Torcendo com o inimigo

Mais um jogo do Colorado na capital paulista: duelo com o São Paulo, até então segundo colocado no Campeonato Brasileiro. Programa imperdível para o final de semana, ainda mais ao lado dos amigos. Como é o caso do Ricardo Osiro, já citado aqui no MMM diversas vezes.

Morador do Butantã, Osiro cresceu ouvindo a Torcida Independente sacudir as arquibancadas do Morumbi, transformando-o num tricolor. Nos últimos dez anos, ele tentou a todo custo tornar-me ao menos um aficcionado pelo São Paulo – até camisa eu ganhei de presente, coisa que Osiro fez questão de lembrar no último sábado.

– Vamos ficar na arquibancada azul! Venha com a sua camisa!

Poderia escolher entre a torcida colorada ou ao lado do Osiro. Optei pela segunda opção, claro, sem a camisa do São Paulo. Tudo bem. Para quem já tinha acompanhado Corinthians x Inter no Pacaembu ao lado da fiel gritando “gaúcho viado” na orelha, não haveria problemas em me infiltrar, discretamente, entre os tricolores.

Antes da pelada propriamente dita, outras quase nesse estado pintaram no gramado: eram os times formados pelas modelos da agência Mega Models e pelas coelhinhas da Playboy. A exigente torcida não quis saber: avacalhou a presença do “traveco” Léo Áquila como árbitro, além de ensaiar o grito “ei, Sabrina, vaitomanukú”, referindo-se a ex-BBB.

Nada de futebol enquanto as beldades corriam atrás da bola – aliás, elas não estavam ali para isso mesmo. Tanto que o lance mais “empolgante” da partida ocorreu quando uma das modelos mandou a bola para a linha de fundo. Ao cobrar o escanteio, a camisa nove das coelhinhas se abaixou para ajeitar a bola, mostrando toda a sua “capacidade” para a torcida. Daquele minuto em diante, todos torciam por mais escanteios…

Pois bem. A partida que valia começou e, pouco a pouco, os são-paulinos começaram a desejar o retorno das modelos: de um lado, um Inter bem postado, sem deixar o adversário jogar. Do outro, jogadores nitidamente desatentos, deixando a torcida enfurecida – Kaká e Fábio Simplício foram os mais criticados.

O jogo estava perfeito para mim, mas não podia esquecer: estava em território inimigo. “Esses cururus não conseguem chegar no ataque”, gritava, demonstrando algum apoio e solidariedade ao time do Osiro. Finalmente, aos três minutos do segundo tempo, Wilson, ex-zagueiro do São Paulo, fez 1 a 0 para o Inter. Segurei o grito de gol e mandei outra frase, bem alto: “mas que bobeada da defesa”.

Aos poucos, o pouco apoio que restava ao São Paulo foi mudando. Gritos de ordem contra Kaká, Simplício e Júlio Santos aumentavam. No banco, o técnio Rojas tentou reverter as coisas com a molecada – Diego Tardelli, Kléber e Marco Antônio. Mas o piá que surgiu foi outro: Nilmar, que arrancou pela direita, chutou cruzado e viu a bola entrando de mansinho.

– Chega, cansei desse joguinho. Vamos embora? – disse Osiro, inconformado.

– Peraí, vai que o São Paulo melhore… – retruquei. Claro, afinal eu estava gostando!

No final do jogo, o goleiro Rogério Ceni ainda tentou levar o seu time ao ataque. Aliás, Rogério e o técnico Rojas foram os únicos poupados pela torcida, que gritava “olé” a cada toque de bola dos colorados. Claro que eu reforcei o coro, assim como na saída: “ero ero ero, time de pipoqueiro!”.

Esta edição do Plantão Marmota é uma homenagem ao meu amigo Bentão, assim como o Osiro, um feliz são-paulino. Ou quase.

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  1. Marmota,sou carioca, mas morei em São Paulo um bom tempo. E sempre gostei de futebol, apesar de ser menina. Ia ao Maracanã desde os 7 anos de idade, toda uniformizada e de maria-chiquinha no cabelo. Na época em que eu morava aí, a definição que os próprios paulistanos me deram sobre a torcida do Tricolor era a seguinte: é formada por japoneses, mulheres (por causa do Raí, ou do Kaká, ou o galã da época), e travecos (também pelo mesmo motivo que as mulheres). Tive vários amigos vasculhando a árvore genealógica em busca de um ancestral samurai. 😀

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