“Quem será o próximo técnico da seleção brasileira?”. A pergunta, que sempre toma conta das mesas de boteco após as fracas participações brasileiras em mundiais, costumam ser respondidas pela CBF praticamente da mesma forma: “é hora de reformular os procedimetos” ou “vamos trabalhar em conjunto com as categorias de base”. Foi assim há quatro anos, quando Ricardo Teixeira quis abandonar a filosofia anterior e convocou Dunga para o posto.
Novamente, o discurso é de mudança. E ao que tudo indica, Luiz Felipe Scolari será o homem que levará o Brasil ao hexa em meio a pressão das terras tupiniquins. É o meu favorito. Caso ele cumpra seu compromisso com o Palmeiras (o que é bem provável), algum outro começará o trabalho ao final do mês – provavelmente Leonardo, que poderá ficar por uns dois anos. Mano Menezes, que é uma espécie de “Felipão da nova geração”, é o terceiro da lista, catapultado por seus resultados em mata-matas e, por que não, por algum lobby do chefe da delegação brasileira na África, o presidente corintiano Andrés Sanchez.
Os outros nomes ventilados por aí são mais difíceis. Wanderley Luxemburgo é sempre lembrado, para o bem ou para o mal: ele já teve sua chance após o fracasso brasileiro na França, quando era considerado o melhor do Brasil. Muricy Ramalho é muito competente, mas seu temperamento faz lembrar alguns momentos dunguistas. E Ricardo Gomes sequer deveria ser citado após a vergonhosa campanha comandada por ele no Pré-Olímpico para os Jogos de Atenas. E é engraçado como Paulo Autuori, uma das apostas pós-Parreira em 2006 graças ao Mundial conquistado pelo São Paulo, mal aparece nas rodinhas.
Agora, já que o cargo está vago e a discussão tomou conta, por que não imaginar alguns palpites ainda mais difíceis, só para fazer espuma? Imagine como seria se, daqui uns dias, resolvessem anunciar algum dos cinco nomes abaixo para o comando técnico da seleção?
Joel Santana – De todos os nomes brazucas, talvez o de Joel seja o menos comentado – talvez perca para Zico, que pode contar com rejeição menor, mas que já anunciou jamais voltar a trabalhar com a atual cúpula da CBF. Mas ao declarar que “sonha em comandar a seleção em 2014” para a mídia, Joel começou a fazer barulho. De fato, é realmente curioso o fato de um treinador carioca, com 30 anos de história e passagens por clubes do mundo todo no currículo, jamais tenha sido chamado.
Experiente ele é. Agora, suas virtudes poderiam ser questionadas pelo torcedor mais corneteiro. A bem da verdade é que o estilo “paizão” do Natalino poderia combinar com um time jovem e alegre. E nem seria necessário falar inglês, como na passagem frustrada pela África do Sul – apesar dele ter levado os Bafana Bafana a uma semifinal, hein?
Paulo Roberto Falcão – Aqui um representante da linha “se é tão fácil enxergar o que pode ser feito segurando um microfone, por que não põe a mão na massa?”. Colocar um narrador ou comentarista para treinar a seleção, evidentemente, não é uma coisa que funcionaria tão bem como nas vésperas da Copa de 70, na passagem de João Saldanha. Daria pra imaginar um Galvão Bueno treinando a seleção? Nesse aspecto, o nome mais interessante é o do eterno ídolo colorado e “Rei de Roma”.
Nos bastidores, dizem que Falcão sequer viajou à África pois está mais preocupado com seus planos em voltar a exercer o cargo de técnico. “Ah, mas ele já teve sua passagem pela seleção em 90”, vão lembrar alguns. Pois é, graças a ele a tal “reformulação” realmente aconteceu, parando na Copa América… E o que houve com o Brasil na Copa seguinte? Venceu comandado por um treinador experiente, dando continuidade ao trabalho dele. Por que não tentar de novo?
José Mourinho – Sinto muito, acabaram os bons nomes brasileiros. As três sugestões restantes implicam em algo que fere profundamente o orgulho nacional: nunca um técnico estrangeiro seria chamado para assumir o cargo. Menos ainda tendo como planejamento o Mundial realizado em nosso próprio país. Agora, seria uma experiência interessante se algum dos treinadores que já declararam “sonhar com um trabalho no Brasil” como Sven-Goran Eriksson ou Bora Milutinovic, passassem pelo país por um ano ou dois. E se é pra pensar num estrangeiro, comecemos por uma unanimidade, que poderia até mesmo ficar até 2014: o “Luxemburgo da Europa”, que já tem inúmeras biografias publicadas de tão bom que é.
Uma vantagem seria vista com bons olhos: o atual campeão europeu não teria qualquer problema com o idioma. José Antônio Lima, do excelente Esporte Fino, é um dos que gostariam de vê-lo por aqui. “A amarelinha serviria perfeitamente para o ego do português e ele certamente provocaria uma revolução muito necessária no futebol brasileiro. Faria os jogadores, na seleção, desempenharem funções táticas diferentes das tradicionais, mostrando um caminho que os técnicos brasileiros simplesmente desconhecem”.
Marcelo Bielsa – Ainda na linha “experimentos impossíveis”, um nome que se encaixa perfeitamente ao discurso de ofensividade e retorno ao “futebol arte”, característica desprezada pelo futebol brasileiro nos últimos anos, seria o de um entusiasta do ataque. O trabalho de “El Loco” Bielsa no Chile fez com que os deputados do país chegasse a oferecer “nacionalidade chilena” por ter resgatado a auto-estima dos “rojos”.
Tenho certeza de que o Brasil de Bielsa encheria os olhos do torcedor, desde que não se importassem com um pormenor aparentemente irrelevante: Bielsa é argentino. Como se não bastassem, poderiam dizer ainda que, quando teve a chance de comandar um time de ponta (a Argentina de 2002), ficou na primeira fase do Mundial. Enfim, diga com franqueza: algum técnico no Brasil possui perfil parecido?
Guus Hiddink – Lembro quando o Inagaki, entusiasmado com o título do Barcelona na Champions League de 2006, cogitou o nome de Frank Rijkaard como treinador da seleção. Na época, o holandês entusiasmava ao comandar um time com três homens no ataque – Giuly, Eto`o e Ronaldinho Gaúcho. “Sem falar que ele conseguiu fazer o Belletti jogar! O Belletti!!!“, comentava na época.
O ex-parceiro de Gullit e Van Basten no time campeão europeu de 1988 está na Turquia, longe dos holofotes. Mas a idéia de tomar emprestado o método holandês de comando poderia ganhar nova força, especialmente em função da presença laranja na decisão da Copa. E entre os treinadores, não há melhor opção do que Guus Hiddink – que, convenhamos, fez muita falta na África do Sul. Se ele ou qualquer um dos três anteriores fizessem um bom trabalho, com certeza o brasileiro nem se importaria com detalhes como nacionalidade.
De volta à realidade, seja bem-vindo, Leonardo. E até daqui um tempo, Felipão.
Em tempo: não deixe de ver as sugestões de Felipe Lessa, no De Primeira. Bem melhores que as cinco acima.
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