– Bom dia! Você pode colocar vinte reais de álcool, por favor?
– Etanol, né, senhor? Pois não.
– Ah, sim. Tudo bem, ainda chamo essa avenida de São Paulo-Rio e aquela rodovia de Trabalhadores. É álcool mesmo.
– Água e óleo tá ok?
– Está sim, verifiquei esses dias.
– Precisa lavar o vidro, calibrar os pneus…?
– Agradeço a atenção, amigo. Mas só quero o combustível mesmo.
– Pois não. Enquanto abastece, eu posso dar uma olhada no seu JUBIRULEIBE?
– ?
– O seu JUBIRULEIBE. Levanta, vou te mostrar. Olhe aqui.
– Nossa… Tem um JUBIRULEIBE no meu carro?
– E vou te dizer, moço: seu JUBIRULEIBE está vencido.
– Não tem problema. Eu nunca precisei dele, provavelmente não vou usá-lo nunca.
– Ooolha, senhor! Não brinque com uma coisa dessas! A lei obriga todo carro ter um JUBIRULEIBE em bom estado.
– Já ouvi falar… Inclusive parece que tem uma lei nova que…
– Exatamente. Ainda não está valendo, mas os carros mais novos precisam ter esse novo tipo de JUBIRULEIBE aqui. Mais moderno e adequado a nossa realidade.
– Entendi. Mas eu realmente acho que não preciso de um JUBIRULEIBE novo.
– Ooooolha, senhor! Imagina que podem te parar em um bloqueio e te multarem só por causa do JUBIRULEIBE vencido…
– Cara, esse JUBIRULEIBE estava aqui desde que comprei o carro. Só ocupa espaço. E eu sequer sei usar! Em uma emergência, perco o carro com JUBIRULEIBE e tudo!
– Deixa eu terminar de falar. Tem guarda louco por uma graninha. E eles metem a caneta sem dó! Sai mais caro molhar a mão da polícia do que trocar o JUBIRULEIBE. Mas, se você acha que não vai acontecer nada… Não vai dizer que nunca te falaram nada.
– Escute, meu chapa, eu não falei nada até aqui, mas… Está tão óbvio? Provavelmente você precisa aumentar seu volume de vendas e quer arrancar grana de todos os lados. Igual a Dilma. E tudo o que pedi até agora foi vintão de álcool. Já acabou lá?
– Eeeiii, imagiiine! Não tem nada a ver. Olha, não vou mentir pro senhor. Estou cumprindo ordens. Meu gerente diz que isso é um tipo de campanha, para alertar os motoristas. É tudo pelo bem estar e satisfação do cliente.
– Tá, tá. Só por curiosidade, quanto custa um JUBIRULEIBE?
– Senhor, nosso preço promocional, válido até acabar o estoque, é de cento e cinquenta.
– Oi?
– Cento e cinquenta.
– Pesos argentinos? Uruguaios Ou é em centavos?
– Não entendi, senhor.
– Caramba! Vou gastar quase um mês de combustível pra enterrar um JUBIRULEIBE oculto no carro, deixá-lo apodrecendo sem serventia? Definitivamente, não faz nenhuma diferença. Tome aqui, vintão do combustível. E tenha uma bom dia.
– Obrigado pela atenção, senhor. Mas olha, se mudar de ideia sobre o JUBIRULEIBE, tamos ai.
***
No final dos anos 1990, uma decisão do Contran obrigou motoristas a carregarem um esquecível kit de primeiros socorros no porta-luvas. O estojinho tinha gaze, esparadrapo e outras miudezas divertidas para crianças brincarem. Mas salvo em circunstâncias onde as aulas de primeiros socorros são de fato lembradas (eu, por exemplo, fui convidado a decorar respostas de um teste de múltipla escolha), o kit tem o mesmo efeito de um cinzeiro para motocicletas.
Por mais que tenha existido alguma intenção educativa relacionando questões pertinentes sobre segurança no trânsito, a ideia só serviu para a cadeia envolvendo fabricantes e vendedores. Na prática, o estojinho era limitado para pequenas ocorrências e inútil em acidentes maiores.
Era um JUBIRULEIBE perdido nos porta-luvas dos anos 1990. Exatamente como o novo JUBIRULEIBE classe ABC de 2015.
***
Mas afinal, o que é JUBIRULEIBE mesmo?
***
Atualizado em 17/09: Essa não! O Contran leu esse texto (só pode ser!) e decidiu extinguir o extintor veicular! E quem já gastou os 150 dinheiros para substituir o JUBIRULEIBE antigo?
Esses JUBIRULEIBES estão cada vez piores! Surgem em qualquer lugar, parecem gremlins!