Vai… Vai quem? Parte 6: cuide bem do seu ídolo

Eu poderia discorrer longos parágrafos sobre o eletrizante final de semana automobilístico e as duas mais tradicionais provas do mundo. Começando com o charmoso GP de Mônaco, onde a Ferrari fez Massa perder a chance de chegar ainda mais perto da liderança. Ainda viu Hamilton vencer e superar Raikkonen na classificação, além de aplaudir os dois primeiros pontos de Rubinho após longos meses de jejum (mas também, com tanto acidente…). Depois, as 500 Milhas de Indianápolis – que só fica boa nas voltas finais, ainda que a maioria dos brasileiros tenham ficado para trás.

Também poderia atender ao pedido da Tina e escrever um pouco mais sobre futebol. Mas ainda é cedo pra especular qualquer coisa. Tudo que podemos dizer é: no fim do ano, o Internacional poderá depender de uns seis pontos para conquistar o título, então vão lembrar das derrotas lamentáveis para Palmeiras e Flamengo. Ah sim, também dá pra garantir que o Corinthians vai subir com o pé nas costas – e se vencer o Sport na final da Copa do Brasil (vai, Sport!), terá uma nova chance na Libertadores antes mesmo do previsto.

Mas o domingo pertence a um outro personagem. Um jovem manezinho da ilha de Santa Catarina, que começou a jogar tênis graças ao incentivo de seu pai. Tinha oito anos de idade quando viu ele falecer. Levou mais seis para conhecer seu “segundo pai”: Larri Passos, que o levou ao profissionalismo no esporte em 1995.

Nos últimos dez anos, me arrisco a dizer que não houve atleta como Gustavo Kuerten. Quando conquistou o título de Roland Garros em 1997 aos 20 anos, vindo do qualifying e de maneira inesperada, ninguém jamais tinha ouvido seu nome antes. Ganhou capas de jornais, revistas semanais. Como qualquer candidato a ídolo no Brasil, recebeu do país aquela estranha expectativa de “ir além do que nós realmente podemos”, representado pela pressão por bons resultados.

Até o começo deste século, Guga conseguiu driblar o falatório dos corneteiros e algumas contusões. Entre 2000 e 2001, quando conquistou o Grand Slam francês outras duas vezes, conquistou o Masters de Lisboa e sagrou-se número um do mundo, estava em seu auge. Fenômeno que transbordou para fora das quadras: nunca se vendeu tanta bolinha, raquete, camisa… Nunca se viu tanta criança em escolinhas de tênis como naquela época.

Pude ver como a “Gugamania” mexeu com o tênis no Brasil por duas vezes, durante a mais vibrante competição do gênero: a Copa Davis. Em 2002, na repescagem entre Brasil x Canadá, a torcida carioca empurrou Guga e Meligeni nas duas primeiras partidas do Clube Marapendi; no sábado, em duplas, o catarinense jogou ao lado de André Sá e fecharam o confronto em 3 a 0. Era um ano complicado: após a primeira cirurgia, havia vencido apenas o Brasil Open, na Costa do Sauípe – ao contrário dos 11 nos dois anos anteriores.

Já nas quartas-de-final da Davis em 2001, Gustavo Kuerten estava em um momento bem melhor, e talvez por isso muito mais pressionado. O grandioso palco armado na avenida Beira-Mar, em Florianópolis, praticamente convidava o país a conferir a força de Guga e seus amigos a caminho da segunda semifinal consecutiva. E diante da Austrália, que havia massacrado o Brasil no ano anterior em Brisbane… Não tinha como perder.

Então Guga enfrentou Patrick Rafter, que desistiu contundido. Veio o Fininho, que como de praxe, lutou muito mas caiu. Foi contra Hewitt, que formou dupla com Rafter no sábado e não deu chances para Guga e Jaiminho (que, apesar de ser exímio duplista, infelizmente sacava mal pra burro). Para vencer o confronto, os brasileiros precisavam da vitória dos dois jogos no domingo. Guga levou dois sets ao tie-break, mas viu Lleyton Hewitt inspiradíssimo. O próprio australiano admitiu: “ainda bem que estava na casa do Guga: a pressão que ele sentiu me ajudou muito…”.

Foi um dos momentos ruins na carreira de Guga – a ponto dos brasileiros falarem coisas como “ih, esse aí não é de nada”. Calaram-se semanas depois, com o tri de Roland Garros. Mesmo na pior fase, conseguiu derrotar o imbatível Roger Federer em 2004 por 3 a 0. Em fevereiro, convidou aqueles que sempre o apoiaram para avisar: “não é que eu não queira jogar, eu até peço desculpas, mas é que realmente eu não consigo mais…”.

Enfim. Como qualquer um se diz jogador de futebol, é fácil revelar algum fenômeno ou mesmo escalar seleções de craques a qualquer época (dá até para enganar com algum perna-de-pau infiltrado). O crescimento do vôlei e nossa escola vencedora vem mantendo a excelência na quadra. Por outro lado, quando Senna morreu, ficamos ávidos por um novo fenômeno nas pistas – e ainda estamos até hoje. Nas piscinas, nos aparelhos de ginástica e em alguns ringues, temos a impressão que só um fenômeno pode nos salvar. Esperamos novos gugas surgirem espontaneamente para explorá-los até o limite. Então voltamos a nossa mediocridade de sempre, até alguém se dá conta: “não soubemos aproveitar melhor os nossos ídolos”.

Comentários em blogs: ainda existem? (4)

  1. Amizadinha é ótimo! Tenho que me lembrar de no próximo Love Live te chamar assim, Amizadinha…

    Lembro do Guga em campanhas como as do Teleton, mostrando junto com a mãe como eles lidaram com as necessidades especiais do irmão dele. Lembro também que ele namorou uma daquelas garotas de propaganda de cerveja que, como acontece com jogadores de futebol, depois começou a se alterar e querer aparecer mais que ele, que de fato era/é o ídolo.
    Aqui em Belém conheço pelo menos duas pessoas que jogam tênis: um bem antes do Guga e outro depois.
    Depois você me diz, porque não tenho certeza: o Guga tem uma daquelas escolinhas tipo a do Raí e do Leonardo, mas só que de tênis, pra ensinar crianças?

  2. Essa eu faço questão de contar aos meus netos: meninos, eu vi Guga. E tive a sorte ainda de vê-lo ao vivo, bem de pertinho, em um jogo do Masters de Toronto-2004. Inesquecível! Tem fotinho e tudo, hehehe!

    Monstro. Gênio. Mito. Único.

  3. Me lembro de ter visto Guga jogar pela primeira vez, já na final do 1 título, ainda na extina Manchete. Estava viajando, numa porcaria de um encontro de estudantes que só teve bagunça e cachaça… 😀 Depois de ver o jogo, foi que de uma vez por todas detestei o esporte… 😀 Não tive paciência de esperar tanto tempo pro jogo acabar. Sou mais futebol mesmo…

    Hehehehe… E é o Sport, rumo à Libertadores, mestre!

Vai comentar ou ficar apenas olhando?

Campos com * são obrigatórios. Relaxe: não vou montar um mailing com seus dados para vender na Praça da República.


*