Sua bicha! Retire meus comentários!

A blogosfera, assim como qualquer comunidade virtual, é um reflexo do nosso povo. Essa turma desembarca na Internet graças ao processo de “inclusão digital” (?) que se limita a colocar um computador conectado na frente do sujeito.

Um desses “internautas-padrão” passou por aqui e deixou um comentário no dia 22 de março de 2004. Dois anos depois, ele entra no mesmo post (provavelmente chegou nele via Google) e pede para que eu remova o comentário. Claro que não vi o pedido – teria sido muito mais inteligente se mandasse um e-mail. Como percebeu que eu não dei bola, decidiu acrescentar outro recado, no mesmo lugar: “sua bicha, retire meus comentários”.

Descobri esse último por acaso, na segunda. Dei risada e, contrariando minha habitual falta de tempo, decidi mandar um e-mail simpático.

Tudo bem, meu querido?

Veja só: acredito que você, como tem um blog e um fotolog, sabe como essas coisas funcionam. Assim: normalmente você publica um texto ou uma foto nova, e os textos antigos acabam caindo nos arquivos. Que são páginas pouco acessadas, que ninguém vê - muitas vezes nem mesmo o autor do blog consegue enxergar.

É o meu caso em relação ao link onde aparecem seus comentários. Repare numa coisa: a data é 22 de março de 2004. São mais de dois anos.

Seu primeiro comentário: "Poxa! Nunca entrei em um blog tão completo quanto o seu. Parabéns!", que aliás agradeço muito, é do dia 23 de março de 2004.

De repente, surge um comentário assim: "Retire meu comentário, por favor!". Publicado em 11 de abril de 2006. Mas no mesmo lugar! E eu admito: não vi o que você escreveu!

E eu pergunto a você: se alguém entrasse no seu blog ou flog em tempos remotos, e lhe pedisse pra retirar um comentário, você ia encontrar o pedido?

Enfim, nesta segunda decidi checar de uma vez todos os comentários perdidos nos arquivos. Encontrei aquele seu primeiro, o segundo (pedindo para retirar) e outro, assim: "Sua bicha, retire meus comentários.".

Olha, teria sido bem mais interessante mandar um e-mail, mostrando a data, o que você escreveu, essas coisas. Pela razão que eu te expliquei: nem todo mundo conversa com arquivos de blogs, mas sim com o próprio blogueiro.

E fica como sugestão para outros contatos, com outras pessoas que encontrar na web: o espaço de comentários normalmente funciona como um fórum de discussões, limitado ao assunto do post. Dificilmente seria visto de outra forma. Antes de fazer qualquer pedido, veja se o site possui algum e-mail para contato. Seu retorno é muito mais garantido, e você não faz papel de bobo.

Não demorou para vir a resposta educada.

Pra quê mandar tantas explicações? Só quero o comentario fora do seu blog. Tive que te chamar de bicha pra você atender.

***

Devia ter aprendido a não perder meu tempo com qualquer cururu. Até porque, não foi a primeira vez. Em 2003, apareceu por essas bandas um desocupado. Da primeira vez, comentou algo como “cara… Você escreveu tanto que me deu sono. E fiquei duas horas esperando o seu site abrir”. Em outra aparição, ele foi mais longe: “seguindo o seu conselho, li os seus escritos. Não, é muito dizer isso. Apenas dei uma passada de olho. Para ser sincero, não me agradou. Mas nada pessoal. Sinceramente, também não sou referência… Esses blogs parecem vários mundos kafkanianos. Tudo muito absurdo. Às vezes, devo dizer, parece orbitar em torno de um mundo egocêntrico e simplório”.

Novamente, mandei um e-mail simpático, agradecendo a visita e etc. O retorno do sujeito foi impublicável. Ainda tive a paciência de escrever uma última mensagem, dizia basicamente: ninguém é obrigado a gostar de tudo, e quando algo não agrada, é só não dar bola ao invés de criticar por criticar – especialmente se isso não mudar em nada o curso da história.

A última bobagem do cara é muito interessante. Guardei porque dificilmente vou encontrar algo parecido.

Eu não fiquei irritado com o que você disse. Sou uma pessoa de cabeça fria. Apenas queria brincar contigo. Mas sei que os meus escritos são fortes. Muitas vezes mal compreendidos. Quando escrevo, meu caro marmota, escrevo sibilando tal qual um réptil. Apesar de ser mais velho que você, fique frio, sou uma criança. Para ser sincero, adoro a imaturidade. Ser adulto não presta, acredite.

