O Alexandre Fugita complementou com propriedade a definição feita pelo Mr. Manson sobre a “materialização de uma lista de discussão”: o melhor do Barcamp foi o networking. A reação de cumprimentar e conversar frente a frente com alguém que, no dia-a-dia, não passa de um e-mail ou uma URL, chega a ser inusitada.
Difícil mesmo é atrelar o nome do blog ou site à pessoa. Fora os meus comparsas de sempre, consegui reconhecer o próprio Fugita, além do professor Sérgio Efe Ponto Lima e do Rafael Sbarai – pena que só lembrei de onde o conhecia bem depois. Também fui apresentado ao Fabrício, ao Paulo Bicarato e à Lúcia Freitas. Sem falar no Carlos Cardoso, que ao contrário da postura sisuda, curta e grossa comum em sua presença online, é um cara sorridente, do tipo bonachão e extremamente simpático.
Pois é, deu para contar nos dedos. Muito pouco em um ambiente com cento e duzentas pessoas. Só um bom tempo depois eu vim a saber que o sujeito que cumprimentei após chamar o Inagaki de ponte-pretano era o Fábio Morróida. Que a mocinha muito simpática e sorridente que acenou para mim no fim do evento era a Bia Kunze. E o que mais me impressionou: se você encontrar na rua o Tupi da Taba, jamais vai perceber que é ele mesmo.
Minha conclusão foi evidente. “Preciso sintonizar melhor o ambiente para não perder a chance de me aproximar de pessoas que admiro. Com certeza o segundo dia vai ser bem diferente, vai dar até para conversar decentemente com algumas destas figuraças do primeiro dia”. A previsão só não se concretizou graças a uma prematura…
Sensação de roubada!!! – O segundo dia de “desconferências” estava marcado para o espaço Gafanhoto, inaugurado seis dias antes. Escolado graças ao dia anterior, ignorei o horário oficial (nove horas) e programei minha chegada ao local para depois das dez, imaginando que a turma já estaria pronta para os debates.
Que esperança. Mal botei os pés no simpático recanto da Avenida Rebouças e veio a pergunta: “onde estão todos?”. Mais alguns passos e, no lounge, seis pessoas. Seis! Era o Pocket Barcamp!!!
Não tinha nada a fazer, a não ser sentar e esperar. E o primeiro “painel” do dia foi bem interessante. O Marcelo Antunes defendeu a realização do “Churrascamp”, com as desconferências do vinagrete, da linguiça e da picanha. Depois outra pessoa citou um filme que eu não conhecia, “Pirates of Silicon Valley”, que conta a história de Bill Gates e a Microsoft. Provavelmente foi o Luiz Rocha, que ainda descreveu o Centro de Tecnologia IBM, em Hortolândia, para os atentos Mário Nogueira e George Guimarães.
Soube depois que a “sensação de roubada” do Marcelo foi bem maior. Ele conta que chegou na esquina da Rebouças com a Faria Lima pouco antes das nove. Deu uma caminhada e não encontrou o lugar. Perguntou para o segurança de um prédio onde era, e ouviu um “nunca ouvi falar desse Gafanhoto, mas pergunta ali no hotel, eles sabem tudo”. Pois também não sabiam. Mais uma caminhada até que, finalmente, o Gafanhoto aparece. Como ele chegou muito antes de todos, encontrou o lugar vazio e fechado. Que beleza, hein?
Minutos depois, a Roberta Zouain apareceu, encorpando a “ala da comunicação”. Antes mesmo do Pedro Markun e da Gabriela reforçaram o time, o dono da casa, Cazé Peçanha (sem a buzininha) cumprimentou a meia dúzia de três ou quatro pessoas presentes (pediu ainda para preservar a natureza e os poucos copos descartáveis). E enquanto a casa enchia, até ficar mais ou menos com a metade de membros de sábado, rolou mais uma desconferência paralela: um papo sobre celulares, ou se preferir, estação multimídia portátil compatível com rss, além de conteúdo produzido exclusivamente para a plataforma. Tivemos que interromper quando estávamos praticamente na Nova Zelândia, enviando sms em maui.
Daniel e os “xiitas do long tail” – Lembrei de armar uma sala para discutir “web 3.0 flex” quando alguém sugeriu uma conversa sobre “modelos heréticos de desenvolvimento web”. Quando vi que a sugestão partiu do Ronaldo, decidi admitir minha ignorância e partir para a sala onde certamente veríamos o tema mais quente: sustentabilidade de negócios na web (ele também participou desta).
Ali conheci pessoalmente duas grandes figuras: o Jonas Galvez e o Danilo Medeiros, criador do Wasabi. Algumas palavras-chave do debate: reprodutibilidade digital, cultura da informação grátis, startups, formas do usuário não pagar, valor intangível do serviço, reputação em pequenas comunidades… Foi um bate-papo muito entusiasmado, onde o Fernando Trevisan teve um bom trabalho para moderar os mais empolgados. Mas é como bem disse o Luiz Rocha: ao menos deu para refinar bastante a pergunta que precisamos responder.
Uma das contribuições mais interessantes foi a do alemão Daniel Giesbrecht. Ele citou sua tese de mestrado baseada em sistemas “open source”, defendendo a sua aplicação desde a indústria de softwares até o vestuário. Sua apresentação, em inglês, fez com que eu lamentasse minha fuga das aulinhas do CNA. Num outro momento do dia, tentei agradecê-lo pelas explicações, demonstrando ainda meus parcos conhecimentos em seu idioma local:
– Hi, Dan! Thanks, and sorry about my poor english. But I know some words in Deutsh. Hallo! Guten Tag! Einz cola und einz bratwurst mit kartoffeln!
