Viajando nos livros

Por Laura Storch, do blog Risquinhos de Giz

Dizem, os grandes pensadores do agora (da nossa época), que vivemos um momento de completa modificação da nossa noção de tempo-espaço. Economistas, sociólogos, filósofos, todas as áreas tentam interpretar as modificações que a tecnologia em telecomunicação oferece: não existe mais distância ou tempo – ou você está na mesma sala que eu, enquanto lê esse post? Talvez esteja conversando com um amigo que mudou pro Brasil… Viu!? Nem sabe de onde eu escrevo…

Alguns historiadores sociais dizem que, na verdade, esse processo de modificação na nossa percepção de espaço-tempo vem se modificando a mais tempo… Quer um exemplo? Os livros de viagem. A popularização desse tipo de publicação, na Europa do século XVII, estava relacionada a curiosidade das pessoas sobre lugares exóticos, como as Américas e a Ásia, aos quais muito provavelmente elas nunca chegariam a conhecer realmente. Esses livros relatavam as aventuras de viajantes e desbravadores, que repassam com bastante fidelidade as características e os costumes de povos tão distantes.

Mas fora a literatura turística, se é que podemos chamar assim, os romances também nos forneceram muitas personagens viajantes… Se é que a máxima “os livros nos fazem viajar” faz sentido, talvez os viajantes dos livros sejam um ótimo exemplo sobre o como nosso tempo-espaço se modifica ao viajar pelos livros…

ASTECAS – uma das histórias que mais me fascinam, nesse sentido, é a coleção de 5 volumes de Gary Jennings, chamada Astecas (Record). O personagem principal dos livros vai se modificando, acompanhando a evolução temporal em que os fatos ocorrem – assim, o autor pode contar com detalhes aspectos culturais, religiosos, políticos, tanto dos astecas como de outros povos pré-colombianos, a colonização pelos espanhóis e o reflexo da miscigenação com os europeus. O interessante é que os personagens que narram os eventos são sempre viajantes, o que lhes dá a oportunidade de nos oferecer um panorama especial de diferentes regiões da América Central. Jennings era um apaixonado pela cultura asteca, à qual estudou por mais de 12 anos a fim de construir os livros.

CLEÓPATRA – outra personagem especial, que ronda nosso imaginário até hoje. As andanças de Cleópatra são narradas de forma singular por Margaret George, nos 3 volumes de Memórias de Cleópatra (Geração). Conta as viagens majestosas da grande lenda do Egito, seja pelo próprio país ou mesmo para Roma, quando foi se encontrar com seu grande amor, César. O romance biográfico mistura realidades históricas com a imaginação da autora, uma escritora norte-americana especialista em pesquisas deste tipo. O resultado de tanta pesquisa a transformou na maior escritora de biografias históricas da atualidade, incluindo também as vidas de Henrique VIII, Mary, a rainha da Escócia, e Maria Madalena. O livro sobre Cleópatra virou best-seller nos Estados Unidos, minissérie de TV pela ABC e já vendeu mais de 100 mil exemplares só no Brasil.

CASA DE PAPEL – o pequenino, mas não menos interessante livro do argentino Carlos Maria Dominguez, A Casa de Papel (Francis, 104 pg.), nos leva a uma misteriosa aventura literária pelo interior da América do Sul, mais especificamente o Uruguai. Um professor de literatura hispânica de Cambridge se vê a frente de um mistério: após a trágica morte de uma colega de universidade – atropelada enquanto lia um poema de Emily Dickinson – uma estranha correspondência, endereçada à finada professora, coloca em suas mãos uma versão de “A linha da Sombra”, de Joseph Conrad, incrustada de cimento. O estranho livro leva o professor a viajar em busca de respostas para tão curiosa cena. A viagem do professor revela minúcias do cotidiano uruguaio e nos leva, também, a uma viagem especial pelo mundo da literatura.

CLÁSSICO DO ANEL – claro que não poderia ficar de fora o clássico mundo de Tolkien, em O Senhor dos Anéis (Matin Fontes). O mundo mágico de magos e elfos e homens e hobbits, e as aventuras de cada grupo de personagens pela Terra-Média nos dá um gostoso roteiro para a viagem de férias. Os 3 volumes da trilogia do anel, além do incomparável O Hobbit (Martin Fontes), nos fazem passear pela nossa própria imaginação, seja visitando Valfenda (a terra dos elfos), seja enfrentando dragões ou uma das batalhas com orcs, seja ainda conhecendo os mistérios das florestas e seus inigualáveis protetores, os Ents. Viajar pela fantasia de Tolkien é uma das mais fantásticas formas de romper o tempo-espaço e conhecer o mundo de nosso próprio imaginário.

LEMBRANÇAS DE LOANA – e quando nossa viagem precisa ser em nossa própria memória? Quando precisamos encontrar em nós mesmo as lembranças que se perderam? Umberto Eco nos leva pelas trilhas de A Misteriosa Chama da Rainha Loana (Record, 456 pg.) e nos ensina a navegar em nosso próprio pensamento. Yambo, personagem central da trama, sofreu um acidente em que perdeu parte da memória, só mantém ativa a chamada memória semântica e automática – ele sabe tudo que leu sobre Napoleão ou Julio César e consegue citar trechos inteiros da Divina Comédia – mas perdeu a memória afetiva, o que constitui seu ser e sua própria história. Assim, a busca de Yambo é por suas próprias lembranças, de sua esposa e filhas, de sua infância, seu primeiro amor, seus pais… Por recomendação médica, ele viaja para a casa que foi de seu avô, no interior da Itália, e onde morou durante a infância. Lá, uma nova viagem começa a se organizar: por entre os livros e revistas, discos e quinquilharias que o avô colecionava, Yambo começa uma viagem em busca das lembranças de sua vida…

Ok, sei que tem muito mais. Esses são apenas alguns dos viajantes que a literatura nos oferece. Mas é interessante pensar que os viajantes continuam a nos levar consigo em suas viajens, através das narrativas dos livros. Seja pela fantasia, pela nossa realidade esquecida, seja ainda pela história e pelos lugares, ou mesmo pela literatura. Vijar é um previlágio… Aqui, nos livros, ou aqui, na vida.

Pra onde eu vou agora!? 😛

Enquanto Marmota não consegue ler nada em sueco, a série Colônia de Férias apresenta textos gentilmente preparados por seus amigos, pedindo desde já novas sugestões de leitura para enriquecer ainda mais esta lista.

Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. Parei de ler quando encontrei um viagem com “j”.

    MY EEEYYEEES, MY EEEEYYYEEEESS, IT BURNS!!!!

    Ops, problema do revisor aqui, que nao leu boa parte dos textos… Vamos corrigir!

  2. Ei, Luis, esse é o tipo de comentário que deveria ser feito por mail. Os erros não tiram o mérito da idéia da moça em falar nos livros de viagem. Pelo contrário, é muito raro hoje em dia alguém falar em Literatura, ainda mais em blogs, e se ela falou, é porque deve ter lido esses blogs, o que faz com que o mérito aumente.
    Lapsos acontecem. Corrigir é válido, condenar não.

  3. ha tempos deixei de ser uma visitante de livrariaas por pura e total falta de tempo.
    houve epoca que descobria livrs geniais, e as viagens pelas palavras sempre me seduziram.
    desses acima , somente já li o CASA DE PAPEL, e achei muito interessante.

    boas dicas…

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