Como acabar com o amigo secreto

Tem gente que não vê a hora do final de ano chegar para promover ou participar a tradicional brincadeira do amigo secreto – também conhecido em alguns cantos do país como “amigo oculto” ou “amigo invisível”. Quem teve essa brilhante idéia certamente vivia num perrengue danado: pra quê comprar presentes para todos os amigos ou familiares se é possível promover uma dinâmica bacana onde cada um precisa levar apenas um?

Se você é um dos adeptos da brincadeira, esqueça as próximas linhas. E tenha a certeza de que respeito profundamente todos aqueles que fazem do amigo secreto um exemplo bacana de confraternização. Torço para que continue assim.

Agora, se você não entende como é possível tantos hipócritas em sua empresa distribuindo abraços e mimos a quem foi ignorado o ano inteiro, fica indignado com o mané que esqueceu de comprar o presente, faltou, trouxe apenas uma caixinha de bombons vagabunda… Ou ainda se sente uma vítima da enxurrada de encontros do gênero nas últimas semanas do ano – afinal, é bem mais fácil promover reuniões agora do que nos outros 350 dias do ano, faça um bem a si mesmo, mande cartões ou presentes a todos os amigos que merecem e limpe de sua agenda a festinha de amigo secreto.

Na maioria dos casos, você não vai convencer seus colegas a simplesmente cancelarem a brincadeira. Na pior das hipóteses, simplesmente diga que “não vai participar, mas faz questão de ir à festinha”. Pense em levar um chaveiro ou caneta para cada um, numa tentativa de ficar bem na fita. Evidentemente, a melhor saída é convencer os amigos de que não vai dar para fazer. “Tá muito em cima da hora, tá todo mundo enrolado, tá difícil encontrar uma data que sirva para todos, tá todo mundo sem grana”… Naturalmente, com o passar dos anos, a turma acostumada a sortear papeizinhos vai sentir que as coisas não são como antigamente.

Mas esses são métodos de médio/longo prazo. Existe uma alternativa infalível para acabar, definitivamente, com a festa de amigo secreto de um grupo específico. Muito mais eficiente e criativo do que simplesmente sumir no dia do encontro, deixando um convidado na mão e provocando ódio mortal nos demais – se bem que essa é a única forma possível de explodir com a festa depois do sorteio ter sido feito. Mas enfim, anote.

Assim que alguém se manifestar com um “ei, vamos fazer o nosso amigo secreto?”, proponha para um grupo restrito a realização de um sorteio paralelo: o “inimigo secreto”, onde o sorteado é sacaneado com um presente muito indiscreto. Só que a regra, nesse caso, é especial: é preciso escolher um “inimigo comum”. Aquele que, apesar do companheirismo e do espírito de equipe, passou mais tempo pentelhando, criticando ou simplesmente aporrinhando a maioria.

Todos (menos, lógico, o cidadão em questão) entram num acordo: o inimigo secreto é o mala. Ainda assim, o sorteio é fundamental para dar credibilidade ao plano maligno. Os papeizinhos devem ter o mesmo nome, preferencialmente o do chefe, do superintendente… Enfim, do cara que manda. Com isso, o mala terá não apenas o prazer de ser enxovalhado por todos, mas especialmente o constrangimento de zombar a pessoa de maior nível hierárquico em sua cadeia alimentar.

Para minar completamente as possibilidades futuras, certifique-se que o mala em questão leve ao menos algum parente ou conhecido (um irmão ou namorada, por exemplo) para testemunhar a noite fatídica. Além de protagonizar o vexame diante de seus companheiros, ainda vai testemunhar a vergonha alheia do convidado. Ainda que você e seus amigos digam que “tudo não passou de uma brincadeirinha amistosa”, o mala sentirá uma indescritível sensação de desprezo. Provavelmente vai pedir para que ninguém toque no assunto e, confirmando o sucesso de seu objetivo, nunca mais vai participar de uma festa de amigo secreto.

Funciona perfeitamente, vai por mim.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (15)

  1. Eu até que gosto dessa coisa de amigo secreto que em Minas é amigo invisível mesmo!
    Mas mesmo assim, outra solução para acabar com os ânimos de qualquer festinha dessas é espalhar um boato que a pessoa que organiza está se favorecendo!
    Mela a brincadeira inteira. Aconteceu na minha empresa!

  2. Vale lembrar também que o inimigo secreto “alvo” também vai ficar meio traumatizado durante uns anos.

    Por isso, é bom que a pessoa mereça!

  3. Ah, eu gosto de amigo secreto, e também tenho algumas histórias deliciosas, impagáveis mesmo, sobre esse tipo de festinha, hehehe…

    Em tempo: que tal dar um livrinho de amigo secreto em 2007? Sugestão: “Dias – A Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960”. O lançamento é hoje! 😛

  4. Acho mais fácil e menos perigoso dizer simplesmente “não participo de amigo secreto”,nos dias de hoje não dá pra fazer esse tipo de afronta principalmente nas grandes empresas, além de que ,você cedo ou tarde vai receber o troco.

  5. Eu não gosto nem de Natal quem dira de amigo secreto, pra mim isso é hipocresia sabe…por que o ano inteiro as pessoas falam mal umas das outras, tratam mal com falsidade e no fim do ano vem com aquelas palavras amorosas pareçendo Domingão do Faustão no Arquivo Confidencial…Tô fora…

  6. uma vez fui partcicipar de uma dessas brincadeiras e o infeliz que me sorteou foi na festa mas nao levou meu presesnte…..disse que não pode comprar. ( mas o safado foi la receber o dele) bom…depois disso nunca mais participei….é simples, quando alguem vem dizer que estou participando eu logo falo: não! to nem ae se acham que sou estupido ou sei la o que.

  7. Hahaha…o pior é o amigo secreto é na casa da minha “sogra” uma senhora portuguesa muito educada (mentirinha…) e qdo ela pega uma das noras…meu Deus, aí ela faz o famoso inimigo oculto…mas é cada presente amigo da onça…tipo aqueles galos de Portugal que mudam de cor, toalhas de mesa com bonequinhos dançando fado…é uma comédia…o dia em que eu pega-la de amigo secreto… me vingarei…hehehehe

  8. Parabéns, você é o vulgo zé roela!
    Você deve ser um antí-social de carteira assinada e tudo!
    Happy Hour nem pensar não é cidadão? você deve imaginar, que fazemos uma reunião semanal porque não queremos receber nas nossas casas e bancar tudo!!! e outra, ainda acha no direito de chegar na festa… com a cara tosca e participar…

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