Dando pitaco no design do Pan

Assim como praticamente tudo que envolve direitos autorais nos Pan-americanos, existem uma série de restrições para o uso das marcas ligadas ao Rio 2007, todas de propriedade do Comitê Organizador. Como parte da verba que financia o evento consiste na exploração comercial das mesmas (a outra saiu do nosso bolso), apenas a o governo, a esfera pública e os parceiros comerciais da competição podem utilizar as imagens oficiais: logomarca, pictogramas de cada modalidade, mascote e afins.

Bom, eu não sou designer, nem entendo do riscado. Mas se eu tivesse realmente que usar alguns desses elementos com fins comerciais, eu estaria muito preocupado. Ou será que, apesar das cores laranja, verde e azul estarem espalhadas pelo Rio e em qualquer cantinho Pan-americano, só eu fiquei com a sensação estranha de que não ficou tão bom assim?

Claro que eu poderia ter perguntado isso há mais tempo, mas não adiantaria nada. Desde o primeiro semestre de 2003, quando o Co-Rio e a Prefeitura da cidade maravilhosa escolheram o escritório Dupla Design, a equipe capitaneada por Ney Valle e Cláudia Gamboa assumiram a responsabilidade por toda identidade visual dos Jogos. Nada contra os profissionais, que estão hã 17 anos no mercado, são premiadíssimos e reconhecidíssimos. Agora, sabendo que eles tiveram três anos de contrato, com direito a um fee mensal de R$ 20 mil para desenvolver as peças, eu tenho total direito de questionar.

Logomarca: uma zona? – Conceitualmente, os pássaros representam superação e precisão de movimentos, sem falar no Pão de Açúcar estilizado no contorno da asa, percebeu? A presença de cinco aves, em posições diferentes, indicam as culturas das Américas, tão diferentes mas ao mesmo tempo unidas por um ideal. Mas você também pode entender como uma revoada desordenada, assim como tocaram as obras antes dos Jogos – ou como entregaram a porcaria do “estádio” de beisebol, na Cidade do Rock.

Para ninguém dizer que não gostei de nada: o tipo do “Rio 2007” é bonito. Mas precisava ter um “200” na vertical? Tudo bem, a palavra “Rio” ficou bem destacada, isso é bacana. Mas por que destacar o “7”? “Ah, é a metade de um troféu”, explica o site do COB. Sei.

Os conceitos olímpicos e seus valores tradicionais, conjugados com a inovação e modernidade (imagem que o Co-Rio queria transmitir) também figurou na tocha, símbolo que circulou pelo país inteiro antes dos Jogos começarem. Como a equipe conseguiu aliar os dois elementos? Simples: dividiu o artefato em dois, botando metade acrílico e metade ferro. Brilhante, não? Enfim, ao menos ficou bem mais bonito que a pira olímpica do Maracanã – mas essa foi desenhada pela Rosa Magalhães, especialista em Carnaval, o que explica aquele “globo da morte” aceso.

Trapezoidal? – Enfim, as cores dos pássaros também foram usadas nos pictogramas, responsáveis por transmitir qual modalidade se trata de forma universal. O contraste entre o trio laranja-verde-azul com o branco, resgatando a identidade visual incorporada no logo, mantendo o atleta em primeiro plano e vários elementos ao fundo. O pictograma do pentatlo moderno, por exemplo, apresenta elementos dos cinco esportes envolvidos na prova – coisa que não existe no desenho olímpico tradicional, monocromático.

Ponto para eles. Os pictogramas poderiam “salvar” a imagem da Dupla Design. Até que a equipe de Ney Valle carregou na inovação e na modernidade nas medalhas.

Eu cresci associando a idéia de “medalha” como sendo aquela coisa redondinha. Nada disso. Vamos de “formato trapezoidal”. Ou, nas palavras do chefe da equipe de design, “um retângulo que se estende, representando a superação dos limites”. Trapezoidal. Modernidade que também está simbolizada na armação de acrílico, que separa a medalha da fita colorida e com ondas. Trapezoidal… Ok, desculpem a minha implicância.

Mas é o malvadinho!!! – Na verdade, estava mesmo era esperando por esse momento do texto. A vontade de compartilhar a mesma indignação sentida pela Tina. O personagem que deveria representar o lado lúdico dos jogos e transmitir a mensagem de paz, amizade e confraternização, mas que por um descuido, uma infelicidade ou “braço curto” mesmo, desqualifica praticamente todas as ações da empresa envolvendo a imagem do Pan. Estou falando do Caô, é claro.

