Belo Horizonte (MG) – Sei que há muito os nossos heróicos doze visitantes diários já não se importam mais com o descaso deste espaço. Afinal de contas, estamos em uma semana onde só os mais obcecados ficam na Internet. Sem falar que passei um mês em outro país, trouxe na mala uma porção de histórias mas não consigo tempo para empacotar e preservá-las aqui. Pra piorar, mal deu tempo de assimilar aquela volta para casa para surgir uma chance que esperava há séculos: conhecer a única capital do sul-sudeste que ainda faltava na lista.
Foi muito rápido, mas consegui visitar Belo Horizonte entre os dias 10 e 11 de dezembro. Depois de praticamente 40 dias sem folga, finalmente alguns registros rápidos das minhas impressões.
Em minha única passadinha pelas redondezas, em 2000, tive que esperar uma conexão nos confins de Confins. Na época, o saguão/pátio/área de embarque e desembarque era deserto, com atrações precárias. Agora tudo mudou: entre os dois extremos, no longo caminho que separa os balcões da Gol e da Tam, muito movimento, algumas boas opções de compras e um simpático barzinho, o Baden Bier. Provavelmente está assim por causa das obras no Aeroporto da Pampulha e a consequente transferência de vôos. Para o bem dos viajantes, bem que podia continuar assim.
Falando em vôo, minha viagem de ida foi a bordo da última aeronave da Gol que deixava Congonhas rumo às Minas Gerais. Com direito a escala em Uberlândia – uma digna rota “triângulo mineiro”. Aliás, pelo tom de voz do tio da poltrona ao lado, é um vôo campeão de reclamações – coisas como ir direto à BH, atrasos de longas horas madrugada adentro… Eh, Brasil!
Antes mesmo de chegar à cidade, o mapa da região central já me deixava curioso: como é possível um cruzamento de três ruas? Pois isso realmente é comum, e funciona muito bem. Meu hotel ficava bem próximo de uma dessas curiosas junções: Avenida Álvares Cabral, Rua São Paulo e Rua Bernardo Guimarães. A bem da verdade, é muito fácil se perder nessa teia circunscrita na Avenida do Contorno: as avenidas principais e as ruas de mão única são muito parecidas entre si, e todos os caminhos parecem levar aos mesmos lugares. As praças funcionam como pontos de referência: a da Liberdade, da Assembléia, a Raul Soares (um círculo no meio da teia), a Sete de Setembro (a do “pirulito”)…
Sim, senhores: fui a trabalho. Felizmente, mesmo com boa parte do tempo comprometido, consegui fazer boas caminhadas – e o melhor: encontrar testemunhas de mais uma daquelas noites que entram para a história.
Atenção para a chamada. Thales, autor do único trabalho acadêmico produzido em caderno de brochura neste século – e protagonista de um momento histórico, como definiu Idelber Avelar; Marmota na Alemanha; Ana Maria (que bateu a foto) e, finalmente, a inusitada presença de um simpático torcedor do América Mineiro, que comemorou muito o título da Taça Minas e a vaga na Copa do Brasil. “É o caminho mais curto para Tóquio”, vibrou. Aliás, com todo respeito que o Coelho merece, a mesa concluiu que todos os torcedores do América estavam ali no Bar Brasil, na Rua Aimorés, no chuvoso sábado à noite… Muita conversa jogada fora – desde os melhores (e piores) momentos do Galo, passando por viagens internacionais (Alemanha, Chile e arredores) até histórias mais absurdas, envolvendo obviamente mulheres.
Se Caetano Veloso se inspirasse em BH a invés de Sampa para compor aqueles famosos versos, diria que alguma coisa acontece no seu coração quando se cruza a Afonso Pena com a Rua da Bahia, verdadeiro coração da cidade. Nesse ponto começa a “feirinha” de artesanato dominical – as quatro fileiras de barracas seguem paralelas ao parque municipal, até a Rua dos Guajajaras. Não consegui comprar nada: além dos poucos minutos daquela manhã, o movimento pré-Natal já era intenso.
Desse ponto da Avenida Afonso Pena, na direção sudeste, é possível avistar uma bela subida. Nessas bandas fica o bairro Mangabeiras, espécie de Morumbi de BH. Duas atrações curiosas para os visitantes: a Praça do Papa, que mais parece um parque, e o mirante, de onde se vê praticamente toda a cidade. Mal tive tempo de contemplá-la, pouco antes de voar para São Paulo novamente.
O bairro Mangabeiras conta com um outro ponto conhecido, e muito curioso: a Rua do Amendoim. Diz a lenda que, ao parar o carro e deixá-lo em ponto morto, o bólido sobe a ladeira sozinho. Há quem especule a presença de forças ocultas, ou mesmo culpe algum fenômeno físico. Na verdade, a topografia do terreno lembra a antiga “Casa Maluca” do Playcenter: você vê o carro subindo, quando na verdade, ele está descendo. Mais bacana deve ser ficar parado por perto e ver quantos motoristas aparecem para checar a história…
Ah, sim, minha caminhada básica também incluiu os arredores da Praça da Liberdade, uma descida pela Avenida Cristóvão Colombo até a praça da Savassi, espécie de Vila Madalena de BH. Claro que, num domingo à tarde, tudo estava praticamente fechado. Consegui ao menos tomar um café num lugar bastante aconchegante: A Cafeteria (antiga Três Corações). A propósito: o título do post é uma frase tipicamente mineira, proferida pelo Thales no Bar Brasil: “você sabe se esse ônibus passa na Savassi?”. Indecifrável.
