Imagine a seguinte situação: um piloto esforçado, mas nada brilhante, descobre antes do Natal que sua equipe simplesmente deixará de existir no ano seguinte. Nem mesmo sua experiência (271 corridas disputadas) seria suficiente para garanti-lo na temporada. A aposentadoria, ainda que não anunciada, parecia o único caminho a seguir.
Para colaborar, este piloto passou os últimos 15 anos remando contra grandes marés de azar. Em 1994, após a morte de Senna, assumiu a bucha de “melhor piloto brasileiro”. Quando chegou à Ferrari, em 2000, tinha nas mãos um carro competitivo, mas sofreu com o papel de “escudeiro” do Schumacher. Nem os dois vice-campeonatos (2002 e 2004) apagaram situações como o famigerado “hoje sim”, naquele GP da Áustria no dia das mães.
Conseguiu se livrar de tanta gente jogando contra em Maranello mudando-se para a então BAR, em 2006. A marca Honda, associada à boa fase da McLaren no final dos anos 80, traria um futuro melhor. Que nunca veio. Ao invés de evoluir, a escuderia definhou, a ponto de deixá-lo sem ponto algum na temporada de 2007. Ano passado veio o recorde de GPs disputados, um pódio no GP da Inglaterra e, no final, a iminente aposentadoria com o fim da equipe.
Agora seja sincero: com um histórico desses, atrapalhado pela crise econômica e o desmanche da Honda, permeado ainda com toda sorte de piadas envolvendo tartarugas e pés-de-chinelo… O que poderíamos esperar de Rubens Barrichello para 2009?
Pois é. Em poucas semanas, a sorte virou. Ross Brown, que chegara à Honda no final de 2007, contou com a ajuda de Bernie Ecclestone e da Mercedes-Benz para assumir a equipe no começo de março. Ele sabia que, com o carro que tinha nas mãos, poderia conseguir bons resultados. Mesmo com salários reduzidos, manteve as mesmas pessoas ao seu lado, inclusive os pilotos – para azar de Bruno Senna, cujos testes na antiga Honda lhe deram grandes esperanças.
Foram poucos os testes da nova Brawn GP em Barcelona. Mas o suficiente para chacoalhar a Fórmula 1. Rubinho e Jenson Button surpreenderam e tiveram o melhor desempenho. Como num passe de mágica, uma equipe falida se transformou em favorita. Será que, na reta final de sua vacilante carreira, o “Barrica” conseguiria dar um fim à crise?
GP da Austrália – Quem conseguiu ficar acordado na madrugada de sábado para domingo viu uma prova eletrizante. Bem, ao menos do segundo lugar em diante, já que Jenson Button largou na pole e não teve trabalho algum para vencer. Já Rubinho…
Logo na largada, não largou. Largaram-no para trás. Quando finalmente saiu, quase perdeu a asa num choque entre Webber e Heidfeld. Felizmente, o novo carro da Brawn GP mostrou-se um “tanque”: só precisou ir aos boxes trocar seu bico quando o filho de Satoru bateu sua Williams no muro e o “carro-madrinha” foi acionado.
Assim que o safety car saiu de cena, Nelsinho Piquet rodou sozinho, indo parar na brita. Péssimo para o “Nelson Angelo”, como dizia Cleber Machado: enquanto não se acertar com a Renault, vai continuar questionado tanto pela imprensa quanto por Flavio Briatore. Felipe Massa também deu azar: com problemas mecânicos, viu seu carro parar sozinho. Raikkonen também parou, fechando o péssimo fim de semana da Ferrari.
Apesar da recuperação, “Barrica” terminaria a prova numa honrosa quarta posição, logo atrás dos velozes e competentes Kubica e Vettel – considerado o “novo Schumacher” pelos alemães. De fato, o piloto da RedBull fazia uma prova perfeita, até se enroscar com a Williams do polonês faltando quatro voltas para o fim. Estúpido.
Em situações normais, poderia sobrar pra Rubinho, quebrando ou envolvendo-se junto no acidente. Acabou com a segunda posição caindo no colo.
Difusor? Blé. – Até o pódio em Melbourne, alguns assuntos ganharam alguma repercussão: o KERS (“bateriazinha” disparada pelo piloto para ganhar potência), a regra esdrúxula do título dado a quem vencer mais, e o tal difusor. Uma peça que aumenta a aderência traseira, deixando o carro mais rápido estável.
Eu diria que, se Rubinho tivesse vencido, a FIA daria um jeito de invalidar a medida, tomada por Brawn, Toyota e Williams. Com um único argumento: a zica de Rubinho. Mas na real, é certo que a peça será aprovada no julgamento de 14 de abril.
O que, convenhamos, vai fazer com que as outras equipes corram atrás do que funciona. Certamente até maio, Ferrari e McLaren voltam pro jogo – traduzindo, a temporada 2009 é uma tremenda incógnita.
Sobre a zica do Barrica, é bom lembrar que, até 2007, o maior “pé de gelo” do circuito era Kimi Raikkonen, campeão daquele ano. Vai que, de repente, chova em mais da metade das provas do ano…
(Para acompanhar e entender de verdade o mundo do automobilismo, leia a Bárbara Franzin, o Felipe Motta, o Ivan Capelli, o Livio Oricchio, o Fábio Seixas e o Flávio Gomes).
Eu vim disposto a comentar acerca da corrida e do segundo lugar de Rubinho – que não deve ir mais longe que isto – mas tive de rir pacas ao notar o “Não, não é o dono do Camiseteria” em cima do link do Fábio Seixas. Confesso que na primeira vez que o linkou, tive esta dúvida!
Trocar nomes é um grande perigo. Afinal, tudo é perigoso, mas tudo é lindo e maravilhoso.
A zica que o Rubinho carregou durante toda a carreira foi descontada nesse começo de ano.
Cagado assim, vai acabar patrocinado pelo iogurte Activia.
Pronto, o difusor já está regulamentado pela FIA… agora só falta o Rubinho deixar o Button pra tras na proxima corrida, senão, vai virar escudeiro dele. aff, ai não rola.