Cururu é pra jacu

Tem gente que detesta o horário eleitoral gratuito na TV. Eu adoro. Se pudesse, veria todos os dias. Não pelas propostas e menos ainda pelas promessas vazias, mas especialmente pelos tipos estranhos. Ainda bem que, para o nosso deleite, a web nos brindou com o You Tube, que a essa altura reúne dezenas destes cidadãos bizarros sonhando com uma vaguinha nas assembléias estaduais ou mesmo no congresso.

Não existe, porém, candidato mais emblemático do que Cláudio Roberto dos Santos Insaurriaga. O país, a começar por Pelotas, Rio Grande do Sul, o conhece pelo apelido: Cururu.

Em 2004, em sua primeira aparição, saiu candidato a vereador com uma campanha no mínimo absurda: com seu cabelo comprido e cacheado, bigode e cavanhaque, dizia-se ex-vendedor de rapadura e pastel, ex-capinador de quintal dos outros, cantor e palhaço de circo fracassado. Tinha coceira na cabeça e bicho de pé. Queria ser eleito vereador para resolver seus problemas financeiros. Disse que não era ladrão nem mentiroso: não prometia nada, a não ser pensar nele mesmo.

O discurso sincero do ator/músico que fez apenas o segundo grau deu certo. Sabe-se lá como, abocanhou 4.600 votos, sendo o quinto vereador mais votado em Pelotas naquele ano. Entre todos os candidatos bizarros do país, Cururu foi o único eleito. Realmente resolveu seus problemas: passou a ganhar R$ 4,3 mil por mês. Obviamente, também provocou uma interessante discussão na cidade.

A legislatura de Cururu foi marcada pelo seu trabalho artístico-humorístico e por uma briga com o correligionário Ademar Ornel – que, ironicamente, foi eleito apenas graças aos votos de Cururu. A história culminou com pedido de cassação de mandato de Ornel (negado). Fora o quiprocó na câmara pelotense, nada desabonou a conduta de Cururu – que decidiu voar mais longe e se candidatar a deputado federal.

A equipe de Cururu produziu dois vídeos que já viraram hit na web nacional. O primeiro reforça o bordão “já falei que não sou ladrão nem mentiroso”, apesar de aparecer com uma maleta com “mensalão”. O segundo traz uma conseqüência drástica de sua postura: o jantar é gato com batata. Nenhum deles, no entanto, foi veiculado na TV: o PFL vetou ambos, alegando que todos os candidatos dispõem apenas de 15 segundos, além de imagens padronizadas gravadas no mesmo estúdio.

O episódio transformou-se em uma chance de ouro para Cururu aparecer ainda mais. No último dia 23, Cururu protestou na Avenida Bento Gonçalves, a mais movimentada da cidade, permanecendo acorrentado e amordaçado. Cartazes e panfletos de protesto foram distribuídos pelas ruas. Cururu mostra verdadeiras habilidades de marketing pessoal e aproveita como ninguém o atual momento da política nacional, onde os candidatos são todos iguais, um bando de picaretas.

Para não perder o embalo: a Folha deste final de semana traz uma matéria sobre artistas candidatos, com destaque para o Clodovil (que vai ganhar, não tenha dúvida) e o Alan do Polegar (o Alan do Polegar é candidato!!!). Se Cururu chegar ao Planalto Central ao lado de Clodovil e tantos outros, será uma demonstração pesada de como o país vê a importância do nosso legislativo. Haja peroba neles.

Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. Você lembra do ex-camelô David que hojé é palestrante e referência mundial em marketing de vendas? Então, se ele se canditadar ganha! E por muito! Esses caras usam da irreverência para ganhar votos. Não sei o que acontece, mas a população acaba apoiando. Não sei se está errado, pois pelo que eu vi e li esse tal curucu está trabalhando.

    Quanto aos artistas candidatos, não tenho nada contra também. Mas botar uma drag na câmara é sacanagem. Isso aqui não é Itália da Cicciolina, mas está perto.

    Abraço! O blog está muito bom! Vou te linkar por que você merece!

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