A caminhada incluiu ainda uma esticada pelo outro lado da Rua da Bahia, de volta à Praça da Liberdade. Descobri sem querer a Arena Telemig Celular (ginásio do time de vôlei) e o Espaço Unibanco (mesmo jeitão do Rio e de SP). Mas esse é o lado mais “novo” dessa rua famosa: entre as atrações mais antigas, próxima à Afonso Pena e à Álvares Cabral, está o Centro de Cultura, com uma rica decoração.
Marmota indica: Bar do Véio (Rua Itaguaí, 406, bairro Caiçara). Era um boteco, mas se transformou em um restaurante de pequeno porte graças a alguns quitutes deliciosos – como o frango inteiro recheado. O frango é desossado e processado, virando uma espécie de “massa de rocambole”, com recheio de catupiry, presunto e milho verde. O negócio vai para o óleo e chega na mesa em 40 minutos (demora, mas compensa).
A propósito, Belo Horizonte é a capital interplanetária do boteco. São mais de 15 mil registrados (fora os informais). A seriedade dessa fama pode ser explicada com o tradicional festival Comida di Buteco, sucesso há cinco anos. Aliás, o sucesso do Bar do Véio pode ser facilmente creditado ao seu desempenho neste evento. E antes que você diga que o Boteco Bohemia de São Paulo foi plagiado, saiba que a organização foi feita pela trupe mineira do Comida di Buteco. Vão conquistar o mundo.
Por fim, o detalhe insólito da volta: o vôo da Gol deveria sair as 21h10 de Confins, mas atrasou alguns minutos – o suficiente para o cururu do piloto decidir pousar em Guarulhos. Melhor por ser mais perto da minha casa, não fossem dois detalhes: tinha deixado o carro num estacionamento perto do metrô, além de ter pedido carona em Congonhas. Estúpido. Para melhorar a noite, a Gol decidiu pagar táxi para todos os cento e duzentos passageiros do vôo – levou algumas horas até todos serem atendidos. Eh, Brasil!
Em menos de 48 horas em BH, consegui ter uma excelente primeira impressão. Mas apesar de ter feito longas incursões, ter comido pão de queijo e bebido Mate Couro (estranha tubaína à base de erva mate e chapéu de couro), ainda falta muita coisa. Da próxima vez, preciso conhecer a Pampulha, o Mercado Municipal (diz que até vaca dá pra comprar) e, evidentemente, o Mineirão – com direito a feijão tropeiro. Quem sabe em 2006… Aguarrdemm!
(Postado em 29/12/2005. Levou um ano e meio para voltar pra BH…)
Nossa, cê tá cabeludoooooo… Adorei. Beijo,
Cumpadi, muito obrigado pela visita. Foi um prazer bater aquele papo e apresentar-lhe a totalidade da gloriosa torcida do Coelho. Um abração e volte sempre!
Belo Horizonte é uma das poucas capitais que eu não conheço bem – só de passagem, indo pro Rio ou Espírito Santo. Um dia, terei que desbravar todas essas mineiridades.
Sobre programas para Mac (post de 25/12), baixa o Adium – http://www.adiumx.com – melhor comunicador instantâneo multiplataforma para o Macintosh: conecta ao mesmo tempo com MSN, Gmail, ICQ e outros.
Mais obcecada que tu e não consigo ir a Belzonte. (rs*) Feliz ano novo!
A comida de BH é uma maravilha. Aliás, em Minas em geral. Acho que engordei uns 3kg no tempo que passei ali. 🙂 E tomasse a famosa cachaça deles?
E eu achei que o título do post era alguma corruptela do francês…
BH é tudibom mesm.
Ainda estás em BH, cumpadi? Se estiveres, mande email. Ainda há ingressos de cadeira para Galo x Ex-Ipiranga! Abração,
André, que delicia de post!!
Li, reli, e meu humor até melhourou…
desde ontem estou escrevendo e falando de BH, envolta em saudades da minha fillhota, e fico feliz em ler suas palavras…
vc realmente ” pegou’ tudo… tens alma de mineiro, ô cara….
volte sempre, e terei maior prazer em te convidar para um feijoada no bar do Didi,onde vc vai conhecer um pouco mais da mineirada gente boa!!!
Um abraço!
Levei um susto ao ler “os doze leitores” porque usei esta expressão também ontem ou hoje, em um momento de profunda iritação.
Um dia terei que voltar a BH da qual lembro-me de quase nada.
Bom domingo!
Pra quem, como nós, mora em São Paulo BH é um balsamo, morei lá 10 anos e posso dizer que vc passou em alguns dos pontos que eu mais sinto saudade.
Faltaram o Pedacinhos do céu no Caiçara, a Momo na Savassi, o Stadt Jever tbm na Savassi e um antigo ferro velho onde tem o melhor samba de raiz que é perto do Shopping del Rey.
Quando for de novo se quiser umas dicas é só pedir!
Bjs
lembrei!
Opção bar!
Menino, fiquei impressionada com a quantidade de coisas que você arrumou pra fazer aqui. Pessoalmente, o que mais gosto em Belo Horizonte são os meus amigos. Mas já anotei suas dicas. Obrigada e um abraço.