A pergunta não é minha, mas sim do Pedro Dória, do No Mínimo: “aqui na rede existe este instrumento fantástico para quem quiser fazer imprensa com as próprias mãos. Contribui ainda o fato de que a imprensa brasileira diária tende, ultimamente, a ser meio chatinha. Então por que são tão poucos?”, referindo-se a blogs com viés jornalístico.
Segundo ele, alguns países do mundo servem de parâmetro. O primeiro, mais evidente, é os EUA, nação que já viu blogueiros credenciados para a cobertura das eleições presidenciais. Na terra sem lei de Bush, os blogs vão aos poucos ocupando espaço que pertencia apenas aos grandes grupos – como conta Dan Gillmor – autor do livro We the Media e provavelmente o norte-americano mais empolgado com a idéia de que qualquer cidadão pode virar jornalista.
Mais do que isso: blogs estão se transformando em ferramenta de negócio – como conta Hugh Hewitt, um dos blogueiros mais “influentes”, em seu novíssimo Blog : Understanding the Information Reformation That’s Changing Your World.
Não se sente à vontade com o inglês? Tudo bem: Pedro Dória refere-se ainda a Portugal – país que mergulhou de cabeça na brincadeira. Fez encontros nacionais debatendo o potencial, viu políticos influentes criarem suas publicações, pessoas comuns criarem seus espaços politizados… Perceberam que a troca e proliferação de idéias pode ir longe com esse negócio.
Sobre a terrinha, pincei do Inagaki este verdadeiro achado: os 25 Momentos na História da Blogosfera. Cujo item final, sobre o futuro, dá pistas sobre a pergunta do Pedro Dória: “se a blogosfera se quer constituir como um espaço alternativo de discussão das questões que, de uma forma ou de outra, tocam a todos, então é preciso fazer depender a sua influência e pertinência da legitimidade que só a maior diversidade possível de vozes e pluralidade de pontos de vista confere”.
Pois bem, e por que isso não acontece no Brasil? Meu ídolo Raphael Perret opina, sob a ótica financeira: “falta de recursos, tempo, dinheiro etc., muitos são os problemas. A meu ver, quando houver mais investimentos na produção de conteúdo através da utilização dessa ferramenta, o que é incomum já que blog ainda é visto como coisa de adolescente, teremos algum progresso”.
Vou jogar aqui mais duas questões que, juntas, podem complementar uma resposta simplista. A primeira é simples: quantas pessoas sabem mesmo o que é um blog? Pessoalmente, sempre pensei que só quem mantém um sabe a resposta. Os outros provavelmente ainda aparecem com o papinho de “querido diário adolescente”. E com alguma razão, já que a mídia perde a chance de explicar ao público o que é um blog quando tem a chance. Exemplo da semana: a entrevista da Ruth Lemos no Programa do Jô.
A segunda questão, novamente emprestado da coluna do Pedro Dória: quantos bons blogueiros estão definitivamente interessados em adotar essa postura informativa? Concordo com a afirmação de que as redes formadas pelos blogs brazucas são mesmo como “uma grande conversa de bar”, tal qual fora da web. Vou mais longe: se no dia-a-dia o povo prefere jogar conversa fora no boteco e deixar o barco correr, quem é que vai querer perder tempo bancando o jornalista? Deixa a blogosfera virar Brasil também, e desce mais uma aí.
Será que só isso explica o nosso, digamos, comodismo? Ou, como diria Pedro Dória, “é um mistério inexplicável”?
(Postado em 09/05/2005. Quase três anos depois, o mesmo assunto voltou ao debate, por conta da mesma voz. O que mudou no discurso de lá para cá?)
Então… acredito que eu não tenha um blog por não ter vocação. rss
Já tive vários, mas sempre me cansava deles ou ficava sem tempo de atualizar. Inclusive, existe um meu por aí perdido pela net totalmente abandonado, coitado.
Às vezes tenho até vontade de continuar com o meu, ou mesmo inventar outro, mas receio que este acabe como os outros.