Ah, ato falho. É Cauê. Mas não importa. Quando o vi pela primeira vez, ainda sem nome (Luca e Kuará eram as outras opções), automaticamente o chamei de “Ninho Soleil”, pois a associação imediata com esse ou outro solzinho com olhos e sorriso meigo era absurdamente descarada. Na mesma semana, André Dahmer corrigiu a mascote – a outra associação óbvia era com Os Malvados. A Tina elenca uma série de elementos inspiradores: o Quiquito de Gramado, o sol de Ziraldo para Nova Iguaçu, entre outros… Alguns cidadãos cariocas, inspirados no famoso quadrinho virtual, puseram o “malvadinho” armado em alguns pontos da cidade.

Então a equipe de desenvolvimento tem a cara de pau de dizer que “o projeto foi desenvolvido com cuidado ao longo de quase dois anos, a partir de muita pesquisa”? E que não houve nenhuma polêmica, simplesmente “uma escolha democrática de nome em urnas espalhadas pelo Brasil inteiro e pela Internet, com cerca de 1,5 milhão de votos direcionados ao simpático simbolinho aprovado pelo país inteiro”? Francamente.

Dos males, o menor: Cauê será a mascote do Parapan, o que denota igualdade e respeito a todos, de verdade. Agora, se era para adotar uma imagem que tivesse a cara da cidade, bem que podia ser o Balinha, criado pelo Kibe Loco.

Eh, Brasil! – Meu amigo Fernando Max Ferreira é considerado, até hoje, responsável pelo desempenho brasileiro nos Jogos de Sydney, em 2000 – quando trouxemos seis medalhas de prata e seis de bronze. Nenhum ouro. Envolvido na cobertura dos Jogos Pan-americanos 2007, Max esteve bem perto da TV quando Jade Barbosa competiu na final individual geral, nas lutas de Natália Falavigna e João Gabriel, e finalmente na decisão entre Brasil x Cuba no vôlei feminino. Por enquanto, os momentos mais “Eh, Brasil” dos Jogos.

Eu disse “por enquanto”.

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (10)

  1. Juro que quando ví as cores e os pássaros,
    lembrei daquelas camisetas horrorendas
    vendidas por bichos-grilos em qualquer calçadinha do planeta.

  2. bom dia Andre.
    vi sua reportagem, e esper que as pessoas se toquem quanto a farsa estranha do bonequinho..há dias linkei o texto da Tina, mas acredite, de quase vinte comentários nenhum teve alguem se tocando sobre o fato…

    E o curioso é que passaram pessoas inteiradas das cosias..
    não sei se virou ‘normal’, esta banalizado o roubo, a apropriação indevida…
    enfim, tudo isso me entristece.
    somos um povo bacana, mas sem sentido geral, amplo e irrestrito.
    bjos

  3. Pô Marmota, finalmente vou poder discordar de você hehe

    Sinceramente eu gostei de quase tudo no que se trata do design do PAN. Percebeu o podium? Achei bonito. As cores boas, vivas.

    As medalhas? Diferentes, mas não feias.

    Os pássaros no logo? Eu gostei muito.

    O mascote, tá certo, poderia ser melhor.

    Abraço.

  4. Bom, como designer, eu digo que só não gostei mesmo da medalha. O resto tá muito legal!

    O Cauê tá meia boca, vai… mas legalzinho também. O problema é que avacalharam muito com o Soleil, coitado! Hehehe!

  5. Ficou excelente, André. Quero acrescentar que DD “ganhou ” os três concursos de : poster, mascote e não me lembro do terceiro. É estranho que além da concorrência eles ganhem “concurso”.
    Outro ponto é o dedo Global na distribuição das mercadorias.

    Ficou bom à beça. Há trechos de descrição dos lances criados pela DD que parecem tirados de “memórias” que escrevem os arquitetoa. Valeu o link.

    Beijinho,

  6. hehe, quando vi o mascote do Pan a primeira coisa que pensei foi: caraca, anos de desenvolvimento para isso?? Não devo entender nada de publicidade mesmo.” A segunda coisa que pensei foi que plagiaram os Malvados, hehe.

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