Qualquer sujeito com uma pequena quantidade de neurônios em pleno funcionamento saberia: em uma viagem com sete deslocamentos aéreos e inúmeras pequenas viagens de trem, a primeira regra de ouro é levar consigo a menor quantidade de coisas. Não era a minha primeira experiência do gênero, e evidentemente já sabia disso. Por alguma razão qualquer, decidi bancar o imbecil. “Ah, vou me tornar ponto de referência em aeroportos e estações pela Europa, atrapalhar uma porção de gente em ônibus e trens, sofrendo tudo que mereço”.
Só isso é capaz de explicar o fato de ter levado um verdadeiro baú. A maior mala que você puder imaginar. A intenção era bem razoável: embarcar com o trambolho vazio e voltar abarrotado de compras perdulárias. Uma idéia ridícula, especialmente diante dos vôos de baixo custo entre as cidades que visitamos. A primeira surpresa veio logo na primeira perna, entre Amsterdã e Copenhague. “Sinto muito, mas sua passagem permite uma franquia de apenas 15kg”. Quinze? “Cara, só essa sua mala deve ter uns seis, sete quilos”, salientou Lello Lopes ainda em Schiphol.
O container estava com menos da metade da capacidade, por isso foi emocionante reduzi-la a quinze quilos. O mais estúpido nesse tipo de limitação é permitir levar ainda mais peso para a cabine… Mas enfim, o processo de “encolhimento” da mala tornou-se constante nos saguões. Já deixava a malona devidamente preparada, com uma “sacolinha pesada” pronta para ser destacada e carregada até a poltrona. Tanto o esquema do embarque quanto as caminhadas na chegada e saída – incluindo metrô sem escadas rolantes, ladeiras e calçadas esburacadas – se revelaram melhores que qualquer academia de ginástica.
Meu prognóstico inicial – o de entupir aquela porcaria com sacolas de compras – estava funcionando perfeitamente. Como era de se esperar, a mala foi se deteriorando… Rodinhas a cada dia mais tortas, ralando o fundo de pano. Para piorar, a alça não suportou o peso e quebrou, pouco antes do embarque a Paris. Naquela tarde, conheci o significado literal da expressão “mala sem alça”.
Já em Montmartre, tinha nas mãos a chance de corrigir este grande erro, tornando minha bagagem usável. Mas não. Queria continuar idiota até o fim. Por isso, optei pela “gambiarra”: uma corrente de prender bicicleta, que fez as vezes de alça com perfeição. Quer dizer… Não dá para chamar de “perfeição” arrastar uns cinquenta quilos segurando em uma corrente, sem qualquer proteção. Exausto, tive que apelar para um táxi, mesmo a poucos metros da Gare du Nord. Pena que o motorista não tinha condições de me deixar na porta do trem. Aquela maldita composição para a Alemanha ficava na plataforma mais distante possível… “Cara, nem era tão longe assim”, desmentiu Lello.
Obviamente, a mala sem alça seria um problema até o fim. De volta a Schiphol, a despeito de toda aquela gente repleta de malas gigantescas e bem mais complexas que a minha, fui lembrado de algo evidente: eu poderia despachar duas malas de 32kg, e isso não quer dizer uma de 64kg. “Você precisa dividi-la em duas”, disse a tiazinha do check-in. Dessa vez, além de abrir a mala no saguão (o que já tinha feito ali mesmo, dias antes), era preciso comprar uma segunda mala e dividir as sacolas ali mesmo, a poucos minutos do embarque. O horror, o horror.
Quer mais? Já em São Paulo, à espera da bagagem na esteira, ouço meu nome sendo anunciado pelo sistema de som. “Senhor André, uma de suas malas não embarcou, por problemas no aeroporto de Amsterdã. Pedimos desculpas, e garantimos que ela será entregue em sua casa amanhã mesmo”, relatou o rapaz do balcão de informações. Mesmo um dia depois da viagem acabar, aquela lição simples, a do “viaje leve”, continuava sendo dada.
A propósito, a tragédia da bagagem foi meu único percalço aéreo durante um mês marcado por muitos pousos e decolagens. Certamente muitos brasileiros, diante de atrasos constantes, falta de informação e, para completar, dois acidentes em dez meses, mudaram sua relação com os aviões. Esse foi o tema da nossa última enquete.
Entre os 189 visitantes que responderam a pergunta, 33,9% não tinham tanto medo de voar… Mas os últimos acontecimentos contribuiram para que o temor aumentasse. Outros 23,3% não enxergam problemas: apesar de tudo, o transporte aéreo continua sendo o mais seguro. Já 17,5% declararam que sempre tiveram pavor, e vão continuar tendo. Por fim, 25,4% chutaram o pau da barraca: “tanto faz, com esse caos ninguém vai voar mesmo”.
Seja de avião ou não, prefira sempre uma mala pequena, uma bolsa, uma mochila… Enfim.
Pelo menos te entregaram a segunda mala em casa?
Sim, no dia seguinte, como prometido!
Estúpidoooooo!
marmota, esse lello deve ser muito engraçado!!!
e vc é doido mesmo de não ter comprado outra mala em paris…
mas antes isso que o acontecido com a maria julia,minha filha que ainda esta lá…ela saiu do lado errado na plataforma e andou 15 quarteirões até descobrir que estava do outro lado da cidade…e puxando a maldita mala tb…
bjão e bom domingo!
Eu sempre usava uma malinha verde jeitosa do meu irmão. Até ele se encher de tanto emprestar e me dar uma boa, novinha, de presente de aniversário. Desde então ela me acompanha pra lá e pra cá. É mais viajada que eu, porque eu a empresto pra todo mundo. Mas quebrou o maior galho em Portugal, quando eu precisei carregar as 9 garrafas de vinho que a minha adorável família havia pedido pra eu trazer para os parentes daqui… Sei bem o que é isso, de carregar as malas em trem, sozinho. E eu nem podia jogá-las do vagão, porque as garrafas iam quebrar! Até que foi divertido!
nem viajei muito, mas sou quase uma expert no assunto mala e excessos de bagagem! cada empresa, uma regra, uma quantidade diferente. é a maior piração com isso quando alguém vai viajar de londres pra qualquer lugar. uma amiga desistiu de viajar depois que decobriu q só poderia levar 15kg, uma outra amiga pagou 90 libras pra levar uma mala a mais… histórias… e eu que dei minha mala pra alguém agora tenho que comprar duas pra quando eu for passar o verão no brasil!!! mas só 23kg cada! não posso exagerar!