Concordo com muitas coisas do que você disse. Apenas discordo de poucas. Entre as que discordo está o fato de você achar que devemos nos silenciar diante de algo que não gostamos. Realmente não acho. Você, por exemplo, deveria ter dito no meu blog (algo que já tá morto, pois foi diversão passageira), enfim, deveria ter dito que ele é uma merda ou algo parecido. Isto me faria rir do mesmo modo que estou rindo agora. O que tem demais numa critica destrutiva? Você, quando publicou algo, deu a cara para bater! Isto é normal. Apenas use a sua inteligência para crescer, aprender ou, caso seja, criticar o seu oponente. O que tem de tão cruel nisto?

Pode ser cruel para quem não gosta de usar a inteligência. E acredite, meu caro, uma critica destrutiva irá fazer seu cerebro funcionar! Enfim, vejo todo esse processo como um excelente aprendizado. Vou dizer exatamente o que aconteceu. Entrei no seu site e escrevi algo que não me lembro. Você respondeu algo que me foge a memória. E eu retornei com uma resposta que não sei nem o começo.

Fique frio. Estou apenas curtindo. Peço desculpas se fui muito duro contigo, mas sei que você pode aguentar. Não só, como responder a altura.

Vamos fazer o seguinte... Entre qualquer dia no meu blog em decomposição. Depois de ler, gostando ou não, irá descobrir que na verdade eu sou um grande moleque. Você deve fazer esse sacrifício, afinal eu fiz o mesmo. Li o que estava escrito logo na frente do seu site! Isto foi torturante, mas cheguei vivo até o fim. Fique frio! Eu sinto simpatia por você, e falo com sinceridade!

***

A verdade é que tem muita gente bacana, disposta a conversar e debater assuntos pertinentes e, por tabela, produzir conhecimento. Mas isso vai acontecer lentamente, tudo porque ainda existem imbecis que não acrescentam em nada, ficam conversam com arquivos – e que, pra piorar, certamente não pensariam duas vezes antes de mandar fotos de amigas em situações íntimas pelo orkut.

Aliás, a selvageria em uma faculdade (?) por causa dessa história merece um capítulo extra.

***

A propósito do “Internet não é tecnologia, são pessoas”, estou com uma vontade enorme de meter meu bedelho em um dos topos da agenda setting desta semana: a força dos blogs como ferramenta de conversação – assunto que o Hernani Dimantas passa a vida insistindo tanto online quanto em livro, e que foi devidamente explorado – e de maneira brilhante – pelo Fábio Seixas, Bruno Torres e Henrique Costa Pereira (clique e leia tudo). Infelizmente, abril está longe de ser o mês mais sossegado da minha vida. Assim, o assunto vai para a pasta “em breve”.

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (10)

  1. Eu diria mais, me atrevo a disser que o André misteriosamente pode ser um dos inventores da pacienciaaaaaaaa.
    ahhahahahahahahaaaa.
    abração

  2. André, você deveria comprar um bolinho de passagens com destino à merda e sair distribuindo para todos os malas que aparecem por aqui.

  3. Tambem acho que meu comentario foi tosco se bem que esse que acabei de escrever é mais tosco ainda então façamos o seguinte deleta tudo e não deixa mais ninguem postar nada, monopoliza o blog de vez ahahahahaa.
    PS: Delete esse comentario assim que o ler ahhahahahahahaaaa.

  4. Vejo que um um texto comprido fica fora da camisa de força que tentam aplicar aos blogs, com as recomendações de texto curto, por conta dos usuários. O blog é uma expressão de liberdade. Ninguém é obrigado a nada. E ficou imprescindível colocar todas estas informações neste post. Meu blog é muito pouco lido, mas os que lêem enchem de alegria meu coração porque não são meus escravos e têm opinião própria e me respeitam. O blog é seu, ninguém pode se apoderar porque gosta deste ou daquele jeito. Eu mesmo leio o que quero: isto é uma escolha pessoal. E é fácil fazer uma leitura dinâmica. Não sei pra quê este tipo de gente existir. Não têm senso do ridículo e chegam a dar pena. Hoje, eliminei um comentário pra lá de irônico e num tom destrutivo. Existem tantas formas de se falar algo (fui longo!)Boa semana.

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