Talvez eu tenha te ajudado a achar uma resposta.
p.s.: Coloquei o link do meu blog para que você veja como os meus costumam acabar…
Acredito que o Doria realmente espere uma grande revolução, mas na verdade há bons blogs jornalísticos no Brasil. A grande questão é que geralmente os blogs não se limitam apenas a serem jornalísticos e esse é seu diferencial. Acompanhar o Nobalt e o Idelber Avelar traz várias informações, opiniões de quem está próximo do cenário político internacional e nacional.
Não acho que a situação está tão ruim como ele aponta, mas é claro que blogar no Brasil ainda é uma atividade que demanda muito tempo e que muitas vezes não tem o retorno esperado pelos bons blogueiros, além disso os inúmeros casos de plágio, a falta de discussão desmotivam.
Acredito que é mais fácil que um jornalista/blogueiro seja contratado por um grande portal para poder se dedicar inteiramente a apresentar furos como propõe o Doria.
Aqui falta um Q que é a questão principal, pelo menos do meu ponto de vista. Na educação brasileira não somos instigados a questionar, nem a escrever como forma de expressão desse questionamento.
Daí implicam duas coisas: escrita ruim e dificuldade em manter discussões/conversações. E esses elementos são essenciais num blog.
Por isso, tenho notado que muitos dos melhores blogs são do pessoal das humanas. O pessoal do jornalismo, das ciências sociais, publicidade, etc, já tem na veia esses elementos.
Um outro ponto de vista que acho incorreto é ficar falando dos blogs e da blogosfera como se ela fosse uma coisa só. Visto deste modo, não há como ter credibilidade, pois a maioria não objetiva essa credibilidade que ele aponta. Nem nos EUA. Lá 52% dos blogs são SPLOGS!!!
abraço
Tenho várias entradas (entry e post não são tecnicamente a mesma coisa) a respeito da blogosfera.
Sou pesquisador em Ciências da Comunicação pela UNISINOS (São Leopoldo/RS) e minha dissertação de mestrado apresenta como seu objeto-tema o blogring formado pelos blogueiros gáuchos de esquerda que fazem parte do blogring Sivuca, do jornalista Luiz Carlos Azenha.
Embora haja na web uma porrada de blogs sobre todos os assuntos possíveis, parece que grande parte dos blogueiros assumidamente profissionais e interessados em “monetizar” seus blogs preocupa-se mais com o uso de ferramentas e com o domínio de métricas que possam angariar mais patrocínio e obter mais acessos. Diga-se de passagem, isso não é nada condenável.
Da mesma forma, também não considero negativa a proliferação de blogs de colunistas tradicionais de rádio, TV, jornais e revistas. No entanto, quando o tema é política e economia, independentemente da competência técnica, da experiência e da ideologia de qualquer um, só não vê quem não quer que a pesquisadora estado-unidense Rebecca Blood tem razão no seu radicalismo quando afirma que os comentários são o coração de um blog.
Sendo assim, os donos dos blogs políticos que estão dentro do guarda-chuva de uma corporação de mídia costumam negar a função da ferramenta ou por ignorância ou por um explícito desinteresse pelo debate procedendo de uma das três formas a seguir: 1) Ou não permitem comentários; 2) Ou publica somente os comentários que os elogiam ou que concordam com a sua visão de mundo; ou, ainda, 3) Publicam pouquíssimos comentários recebidos contrariando o seu ponto-de-vista, respondendo-os com grosserias e com um simplismo autoritário, generalista e repetidor de um discurso único, incapaz de produzir diferença social através de uma informação de qualidade.
Pelo menos os blogs que estou acompanhando dão a cara a tapa e argumentam com recursos factuais e racionais melhor elaborados.
Pessoalmente, desde que tenham como traduzir o discurso de quaisquer outros campos sociais (político, econômico, jurídico, médico, esportivo, científico, religioso, militar, etc.) utilizando-se da mesma competência técnica que o campo social da mídia utiliza para tornar qualquer mensagem inteligível e atraente para a sociedade laica, sabendo checar a veracidade dos fatos e evitando esconder a outra face da moeda (coisa que todo e qualquer veículo da mídia corporativa faz porque jamais detonaria um político ou empresário que lhe financia ou que facilita a sua expansão física, geográfica e financeira), não é necessário ser jornalista para fazer jornalismo.
