Um dia perfeito no Rio de Janeiro

Por Marcos VP

Foi em agosto de 2005 – ou seja, há mais de 3 anos – que eu cometi um post chamado "um dia perfeito no Rio de janeiro". Os motivos que me levaram a escrevê-lo já se perderam no tempo e no final das contas, muita água já passou por debaixo da ponte. Eu fui e voltei de Brasília, os governantes não são os mesmos, eu estou 3 anos mais velho e muitos mais feliz e tranqüilo.

Mas, convidado a reescrever a historieta, lembro que o mote do post era o seguinte: em recebendo um amigo paulista que ia passar apenas um dia na cidade, para onde eu o levaria? O que faríamos? quais seriam os programas? Bem, relendo o que escrevi, percebo que muito pouco ou nada mudaria. As mudanças ficam nas notinhas entre parênteses. Vejamos:

1. A primeira missão seria pegar o camarada no Aeroporto Santos-Dumont, claro, que é um lugar agradável, charmoso e ainda por cima é a parte do Rio mais próxima de alguma civilização que eu conheço (em 2005, ele ainda não estava reformado, ampliado e um tanto menos charmoso…).

2. Do aeroporto, que fica no centro da cidade, embicamos para a Tijuca, passando pela turística Av. Presidente Vargas. O destino é um café da manhã tradicional, ou seja: no balcão da padaria. Afinal, a maior colônia estrangeira no Rio é de portugueses, e tudo o que é português é tradicionalmente carioca. A padaria Frontal da Tijuca serve a melhor média e pão-com-manteiga da cidade. Eu, besta que sou, peço misto-quente no pão francês, aquele mesmo que os gaúchos chamam de cacetinho. Deleite-se com o mau humor da Sônia, a balconista. Diga a ela que ela engordou um pouquinho. É, sacanear os outros é a cara do carioca. (três anos depois, não sei se a Sônia ainda está lá. Contudo, hoje, é possível que eu dissesse ao sujeito para desembarcar no Tom Jobim/ Galeão e o levaria para minha casa, que fica a 5min do aeroporto internacional. Perto de casa tem uma padaria muito melhor que a Frontal, a Majestosa, que tem um café-com-leite e misto-quente impecáveis.)

3. Depois de comidos, é hora de gastar as calorias. A pedida é um passeio na Floresta da Tijuca, um lugar impressionante e bucólico. A gente vê os quatis, os caxinguelês, as cobras, cambachirras e bromélias, sente o vento fresco, artigo de alto luxo na cidade. Não esquecendo de tomar um Chicabom, o mais carioca dos picolés, imortalizado por Nélson Rodrigues em "Os sete gatinhos". (Tem sido um pouco temerário andar pela floresta da Tijuca ultimamente. Mas eu acho que arriscaria o passeio mesmo assim.)

4. Saindo da floresta, a gente desce o Alto da Boa Vista em direção à Barra da Tijuca, para que seja possível conhecer um dos lugares mais bonitos da cidade: a Auto-Estrada Lagoa Barra. Em São Conrado, toma-se a Niemeyer e depois percorre-se a orla da Zona Sul, do Leblon ao Leme. E pronto. Conhecemos todas as praias do melhor jeito possível: dentro do carro, no ar-condicionado e de preferência ouvindo o CD "Virgem" de Marina Lima. 5. Hora de almoçar. A dúvida cruel é entre o chope geladíssimo e perfeito do Bar Luiz, no centro, ou a feijoada do Bar do Mineiro em Santa Teresa. Escolhemos o Mineiro, porque feijoada é a comida carioca por excelência. Declinamos do chope e pedimos uma Bohemia capa branca, ou mofada, como alguns dizem.

6. Hora de jiboiar. Vamos para casa, cochilamos, tomamos banho, conversamos um pouco, brincamos com as crianças, colocamos as crianças para dormir e voltamos para a rua. O destino é o Arab do Parque dos Patins da Lagoa Rodrigo de Freitas. Sentamos para tomar a fresca e dar um grau que a noite é uma criança. Se rolar fominha – acho difícil – peça o quibe de catupiry. A Bohemia Weiss também é boa pedida. (Morando na Ilha, esse programa fica meio prejudicado. Mas va-lá, turista vem mesmo ao Rio é pra ficar na Zona Sul.)

7. Saímos da Lagoa rumo à Lapa. O programa: show de Alceu Valença na Fundição Progresso. Tá, Alceu é pernambucano, dirão os puristas. Por que não assistir ao carioquíssimo Monobloco no tão carioca quanto Circo Voador? porque, tradição por tradição, o show do Alceu acontece anualmente na cidade há muito mais tempo que o do Monobloco. (Uma opção tradicional é assistir a algum jogo de futebol no Maracanã.)

8. Saindo do show, é hora de perambular pela Lapa atrás de uma Devassa ruiva (não, não é você, Carol…), a cerveja da moda. Os amantes do samba esticariam no Carioca da Gema. Eu talvez entrasse no Teatro Odisséia para curtir a festa Brazooka do Janot, só para ver a minha Lontra com olho brilhando. (Três anos depois, a Lapa anda menos charmosa e insuportavelmente lotada de gente. Mais ainda é o programa).

9. Madrugada. Resta fôlego para mais uma cerva? então vamos ao Bracarense comer bolinhos de bacalhau. Ah, uma dica: fuja dos bolinhos de aipim, em qualquer lugar do Rio, mesmo que lhe garantam que é bom. Não acredite. Abaixo de Salvador não existe aipim que preste. (Um detalhe é que, há três anos, a lei seca ainda não era esta que aí está. E eu mesmo, pessoalmente, ainda bebia. Hoje, fico só na água, suquinho, mate e essas coisas de criança – ou velho.)

10. Amanheceu. Passar na farmácia para comprar Engove e desovar o paulista no aeroporto. Da capo al fine.

Enquanto Marmota passa por dias perfeitos descansando e viajando, a série Colônia de Férias apresenta textos gentilmente preparados por seus amigos.

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