Dunga (ou: eu também gritei “nããão”…)

E eu imaginava que nossa vida continuaria numa boa a sequência de sustos após a Copa do Mundo acabaria… Que esperança. Uma notícia surpreendente mexeu com a minha tarde de segunda-feira: os sete anões da cúpula verde-amarela mexeram seus pauzinhos e convidaram um novo amigo para tomar conta da garotada. No lugar do Dengoso, que foi pra Alemanha ao lado do velho Soneca, chegou o Dunga.

Gosto muito do estilo dele, e nem dou pelota pro lance bobo da final do Gauchão de 99, quando Ronaldinho Gaúcho deu aquela entortada nele. Prefiro lembrar da última rodada do Brasileirão, quando ele ajudou o Inter a não cair. Foi um jogo espetacular, onde o técnico Leão, contratado para salvar o time da degola, mandou apagar as luzes do Beira-Rio e jogou bolas em campo. O próprio Dunga fez, de falta, o único gol do jogo, no finalzinho do segundo tempo, contra o Palmeiras de Marcos, Arce, Paulo Nunes, Evair e Felipão. Aliás, momento histórico: fui trabalhar com meu agasalho colorado naquela noite de dez de novembro e, depois do expediente, “fechei” sozinho a Paulista.

Vou torcer muito para que Dunga seja uma bela surpresa. Mas enfim, quando soube da contratação, achei muito, mas muito estranho. Provavelmente você também.

Senão, vejamos. O fiasco diante dos franceses trouxe à tona um pedido por garra, vontade, amor à camisa… Mas ao mesmo tempo, ninguém ousaria descartar algum conhecimento ou experiência na função – por isso, nomes como o de Felipão, Luxemburgo, Autuori, Muricy, entre outros, foram ventilados. Dunga tem muita raça e vontade, mas ninguém sabe – talvez nem ele mesmo – se ele vai ser um bom treinador.

Torço para queimar minha língua, mas o que se vê aqui é a obviedade do “treinador-tampão-esquenta-banco”, que na prática é uma tremenda sacanagem: os dois nomes favoritos da CBF, Scolari e Luxa, possuem acordo firmado, respectivamente, com Portugal e Santos. Ambos ficarão atrelados aos seus projetos até 2008, dois anos antes do Mundial. Até lá, nos viramos com Dunga. Se der certo, vamos em frente. Se der errado, tudo bem. É só dizer “obrigado” e executar o plano original.

Ou seria isso um devaneio, afinal de contas, por que não dar um voto de confiança aos manda-chuvas do futebol nacional?

Tendência do mundo é testar – Antes de afirmar categoricamente que é uma maluquice botar alguém que nunca treinou nada para comandar essa verdadeira instituição nacional, convém lembrar da Alemanha. Jurgen Klinsmann não era apenas um novato. Era um novato que morava nos EUA, bem longe de casa.

Tudo bem, ele fez os alemães sofrerem por toda a preparação. Levou para o Mundial uma equipe totalmente desacreditada, e só reconquistou a torcida durante a competição. Agradeceu ao apoio numa festa espetacular no Portão de Brandemburgo mesmo sem ter ido além do terceiro lugar. Mas enfim, deu certo.

Sem sair da última Copa, no entanto, outros dois exemplos. Van Basten também nunca tinha comandado nada antes de levar a Holanda até as oitavas-de-final, e perder o jogo (e a cabeça) contra Portugal. Quem também jamais tinha se aventurado nesse ramo foi Zico. Mas no caso dele, tudo bem. Os japoneses eram no máximo esforçados.

Mesmo depois do Mundial, o Brasil não foi o único a apresentar um treinador “cru” ao seu torcedor: Roberto Donadoni começou a carreira em 2001, passando por Lecco, Livorno e Genoa. Agora, tem nas mãos o atual campeão. Essa matéria do UOL lembra ainda de Rudi Voller na Alemanha e Falcão aqui mesmo, em 90, após o fracasso na Copa da Itália – durou um ano e pouco, logo chegou Parreira e fomos campeões em 94.

Por que não o Frank Rijkaard? – Logo depois da Copa, nosso mestre Inagaki levantou uma possibilidade muito interessante. Se é realmente necessário um treinador diferente de tudo que já se viu, que traga vontade, ousadia e conhecimentos técnicos, por que não o Frank Rijkaard?

Sim, o holandês Rijkaard, e a moda holandesa de futebol, alegre e ofensiva, é muito interessante. Sabem defender, mas sabem muito bem atacar, muitas vezes com três homens de frente. O Barcelona de Rijkaard, campeão da Europa, tem Giuly, Eto`o e Ronaldinho Gaúcho. Aliás, aqui vai mais um ponto a favor: ele sabe como fazer o melhor do mundo jogar bola.

O único porém é a sua nacionalidade. Provavelmente a maioria dos torcedores torceria o nariz diante de um comandante estrangeiro, especialmente diante de tantas possibilidades competentes. Inagaki lembra que, com uma ou outra performance positiva de Rijkaard, ninguém mais lembraria de onde ele vem. “Sem falar que ele conseguiu fazer o Belletti jogar! O Belletti!!!”, insistiu.

A idéia parece mesmo bem boa. Mas provavelmente nunca vai acontecer. Nem adianta fazer campanha.

(Postado em 25/07/2006. Nesta quarta, o anão fez seu último jogo de 2007 pelas Eliminatórias, contra o Uruguai. E mesmo com bons resultados em amistosos e o título da Copa América, vive sob intensa pressão, especialmente após partidas carregadas de instabilidade. Ainda desconfio que sua imaturidade não o levará à África do Sul em 2010.)

Comentários em blogs: ainda existem? (5)

  1. Já pensou se o Dunga for o primeiro técnico responsável por NÃO levar o Brasil à Copa? :O

    Eu acho que ele não consegue montar um time, aquilo ali é só um amontoado.

    Só o que gosto na administração dele é a extensa base são-paulina que tem na seleção. Inclusive com o Luís Fabiano salvando a pátria!

    Queria ter podido ir no estádio ontem.

  2. André:

    Papo sério. Seleção pra mim já era. A de 94 em Pasadena foi uma decepção. Capeonato nacional tampouco me diz nada. Simpatizo com o Santos e com a saga do Corinthians. Campeonato que me interessa é o carioca e o estadual do Rio de Janeiro, onde dá pra viver o folclore das rivalidades. XV de Arapiraca? Cerrebê e CSA? Me poupa. Seleção hoje não tem amor à camisa; tem amor aos contratos milionários dos sapatos.

    A tua hipótese assusta só um pouco.

  3. eu acho que o problema não pode ser colocado só em cima do Dunga…o pessoal só quer jogar bem na Eurocopa…o Dunga até tenta, mas com o pessoal só pensando em dinheiro num da pra continuar…se a seleção não parar de fazer corpo mole não tem como jogar bem mesmo nem que o papa va coordenar a situação

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