Sendo agora bastante emocional, o jornalismo brasileiro é um LIXO. Poucos têm autonomia para investigar, para dizer o que sabem e, acima de tudo, para evitar que metade da história seja varrida para baixo do tapete pelo pessoal do “aquário”. Muitos jornalistas querem apenas que seu produto seja consumido e, ao invés de preferirem ser bem aceitos e elogiados pelo seu leitor ou ouvinte, consideram-no como um HOmer Simpson e consideram-se popstars ou donos da verdade.
O papel social que deveria ser exercido pela mídia corporativa está, aos poucos, sendo incorporado pelos blogueiros verdadeiramente comprometidos.
No mais, sugiro que leiam as pesquisas do Pew Internet (que são críveis) sobre a blogosfera dos EUA, com diversas métricas qualitativas que geram conclusões a respeito da credibilidade dos blogs.
Os blogs de esquerda, no Brasil, incomodam muita gente. Do contrário, seriam pouco lidos ou a mídia corporativa jamais estaria preocupada em veicular campanhas publicitárias e matérias contra blogs e blogueiros.
Por favor, sugiro que discutamos também através do viés que proponho:
http://heliopaz.wordpress.com/2008/02/07/blogs-cenario-nos-eua-e-perspectivas-para-o-brasil-i/
http://heliopaz.wordpress.com/2008/02/14/por-uma-ampla-investigacao-multitudinaria-na-blogosfera-brasileira/
http://heliopaz.wordpress.com/2008/02/14/obama-x-hillary-clinton-na-blogosfera/
http://heliopaz.wordpress.com/?s=midiatizacao
[]’s,
Hélio
Na conversa de bar também rola papo sério…
Não gostaria de ter um blog exclusivamente informativo, me cansaria e tiraria o ânimo…
Mas, entre uma cerveja e outra, o papo sério da vez pode aparecer… ou não!
Oi, meu nome é Eduardo sou argentino (algum defeito tenho que ter…;-) e moro no Brasil faz um tempo (desculpas pelos meus erros de português por favor).
Na blogosfera argentina existe uma discussão similar. Em janeiro num blog começou um debate lanzado por um deputado federal sobre o canon digital na Argentina, foi uma das poucas vezes em que a blogósfera esteve antes que a midia.
O fato é interessante já que toda a blogósfera argentina esteve movilizada. A idéia de gravar (com “v”) com um imposto os cds. dvds. pendrives e tudo aquilo onde pode se salvar arquivos que tenham direitos autorais (mp3 sobre tudo) foi duramente criticada.
Esse imposto já existe na Espanha e faz com que qualquer um desses dispositivos (pendrives, ipods, etc. )sejam muito mais caros lá que em outras regiões de Europa.
Existe uma pergunta sobre cómo articular a raiva de muitos blogueiros com a populaçao. Embora o possivel imposto afete a todos os que os compramos o fato é que desse jeito todos seremos “piratas” não importa que o cd virgem seja para salvar as fotos das ferias o a primeira comunião do caçula…Todo tera um imposto já que pode ser usado para salvar arquivos com direitos autorais.
Em:
http://labarbarie.com.ar/2008/el-proyecto-de-gravamen-a-la-copia-privada/
Está o primeiro post lanzado pelo deputado federal para debater o assunto (é todos os xingamentos que receveu…)
Algo mais em:
http://partido-pirata.blogspot.com
Vamos ver como segue essa história.
Outro fato importante dos blogs na Argentina foi o intento de censura dos grandes grupos da midia no “Personal Fest” festival de música com o patrocinio da companhia de celulares Personal (algo assim como a Vivo da Argentina) no evento teve um cara esfaqueado no primeiro dia (eram dois dias de festival) mas a midia só informou do assunto quando o evento tinha acabado para não afugentar aos que iam ao segundo dia.
Nesse caso a censura foi porque Personal é uma empresa que coloca muita publicidade é não queriam perder ela.
Mais informação em:
http://www.20palabras.com/ultimo-momento/personal-fest-con-incidentes/
http://personalfestdesastre.blogspot.com/
Aparecierom nos blogs incluso filmações com corridas, cenas de pânico, mas na grande midia só quando acabarom os dois dias do festival colocarom a informação.
Saudações.
Eduardo.
(mais sobre a censura no Personal Fest em: http://partido-pirata.com.ar)