O ano passado começou com especulações a respeito de blogs e mídia, se a ferramenta poderia substituir ou complementar o jornalismo (nos próximos dias, você verá mais sobre isso por aqui). No entanto, 2003 terminou com uma pergunta ainda mais intrigante: seriam os blogs algum tipo de literatura?
Se levarmos em conta a quantidade de blogueiros que publicaram seus livros recentemente, provavelmente a resposta seria sim. Mas a discussão vai além. A Raquel Recuero levantou uma série de questões, que certamente precisariam de um simpósio (ou uma noite no bar) para serem respondidas: “O que é literatura? Qualquer coisa publicada? Qualquer coisa publicada por uma editora? Qualquer coisa que alguém diz que é literatura? Acredito que essas perguntas precisam ser respondidas antes que se invalide a idéia de que um blog possa ser, sim, literatura”.
As perguntas da Raquel foram parar no blog de Crawford Kikian, um dos maiores especialistas dessa coisa que, a grosso modo, podemos chamar de “webwriting”. Segundo ele, os blogs podem, sim, ambicionar esse status.
Falando nisso, férias é tempo de ler, e ler muito. A começar pelo Filho do Hipnotizador, do Dennis. Já seria leitura obrigatória, não fosse um detalhe que me deixou muito feliz: “No meu livro… há um conto dedicado a você. Pronto, dei minha colaboração para que o seu nome perdure por muitas e múitas décadas!”. Sensacional!
Ele aproveita para esclarecer, antes que alguém pergunte: “não há qualquer semelhança entre o enredo dos meus contos e a vida das pessoas que receberam as dedicatórias. Aliás, eu só crio personagens malucas, gente esquisita ao cubo, que vive situações bizarras. Já pensaram se o povo resolve achar que fulana, amiga nossa, é realmente uma anã bailarina? Ou que sicrano é um deprimidíssimo maquiador de defuntos? Ou, ainda, que aquela outra nossa conhecida gosta de matar criancinhas? Isso para não falar no marquês que mergulha nas mais chocantes loucuras sexuais, e na dona de casa que encontrou uma culta empada falante… dentro de sua prosaica geladeira. Esse povinho só existe mesmo nos domínios da ficção, fiquem sossegados”. Ficou com vontade de ler, né?
Depois desse, minha meta é O Cabotino.
Não faltam escritores blogueiros e blogueiros escritores. Na verdade, o blógui é apenas um veículo, como o próprio livro. Nem todo livro contém literatura (há os livros técnicos, didáticos, panfletários…). Acho que é por aí.
O trigo se perde entre o joio, mas vale a pena procurar. Tem muita gente boa que só procura uma oportunidade de publicar um livro e, enquanto isso, vai mandando ver nos blóguis.
É isso. Abraços e bom 2004!