Por conta do clima olímpico que tomou conta da minha vida, pouco li a respeito do novo Código Federal de Jornalismo. Alheio ao mundo exterior, isso me parece, em princípio mais um bom motivo para criar um sólido debate de idéias, mas na prática não passa de mais uma autarquia burocrática – daquelas que, em pouco tempo, deixa de funcionar como deveria.
Enfim. A propósito da discussão sobre denuncismo, ética e afins, lembrei de uma historinha olímpica que circula pelos bastidores da imprensa esportiva. Antes de relatá-la, uma advertência: não há nada que prove sua veracidade, a não ser palavras soltas de quem estava por perto. Alguns colegas mais próximos garantem que tudo não passa de ficção. Logo, valem as sábias palavras do cineasta John Ford: “quando a lenda ultrapassa a realidade, publique-se a lenda”.
O dia era 16 de setembro de 2000. O Brasil estava na final do revezamento 4 x 100m livre das Olimpíadas de Sydney. Fernando Scherer abre a série, seguido por Gustavo Borges e Carlos Jayme. O quarto nadador a entrar na água foi Edvaldo “Bala” Valério, que com um sprint sensacional nos últimos 50 metros, garantiu ao país a medalha de bronze.
No dia seguinte, um atento repórter, enviado especial de um grande jornal brasileiro, descobre uma fotografia da prova, publicada pela agência France Presse. Nela é possível enxergar, de forma discreta, o nome Baneb – Banco do Estado da Bahia, patrocinador do atleta. Pelas regras do COI, permite-se apenas a marca do fornecedor de material esportivo, sob risco de punição.
Ocorre que, durante a final, ninguém percebeu tal fato. E qualquer protesto ou denúncia de irregularidade deve ser apresentado, no máximo, meia hora após a prova. Não havia, portanto, nada que pudesse interferir no curso natural da história.
Mesmo assim, o repórter levou a história ao COI, ao COB e ao Comitê Olímpico Alemão – a Alemanha terminou o revezamento em quarto lugar e, em tese, teria algum interesse em acionar instâncias judiciais e, quem sabe, herdar o bronze do Brasil. Imagina-se o seguinte diálogo entre o jornalista e um representante germânico:
– Você viu essa foto? Viu que ele tem um patrocínio no maiô?
– Er, bem, iá, eu reparar na patrocínio…
– Pois então, vocês não vão denunciar???
O repórter deve ter ouvido o que já imaginava: o prazo para protestar já estava esgotado. Mesmo que o COI reprovasse a aparição do logotipo, o máximo que poderia acotecer seria uma advertência. Talvez essa fosse a “notícia”, se é que ela teria alguma razão de se sustentar.
Pois bem. No dia seguinte, dezoito de setembro, sai a matéria: “maiô irregular pode tirar medalha de bronze do Brasil”.
Baseada em uma grande especulação, o “furo jornalístico” fez muito barulho – canais de TV a cabo embarcaram na matéria e propagaram o “Brasil pode perder medalha” aos quatro cantos. Para os concorrentes, que estavam 14 horas a frente graças ao ingrato fuso horário, correr atrás da repercussão desse “balão de ensaio” foi uma enorme perda de tempo. “Esse cidadão plantou essa fofoca, acha que ninguém tem mais o que fazer”, teriam dito alguns dos mais indignados.
No dia 19 de setembro, feito o serviço, vem a esperada continuação: “Comitê Olímpico Internacional adverte Brasil e absolve maiô de Valério”.
Verdade ou não, vale a pergunta: se o Conselho Federal de Jornalismo existisse, o que diria a respeito da situação acima?
Em defesa da web – Digamos que o Conselho apareça, e que sirva para defender os interesses da classe. Primeira sugestão: confiram esse protesto do UOL. Não é de hoje que os profissionais de veículos digitais são tratados como “um pessoal aí, sem muita tradição”…
Eh, Brasil! – O velejador Ricardo Winick, o Bimba, sintetizou, em apenas alguns minutos, o verdadeiro significado da expressão “Eh, Brasil!”. Líder da categoria Mistral até a última regata (prancha a vela), ele só precisava repetir o desempenho das provas anteriores para garantir o ouro. E só uma tragédia o deixaria fora do pódio. Pois a tragédia aconteceu.
