Não vou ser mais um a reverberar algo que já não precisa ecoar mais. Prefiro usar as palavras do Raphael Perret sobre a frase infeliz de Boris Casoy na virada do ano: sem a força das conexões a partir de redes formadas por YouTube, blogs, Twitter e outros, o discreto áudio desancando os garis passaria despercebida, como outras arapucas criadas por microfones abertos num passado recente. Dessa forma, a responsabilidade sobre o que é dito, no ar ou não, é cada vez maior.
Lógico que ele errou feio. Achei que o pedido de desculpas, jogado no meio do telejornal, foi muito discreto. Agora, é complicado qualquer posicionamento extremo diante do episódio: diante de tanta repercussão por aí, vi gente defendendo-o com um argumento simplista (“quem nunca errou diante de um microfone antes, é muita hipocrisia, bla bla bla”). Além da maioria, evidente, aproveitando para proferir todos os adjetivos possíveis ao apresentador.
O gancho que quero buscar aqui é o da falta de respeito. Pense comigo: qual a razão de qualquer um ao desqualificar alguém de “pulha”, “viado”, “covarde” ou qualquer coisa do gênero? Assumir tal postura é agir da mesma forma errada que está sendo questionada – ou seja, burrice. É possível falar o que se pensa usando para isso os argumentos e as palavras certas. Nesse quesito, sinto saudades do A Nova Corja. Chamavam Yeda Crusius de “desgovernadora”, mas sempre diante dos fatos. Não era gratuito.
Uma das razões que fizeram o blog acabar foi o volume de processos judiciais contra os autores. Alguns deles – pasmem – movidos por jornalistas incomodados. Esquecem de usar sua arma mais eficiente, o discurso, e convocam advogados, sem pensar duas vezes. Não se espera isso de um telespectador indignado com o Boris Casoy; mas de um jornalista, sim.
Imagine, por exemplo, um comunicador que se apóia na “liberdade de expressão” para ir além da análise dos fatos e, ao afirmar que uma matéria apresenta viés político diferente do seu, aproveita para dizer que “esse repórter é um racista corrupto que merece uma surra”. Aproveita para associar um comentário ofensivo anônimo ao mesmo repórter, o que ampliou ainda mais sua carga de xingamentos. Isso aconteceu com o Maurício Savarese recentemente. Vejam que, nesse caso, quando ele aciona a Justiça em busca de seus direitos, faz sentido. Não é, nem de longe, censura à blogosfera, como alguns blogs trataram de alardear.
Você pode dizeer que Boris Casoy é uma vergonha, claro. Também pode dizer que a imprensa é petista ou tucana. Apontar erros e promover discussões a partir deles nos tornam pessoas melhores – ou seja, que erram menos, não perfeitas. Faço minhas as palavras do Savarese, empunhando a bandeira do respeito como base para a liberdade de expressão: “a blogosfera surgiu para provocar debates e difundir ideias, e não para ganhar no grito”.
Ainda sobre blogs e liberdade de expressão, veja essa matéria da IstoÉ, assinada pela Verônica Mambrini, que resume os episódios mais significativos sobre essa discussão em 2009.
Salve, Marmota. Assino embaixo. Vou endossar o que você escreveu com outro post, que publico nos próximos dias. Rapaz, se eu deixar passar todos os comentários que chegam sobre o caso, eu ganho uma dezena de processos, tudo por calúnia, difamação, injúria e racismo. Que bom ter a possibilidade de expressar uma opinião. Uma pena que a maioria delas não acrescente nada, rigorosamente nada, à discussão. Abs!