Era para ser engraçadinho, mas ele pareceu não ter entendido porque diabos eu pedi um refrigerante, salsicha e batatas. Deve ter me achado um idiota.
Mas enfim. Quase no fim da discussão, alguém começa a falar, de maneira incisiva, quase doutrinária, sobre “modelos de negócios personalizados para nichos específicos, que vão torná-los relevantes, necessários e blá blá blá”… Ao final da tese, alguém aponta:
– Ei, você também leu A Cauda Longa, do Chris Andreson!
Impressionante como alguns livros se transformam em verdades absolutas, praticamente em bíblias distribuídas para verdadeiras seitas. Não surpreende, portanto, ouvir alguém perguntar, depois de tanta conversa: “eu só não entendi muito bem aquele lance da cauda longa, o que é?”. Vai que ele descubra e seja convertido também.
A verdade estava fora – O pau comeu em todas as “sinapses coletivas oficiais” no Gafanhoto. A sala maior, como foi chamada, protagonizou uma longa discussão sobre o futuro do Barcamp, que só terminou no fim da tarde, quando o tema já era, mais uma vez, modelos de negócios (dinheeeeiro). Em outro canto, o Hernani Dimantas (outro ídolo que não cumprimentei) e mais uma galera conversavam sobre o projeto Metareciclagem. E antes do debate sobre o novo perfil do consumuidor, proposta por Gustavo Moura e Marco Gomes, uma turma de programadores da pesada passou o tempo conjugando todos os verbos das especificidades do protocolo http no futuro do pretérito do ruby on rails.
Foi a oportunidade perfeita para comprovarmos mais uma obviedade do Barcamp: as melhores conversas rolaram fora das salas. Praticamente a mesma turma que se encontrou na praça de alimentação do Eldorado, durante o almoço, deu uma escapada para o café: Roberta, Danilo, Marco (que, diga-se, usava uma camiseta muito bacana da grife Cove) e o Gilberto Jr. Praticamente uma desconferência multidisciplinar na padaria San Siro, uma das mais tradicionais de Pinheiros.
Quando tudo já estava praticamente concluído, no começo da noite, outra “mini-conferência” sobre as dificuldades da prática jornalística (especialmente em entrevistas-mala) foi protagonizada pela Lívia Vilela – e testemunhada com total interesse pelo Gabriel Tonobohn: “não sei exatamente pra que serviu a discussão, nem qual o foco dela, mas que foi legal foi”, diz. Mal sabe ele que o assunto só acabou quando os últimos sobreviventes encerraram a noite, bem longe do Gafanhoto.
E foi ali no mezanino do Bar Balcão, após mais algumas horas de muito bate-papo com o Marcelo, o Tiago Dória, o Trevisan, o Markun, a Roberta, a Stefanie, o João Gabriel, entre outros, além de um intenso trabalho do John Cleese (nosso garçom), que o Barcamp finalmente acabou.
E vejam que coisa: só depois de toda essa odisséia, na calçada da Rua Melo Alves, já na madrugada de segunda-feira, eu consegui cumprimentar o André Avorio e parabenizá-lo pelo belo trabalho após tanto esforço – logística que rendeu, segundo ele, “olheiras e noites sem dormir, mas que lhe valeram contatos inimagináveis, além da consciência de que o Barcamp mudou a vida de muita gente”.
Pode ser que a sua vida não tenha mudado muito, mas convenhamos: esse cara merece uma salva de palmas.
Ah, sim, entre tantas perguntas sem resposta após este final de semana, uma delas merece atenção especial: para que servem as fendas da mesa de centro posicionada na pequena salinha do Gafanhoto? Minha teoria: como a mesa é baixinha, e não existem cadeiras, o ambiente serve para servir comida japonesa, e os buracos da mesa são reservatórios de molho shoyu.
(Escreveu/está escrevendo/escreverá sobre? Não esqueça das tags para o Technorati barcampsp, para reunir tudo que foi dito sobre. Você também pode incluir a tag to:en, para que o Jonas Galvez possa traduzir isso tudo no Blogamundo).
Hum, seu post anterior perdeu a posição de melhor post do Barcamp…para esse aqui!
Eu tbm estava com uma camiseta do Cove!
Olá André!
O problema que reportei para comentar era minha conexão 🙁
Fantástica e detalhada a sua descrição de segundo dia do Barcamp! Fiquei mais arrependido de ter ido embora cedo o domingo!
Também achei legal conhecer o cara que incorpora o personagem Tupi da Taba 🙂
E gostei também do social dos “madrugadores” do segundo dia
Abraços!
PS: Já no antigo ensino médio avisavam: meus professores sempre reclamaram do meu excesso de exclamações!!!!! 🙂
André Marmota,
Seus textos são sempre ótimos, hehehe! Esse e aquele outro são os dois melhores que li por aí na blogosfera: um ótimo resumo sem chatices!
Abraços!
Pô,
sou obrigado a montar um blog, meu nome perde importância frente aos onipotentes links vermelhos!
Visualizei na hora a cena com o Daniel! Eu sou rei de fazer piada para gringo não entender. É uma espécie de tragicomédia de um ato só.
Tem razão, eu não fazia idéia que tinha se alongado tanto aquela conversa! hehehe
Tudo bem, ela podia continuar por um bom tempo na nova lista de jornalismo participativo.
Abraço!
Vc lembrou até da marca da camiseta! Memória boa hein!
Adorei o evento também, incrível!