Boa, Inagaki – Só agora reli a previsão de Inagaki, republicada aqui esses dias: a medalha surpresa viria de uma das três hipóteses: Leandro Guilheiro, Daniele Hypólito ou Bimba. E Inagaki acertou: dos três, só Guilheiro levou!
Mais “bimbadas” – Nicolas Massú conseguiu um feito histórico: garantiu as primeiras medalhas de ouro da história do Chile. Mas o tenista simplesmente esqueceu delas ao deixar Atenas!
Mais “bimbadas” 2 – Essa é ainda mais incrível: Matthew Emmons, favorito em sua prova de tiro, se prepara para garantir o ouro. O tiro é certeiro, mas atinge o alvo do atleta da direita! O cururu terminou a prova em oitavo lugar…
Alô Marmota – A professora Raquel faz uma observação pertinente (e verídica): nas duas vezes que os brasileiros levaram ouro em Atenas, ouvimos um hino nacional desfigurado. Ou “remixado” “avacalhado”, como ela definiu. Alguns tons acima e claramente “condensado”. Deve ter sido gravado pela fanfarra da escola de segundo grau de Tessalônica…
Alô Marmota 2 – Anote aí os palpites de Mr. Pinguim para os últimos dias de Jogos (acaaaba looogo, Olimpíada…): vem aí mais três ouros, com futebol feminino, vôlei masculino e a dupla Grael/Ferreira. Mais duas pratas, vôlei feminino e basquete feminino. Por fim, mais dois bronzes: revezamento 4 x 100m e handebol feminino. Eu truco!
E quem é que disse que o Conselho federal de Jornalismo vai batalhar por um “jornalismo limpo e digno”. Essa merda só foi idealizada para censurar eventuais reportagens que “possam denegrir equivocadamente, a imagem de um governo austero”. Há!
P.S. Botem esse ser na presidência de novo, botem!
Notei, também que o hino estava desfigurado. (principalmente no volei que o pessoal estava cantando e se perdeu todo…). Vamos ver agora com Torbe Grael que acaba de ganhar a terceira medalha de ouro!
Meio Pau! Acertei mais uma (essa era fácil): Grael/Ferreira. E à tarde tem as meninas (!?) do futebol!
Um abraço!
O Conselho Federal de Jornalismo tem como objetivo cobrir o buraco deixado pela Justiça demorada. Como ele também não vai funcionar, pode-se criar uma agência para regulamentar o jornalismo E o trabalho do conselho. Aí a confusão fica tão, mas tão grande, que ninguém mais vai tocar no assunto porque não vai saber do que está falando. Simples, não é? Quanto às Olimpíadas, não vou fazer previsões. Mas vou torcer pelas meninas do futebol. Falou-se tanto do time masculino, que amarelou de cara e elas chegaram na final, quase na surdina e desacreditadas! Abração, Marmota.
Medalha em handebol?????? nem eu seria capaz de apostar nisso
Eh Brasil… as meninas do volei vão disputar o bronze.
Aposto no bom desempenho de Lars Grael no Salto Triplo e acho (no meio do segundo tempo do futebol feminino) que as meninas do brasil vão ser prata mesmo.
Pois é Marmota, pena que meu otimismo foi desmentido pela derrota inacreditável do vôlei feminino. A síndrome “Eh Brasil” atacou ainda o cavalo do Bernardo Alves que refugou e minou as chances da equipe de saltos do Brasil, assim como o Carlos Honorato (que lutou de maneira incrivelmente apática) ou a tragédia da última regata do Bimba. Mesmo assim, fecharemos as Olimpíadas com recorde de medalhas de ouro.
A propósito: medalha para o handebol feminino!? Encontrei alguém que conseguiu ser mais otimista do que eu… 😀
Você vai estar na Gazeta no sábado? Talvez eu vá ao teatro do Sesi, assistir à peça do Abujamra. Eu te ligo na hora.
Ei, nenhum post sobre sua incrível aparição no programa do Ronnie Von ? Hehe…Beijos !
Que pena que alguns dos palpites do Mr. Pinguim já foram por água abaixo… Prata no Basquete, no máximo bronze no volei feminino…, mas o Grael, pelo menos garantiu o ouro!
Oi Marmotinha… hehehehehe, forcei…
fazia tempo que eu não pintava por aqui, mas teu blog é e sempre será uma das coisas + bacanas dessa blogosfera.
Beijão