esse papel, em silêncio. Mais uma vez, lamentaria o tempo que perdemos discutindo sem nos darmos conta. Talvez você não dissesse nada e, ao partir, ficaria dialogando com o passado duvidando dos poderes curativos do tempo e questionando esse fim desastroso: por que vou ter que, outra vez, voltar ao começo? O que foi que eu errei ou repeti? Mmmhhh… Não faz sentido seguir o mesmo roteiro desnecessário. Precisaria me segurar para não chorar inconformado, seguraria na sua mão e, antes de tocar meus lábios no seu pela última vez, te diria baixinho: obrigado, meu amor, por compartilhar comigo alguns passos de dança nesses anos todos.

– Ah, não diga isso… Temos tanta coisa para viver juntos. Eu te ligo daqui a pouquinho.

– Tá bem, seu chato. Mas não morra.

– Eu também te amo.

André Marmota dialoga muito com o passado, cria futuros inverossímeis e, atrapalhado, deixa passar algumas sutilezas do presente. Quer saber mais?

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